28 abril, 2010

Retirado do contexto #114

Sant Jordi

Palavras minhas


EPIGRAMAS

Te doy, Claudia, estos versos, porque tú eres su dueña.
Los he escrito sencillos para que tú los entiendas.
Son para ti solamente, pero se a ti no te interesan,
un día se divulgarán tal vez por toda Hispanoamérica...
Y si al amor que los dictó, tú también lo deprecias,
otras soñarán con este amor que no fue para ellas.
Y tal vez verás, Claudia, que estos poemas
(escritos para conquistarte a ti) despiertan
en otras parejas enamoradas que los lean
los besos que en ti no despertó el poeta.

Cuídate, Claudia, cuando estés con-migo
por que el gesto mas leve, cualquier palabra, un suspiro
de Claudia, el menor descuido,
tal vez algun día lo examinen eruditos,
y este baile de Claudia se recuerde por siglos.
Claudia, ya te lo aviso.

De estos cines, Claudia, de estas fiestas,
de estas carreras de caballos,
no quedará nada para la posteridad
sino los versos de Ernesto Cardenal para Claudia
(si acaso)
y el nombre de Claudia que yo puse en esos versos
y los de mis rivales, si es que yo decido rescatarlos
de olvido, y los incluyo también en mis versos
para ridicularizarlos.

Otros podrán ganar mucho dinero
pero yo te he sacrificado ese dinero
por escribirte estos cantos a ti
o a otra que cantaré en vez de ti
o a nadie.

Al perderte yo a ti tú y yo hemos perdido:
yo porque tu eras lo que más amaba
y tu porque yo era el que te amaba más.
Pero de nosotros dos tu pierdes mas que yo:
porque yo podré amar a otras como te amaba a ti
pero a ti no te amarán como te amaba yo.

Ernesto Cardenal
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O despeito soa sempre como o fado do ciúme... em qualquer língua!

27 abril, 2010

Espantos #244

Espectaculares novas imagens (e video) do sol, com resolução dez vezes superior à da tv de alta definição. Detalhes aqui.

25 abril, 2010

Sem título #15

Cena española: tortilla de patatas y ensalada de rúcula con tomate.

Palavras lidas #131

Libertad

¡Ay qué placer
No cumplir un deber!
¡Tener un libro que leer
Y dejarlo de hacer!
Leer es cosa pesada.
Y estudiar es nada.
El sol dora
Sin literatura.
El río fluye, bien o mal,
Sin edición original.
Y la brisa
Es tan naturalmente matinal
Que como tiene tiempo nunca va de prisa...

Los libros son papeles pintados con tinta.
Estudiar es una cosa en que se halla indistinta
La distinción entre nada y cosa alguna.
¡Cuánto mejor, si hay bruma,
Que el rey Don Sebastián nos tenga
Espera que te espera, aunque no venga!

Grande es la poesía, y la bondad, y la danza...
Pero nada hay mejor en el mundo que la infancia,
Las flores, la música, el luar, o el sol, que sólo peca
Cuando en vez de crear las cosas, nos las seca.

Pero es mayor aún el peso
De Cristo que el de todo eso,
Y él nada sabía de finanzas
Ni consta que tuviese biblioteca...

Fernando Pessoa
in Fernando Pessoa -- Poesia, Alianza Tres, 5ª edición, 1987
(original aqui)

Espantos #243

No parque das casas encantadas (vulgo Güell) há:

azulejos partidos

casas encantadas forradas de azulejos partidos

tectos forrados de azulejos partidos

alguns com umas formas bem engraçadas

mais casas encantadas

e muros forrados com azulejos partidos.

Só ao fim de um tempo me apercebi da razão dos azulejos partidos... é que as superfícies que os azulejos cobrem são sempre onduladas.

Ditto #148

If people never did silly things, nothing intelligent would ever get done.

-- Ludwig Wittgenstein

Aquele


Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido

Aquele que deu tudo e não pediu a paga

Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite

Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício

Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse

Sophia de Mello Breyner
_____

Hoje, e em memória daquele que se indignou e lutou para acabar com "o estado a que isto chegou"

23 abril, 2010

La diada de Sant Jordi

One of the nicest fiestas of Spain, especially in Barcelona!

