17 abril, 2010

Num país a fingir #40

Os problemas financeiros que assolam a Europa do sul são reais e não devem ser tomados de ânimo leve. Depois de dois ou três meses de difíceis e delicadas nogociações foi finalmente aprovado um pacote de ajuda para a Grécia. Apesar da pequena dimensão daquele país, a dívida que acumulou ao longo dos anos não é assim tão negligenciável que possa ser paga pelos contribuintes de outros países como quem bebe um copo de água. Daí que o problema da Grécia seja de facto um problema global; que mais não seja, a solução encontrada contou com o envolvimento da UE e do FMI. A ligação com Portugal, Espanha e Itália é por demais obvia e já foi feita há um tempo. Pela primeira vez na quinta feira, Peter Boone e Simon Johnson fizeram uma análise mais detalhada, e não apenas alusória, do caso mais próximo da Grécia em todos os indicadores económicos: Portugal.

Num país a fingir, o ministro das finanças classifica de disparates tais associações e explicações. "Num mundo de expressão livre podem escrever-se disparates sem fundamentação," disse o ministro que, não contestou as figuras da dívida Portuguesa presentes no artigo, nem tão pouco o optimista cenário de crescimento económico que teriamos de ter para conseguir escapar ao aperto por que passa agora a Grécia. Seria interessante perguntar ao ministro se leu o artigo.

Num país a fingir, o conselho de ministros assobia para o lado, como se nada fosse, e aprova projectos como se fosse tempo das vacas gordas: venha o TGV.

Num país a fingir, o primeiro ministro vai receber a sua "boa amiga" chanceler alemã ao aeroporto, que nem sequer vem em visita oficial: chegou a Lisboa por acaso porque não podia seguir o seu caminho. Mas claro que um primeiro ministro que gosta de luzes não podia fazer por menos. Depois congratulou-se à imprensa com o "prazer" que teve em conversar com Merkel por uns minutos. Será que ninguém se dá conta que tanta bajulação cai mal a um primeiro ministro que dá a impressão que não tem nada de importante para fazer? Será que está à espera que Merkel se lembre da atençãozinha quando for de mão estendida pedir ajuda?

3 comentários:

Atlantico Central disse...

Num país a fingir sim: espera que enquanto mordomo ou figura de proa seja lembrado quando vai já não nessa qualidade, mas na de pedinte pedir de mão estendida.
Porque num país a fingir, onde o primeiro-ministro não discute mas zomba da "tia" do deputado da oposição ninguém grita que "O LEITE ESTÁ AZEDO"

Atlantico Ocidental disse...

O episódio da tia...

Num país a fingir, finge-se uma delicadeza inútil, mas vê-se bem onde o nível desce quando estala o verniz.

Atlantico Ocidental disse...

http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=1546061