Vejo em certas imagens (por exemplo o mar que reflecte os raios oblíquos do pôr do sol em fim de tarde), em certas passagens musicais (por exemplo da banda sonora de Good Bye Lenin), ou em certas peças de prosa (por exemplo Pessoa, abaixo), marcados aspectos de poesia.
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Há um significado subtil nas coisas, uma analogia grotesca entre as suas almas perante a qual a nossa razão treme. Mas nas faculdades superiores do homem é ainda o instinto que predomina - elas são ainda instintos - e alguns dos homens chamados loucos, ou talvez maníacos e sonhadores, vêem as coisas na intimidade da sua essência e por isso sofrem amaldiçoados. Quando um pobre maníaco tem medo da maçaneta de uma porta; quando outro desmaia ao ouvir pronunciar ou ao ver escrita uma determinada palavra, ou ao sentir determinado odor, quem sabe se ele não vê mais do que os outros homens, penetrando na alma dessas coisas? (...)
Decerto uma maçaneta de porta, ou qualquer palavra que se pornuncie ou escreva, ou qualquer cheiro não é, tal como o vemos, algo que provoque medo. Se uma pessoa encontra nisso algo que recear, é óbvio que o vê de modo diferente de nós. Respondereis que a diferença está na pessoa, que o objecto tal como ela o vê está nessa pessoa? Eu riposto que da mesma maneira o objecto tal como nós o vemos está em nós. Prova-o a ciência, prova-o o raciocínio. Cor, peso, luz, som - tudo é relativo. Forma, tempo, espaço - são também relativos. Não existem coisas, mas coisas sentidas.
Alexander Search, A Porta
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