22 abril, 2010

21 abril, 2010

Palavras lidas #130

Tarde Vos Amei

Tarde Vos amei, Ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei. Habitáveis longamente dentro de mim, e eis-me lá fora a procurar-Vos. Dispersava-me entre as formosuras que criastes. Estáveis já comigo, sem que eu estivesse convosco! Demorava-me naquilo que não existiria se não existisse por Vós. Até que rompestes minha surdez, chamando por mim com voz tão forte. Brilhastes, cintilastes, por dentro da minha cegueira. Exalastes perfume: respirei-o e desejei-Vos com todas as minhas forças. Saboreei-Vos, e agora padeço de fome, morro de sede. Tocastes-me, e, sem a Vossa paz, sei que nunca mais terei paz!

Agostinho de Hipona (354-430)
in Oração dos Homens -- Una antologia das tradições espirituais

19 abril, 2010

Palavras lidas #129

(...) What Eyjafjallajokull has done above all is force upon us a visceral awareness of our interconnected world - woven together by the crisscrossing of airline routes. For all of the talk of globalization, we see what a global construct our sense of what normality really is.

With luck, the volcano will simmer down soon and the ash plume will disperse. Flights will resume, business will begin to make up its losses, and weary travelers will safely find their way home. It will be a long time before we forget the threat that lies smoldering under an Icelandic glacier. Or its lesson that even in the 21st century, our lives are still at the sufferance of nature.
______________________

Full article here. Some spectacular pictures here and here... despite the (major) disturbance and the non-negligible threat to life, nature is still the greatest show on earth!

Caprichos #134

Flowers in Sant Jordi's week

18 abril, 2010

Foi neste dia #131 (1980)

Há trinta anos o Reino Unido reconhecia a independência da Rodésia e nascia um novo país num clima de optimismo expectante: Zimbabwe.

Nos arquivos online da Economist, encontrei este artigo de 8 de Março de 1980 que relata o processo limpo e democrático (à Inglesa) de transição de poder. O vencedor destacado das eleições livres dava pelo nome de Robert Mugabe. O artigo colocava algumas reservas relativas às tendencias Marxistas de Mugabe, mas no geral exalava esperança para uma nação com um passado colonial racista e marcadamente opressor. Ilusão. É possível que tenha havido alguma razão para optimismo inicialmente (quiçá devido à moratória de dez anos impedindo alterações constitucionais), mas como todos os líderes que se habituam à cadeira do poder, Mugabe esqueceu as promessas de paz e conduziu o seu Zimbabwe à espiral de decadência que parece não ter fim e que piora com o passar dos anos. A farsa das eleições de 2008 nem sequer atingiu o limiar mínimo da credibilidade necessário para convencer o país daquilo que o estrangeiro já há muito desacreditou... a perseguição a jornalistas internacionais não ajuda.

Há duas semanas, a sequência de artigos de Nicholas Kristof no New York Times mostrava uma alarmante saudade nostalgica do antigo regime e uma população jovem que sobrevive dia a dia.

Finalmente um artigo com uma perspectiva distinta e porventura animadora. Em todos os países com antecedentes coloniais mais ou menos racistas emergiram sociedades bastante divididas, com o expoente máximo no apartheid em África do Sul. Como a situação actual do Zimbabwe não poderia ser pior, brancos e pretos, destituídos e desalentados, unem-se em torno de um objectivo comum contra o regime que deixou o país em farrapos. Ironicamente e sem o desejar, Mugabe gerou a união racial no Zimbabwe... mas a que preço!

17 abril, 2010

Num país a fingir #40

Os problemas financeiros que assolam a Europa do sul são reais e não devem ser tomados de ânimo leve. Depois de dois ou três meses de difíceis e delicadas nogociações foi finalmente aprovado um pacote de ajuda para a Grécia. Apesar da pequena dimensão daquele país, a dívida que acumulou ao longo dos anos não é assim tão negligenciável que possa ser paga pelos contribuintes de outros países como quem bebe um copo de água. Daí que o problema da Grécia seja de facto um problema global; que mais não seja, a solução encontrada contou com o envolvimento da UE e do FMI. A ligação com Portugal, Espanha e Itália é por demais obvia e já foi feita há um tempo. Pela primeira vez na quinta feira, Peter Boone e Simon Johnson fizeram uma análise mais detalhada, e não apenas alusória, do caso mais próximo da Grécia em todos os indicadores económicos: Portugal.

Num país a fingir, o ministro das finanças classifica de disparates tais associações e explicações. "Num mundo de expressão livre podem escrever-se disparates sem fundamentação," disse o ministro que, não contestou as figuras da dívida Portuguesa presentes no artigo, nem tão pouco o optimista cenário de crescimento económico que teriamos de ter para conseguir escapar ao aperto por que passa agora a Grécia. Seria interessante perguntar ao ministro se leu o artigo.

Num país a fingir, o conselho de ministros assobia para o lado, como se nada fosse, e aprova projectos como se fosse tempo das vacas gordas: venha o TGV.

Num país a fingir, o primeiro ministro vai receber a sua "boa amiga" chanceler alemã ao aeroporto, que nem sequer vem em visita oficial: chegou a Lisboa por acaso porque não podia seguir o seu caminho. Mas claro que um primeiro ministro que gosta de luzes não podia fazer por menos. Depois congratulou-se à imprensa com o "prazer" que teve em conversar com Merkel por uns minutos. Será que ninguém se dá conta que tanta bajulação cai mal a um primeiro ministro que dá a impressão que não tem nada de importante para fazer? Será que está à espera que Merkel se lembre da atençãozinha quando for de mão estendida pedir ajuda?

16 abril, 2010

Coisas que não mudam # 124

Mais uma vez a Madeira veste-se de primavera para a Festa da Flor...

(Que S. Pedro se redima, e ajude a festa, são os votos de quem queria estar e não está)

Espantos #242

Um vulcão na Islândia cria condições meteorologicas para pores-do-sol espectaculares no Reino Unido.

15 abril, 2010

Espantos #241

Um vulcão na Islândia pára o tráfego aéreo em metade da Europa.

Palavras lidas #128

Todavía recuerdo aquel amanecer en que mi padre me llevó por primera vez a visitar el Cementerio de los Libros Olvidados. Desgranaban los primeros días del verano de 1945 y caminábamos por las calles de una Barcelona atrapada bajo cielos de ceniza y un sol de vapor que se derramaban sobre la Rambla Santa Mónica en una guirnalda de cobre líquido.
-- Daniel, lo que vas a ver hoy no se lo puedes contar a nadie - advirtió mi padre --. Ni a tu amigo Tomás. A nadie.
-- ¿Ni siquiera a mamá? - inquirí yo, a media voz.
Mi padre suspiró, amparado en aquella sonrisa triste que le perseguía como una sombra por la vida.
-- Claro que sí - respondió cabizbajo --. Con ella no tenemos secretos. A ella puedes contárselo todo.
Poco después de la guerra civil, un brote de cólera se había llevado a mi madre. La enterramos en Montjuïc el día de mi cuarto cumpleaños. Sólo recuerdo que llovió todo el día y toda la noche, y que cuando le pregunté a mi padre si el cielo lloraba le faltó la voz para responderme. Seis años después, la ausencia de mi madre era para mí todavía un espejismo, un silencio a gritos que aún no habia aprendido a acallar con palabras. Mi padre y yo vivíamos en un pequeño piso de la calle Santa Ana, junto a la plaza de la iglesia. El piso estaba situado justo encima de la lebrería especializada en ediciones de coleccionista y libros usados heredada de mi abuelo, un bazar encantado que mi padre confiaba en que algún día pasaría a mis manos. Me crié entre libros, haciendo amigos invisibles en páginas que se deshacían en polvo y cuyo olor aún conservo en las manos. De niño aprendí a conciliar el sueño mientras le explicaba a mi madre en la penunbra de mi habitación las incidencias de la jornada, mis andanzas en el colegio, lo que había aprendido aquel día... No podía oír su voz o sentir su tacto, pero su luz y su calor ardían en cada rincón de aquella casa y yo, con la fe de los que todavía pueden contar sus años con los dedos de las manos, creía que si cerraba los ojos y le hablaba, ella podría oírme desde donde estuviese. A veces, mi padre me escuchaba desde el comedor y lloraba a escondidas.

La sombra del viento, Carlos Ruiz Zafón
__________

As aulas de espanhol estão cada vez melhores!

14 abril, 2010

Pastelaria (Por Cesariny)



Afinal o que importa não é a literaturanem a crítica de arte nem a câmara escuraAfinal o que importa não é bem o negócionem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócioAfinal o que importa não é ser novo e galante- ele há tanta maneira de compor uma estanteAfinal o que importa é não ter medo: fechar osolhos frente ao precipícioe cair verticalmente no vícioNão é verdade rapaz? E amanhã há bolaantes de haver cinema madame blanche e parolaQue afinal o que importa não é haver gente comfomeporque assim como assim ainda há muita genteque comeQue afinal o que importa é não ter medode chamar o gerente e dizer muito alto ao pé demuita gente:Gerente! Este leite está azedo!Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludoà saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rirde tudoNo riso admirável de quem sabe e gostater lavados e muitos dentes brancos à mostra

13 abril, 2010

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.


(porque Cesariny precisa ser lembrado)

Palavras lidas #127

(Detail of) The Birth of Venus, Sandro Botticelli, 1485-6

Lição de Estética

"Mas que beleza há na poesia?"
Escuta, quando vês um grande amigo
rodeado de mulheres, quando estás
fascinado com a orquestra, e sob o reflector
resplandecem as cores de uma deusa
que desce seminua à plateia,
onde tu estremeces, escondido
em toda a multidão!, quando em noite
escura e serena amigos dançam sem mulheres
numa praça ao som de um
acordeão e tu ficas à parte; pois bem, isso
não é belo para ti? Também é belo
para um velho que se chama
crítico e acha beleza em muitas coisas
e que até se aventurou a descobrir no mundo
e talvez fora do mundo, coisas cada vez
mais belas, mas que diz, com amor: "que belo
é este poema!" E tu,
tu olhas-me sem sequer me dares um beijo?

Sandro Penna (1906-1977)
No Brando Rumor da Vida

Caprichos #133

Golden chandeliers at the Liceu last night... and the chorus!

12 abril, 2010

Parece que estou a ouvir #97


Heard it on the radio earlier this morning. The unpretentious music toned by a simple guitar, the soft voices, and the fabulous poem... what a wonderful combination! Could not believe the last (and mythical) Simon & Garfunkel's album is already forty years old.____________

The Boxer

I am just a poor boy though my story's seldom told
I have squandered my resistance
For a pocketful of mumbles such are promises
All lies and jest
Still, a man hears what he wants to hear
And disregards the rest

When I left my home and my family
I was no more than a boy In the company of strangers
In the quiet of the railway station running scared
Laying low, seeking out the poorer quarters
Where the ragged people go
Looking for the places only they would know

Lie-la-lie, lie-la-lie, lie-la-lie

Asking only workman's wages I come looking for a job
But I get no offers
Just a come-on from the whores on Seventh Avenue
I do declare, there were times when I was so lonesome
I took some comfort there

Lie-la-lie, lie-la-lie, lie-la-lie

Then I'm laying out my winter clothes
And wishing I was gone, going home
Where the New York City winters
Aren't bleeding me Leading me
Going home

In the clearing stands a boxer
And a fighter by his trade
And he carries the reminders
Of ev'ry glove that laid him down
Or cut him till he cried out In his anger and his shame
"I am leaving, I am leaving."
But the fighter still remains

Lie-la-lie, lie-la-lie, lie-la-lie

11 abril, 2010

Palavras lidas #126

Outra Oração

Ó Deus que preferes a compaixão
por aqueles que esperam em ti
e não a ira
concede-nos chorar longamente males que fizemos
de modo que mereçamos
tua consolação como uma graça

in O Dom das Lágrimas -- orações da antiga liturgia cristã

09 abril, 2010

No Times de hoje #114


Baltasar Garzón é de longe o mais mediático juíz espanhol pela sua carreira investigadora que prima contra a impunidade ao mais alto nível.

Foi Garzón que em 1998 emitiu o mandato de captura internacional a Augusto Pinochet (que tinha ido ao Reino Unido), para que este respondesse perante a justiça espanhola relativamente às acusações de tortura e desaparecimento de cidadãos deste país durante a ditadura Chilena. Pinochet chegou mesmo a ser preso, mas nunca foi extraditado para Espanha por alegadas razões de saúde -- as mesmas que o levaram ao Reino Unido -- tendo por isso regressado ao Chile são e salvo.

Garzón é agora investigado pela justiça espanhola porque em 2008 decidiu investigar o desaparecimento de 113,000 pessoas durante a guerra civil espanhola e os primeiros dez anos de ditadura Franquista. Garzón terá ignorado a lei de amnistia aprovada pelo parlamento espanhol em 1977 que colocou uma pedra sobre as (turvas) águas passadas do início da ditadura e permitiu a transição pacífica após a queda do regime em 1975.

Portugal e Espanha partilharam os infortúnios de ditaduras fascistas durante grande parte do século XX, mas a transição para a democracia não poderia ter sido mais diferente. Em Portugal tivémos uma revolução a fingir -- com flores e sem sangue -- em 1974, tivémos comunismo galopante até 1976 (ano da constituição, qual manifesto Marxista) com militares a fazerem de ministros, nacionalizações até à exaustão, grupos terroristas e atentados, e tivémos ainda mais dez anos de instabilidade política com governos minoritários e fracos que nunca terminavam os seus mandatos e onde se tentaram corrigir os erros dos verões quentes de 74 a 76. Em Espanha após a morte de Franco nos finais de 1975, Juan Carlos -- o designado sucessor -- sobe ao trono e facilita um governo de transição que culminou com a constituição de 1978. A estabilidade política chegou em 1982.

A suave transição terá sido benéfica para a economia espanhola enquanto Portugal perdia uma década cometendo erros clássicos, exemplo do que não se deve fazer nos manuais de economia, e tentando até hoje emendar a mão. O reverso da medalha é que em Espanha as pessoas não saíram à rua para se manifestar, calaram e reprimiram as injustiças passadas, amnistiaram factos por apurar.

De acordo com a lei internacional as amnisitias são ilegais, argumenta Garzón, havendo mesmo um precedente no Chile em que a amnistia não foi considerada, dado que o crime de rapto continua a existir enquanto os corpos não forem encontrados. A discussão legal não pára aqui e Garzón corre mesmo o risco de não voltar mais a exercer o magistério.

O Times traz um breve e inflamado artigo sobre o assunto. A Economist é mais sóbria, como sempre.

08 abril, 2010

48h em LX

A inconfundivel paisagem e a comida






02 abril, 2010

Palavras lidas #125

Todas as Palavras

As que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração,
e não reconheci,
ou desistiram e
partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
e as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei
esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?);
as que perdi, verbos
e substantivos de que
por um momento foi feito o mundo
e se foram levando o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e com quem agora, como velhos amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.

Manuel António Pina (1943)
Poesia Reunida
____________

Bem em espírito de sexta feira de paixão

01 abril, 2010

Numa sala perto de mim #129

Shock Corridor (1963) [Corredor sin retorno in Spanish] tells the story of a journalist investigating a crime that took place at a psychiatric ward. In order not to raise any suspicions, he poses as a mentally disturbed person and earns his passage to the world of the insane. From then on, there are moments of sanity, moments of despair, and absolutely no pattern. Excellent, but quite disturbing movie.

Numa sala perto de mim #128

Dersu Uzala (melhor filme estrangeiro de 1975) relata a história da amizade entre um comandante militar russo em missões exploratórias na Sibéria do início do século XX e um caçador asiático da região. O respeito, a confiança, e o trabalho árduo sob as mais extremas condições da natureza, reforçam os laços entre aqueles que dependem uns dos outros. O filme mostra também o lado decadente do ser humano... impressionante a familiaridade de certas passagens apesar do cenário hostil.

Numa sala perto de mim #127

Nueve Reinas (2000) a clever Argentinian movie about thieves, whose entrepreneurial spirit is striking... one wonders why these people are not driven to apply their brilliant ideas on a regular profession. Maybe the regularity of a 9-5 job is just tacky.