31 dezembro, 2006

Um Bom Ano

Não com tudo o que desejamos (porque de vez em quando somos "castigados"), mas com tudo o que mais precisamos!

30 dezembro, 2006

Espantos # 13


Apreciação de processos, em plena época natalícia, com vista à concessão de indultos por parte do Presidente da República (22 de Dezembro de 2006)

Te

(The kiss, Gustav Klimt)

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.

Manuel Bandeira

29 dezembro, 2006

Espantos #12

O Chiado-mel virou restaurante Chinês... provavelmente já há tempos, mas só agora me apercebi.

28 dezembro, 2006

Parece que estou a ouvir # 10

So This Is Christmas

So this is Christmas
And what have you done?
Another year over
And a new one just begun
And so this is Christmas
I hope you have fun
The near and the dear one
The old and the young.

A very Merry Christmas
And a Happy New Year
Let's hope it's a good one
Without any fear

And so this is Christmas
For weak and for strong
For rich and the poor ones
The road is so long
And so Happy Christmas
For black and for white
For yellow and red ones
Let's stop all the fight.

A very Merry Christmas
And a Happy New Year
Let's hope it's a good one
Without any fear

So this is Christmas
And what have you done?
Another year over
And a new one just begun
And so Happy Christmas
I hope you have fun
The near and the dear one
The old and the young.

A very Merry Christmas
And a Happy New Year
Let's hope it's a good one
Without any fear

War is over!
If you want it War is over! War is over, Now!

To serve...

The Milkmaid, Johannes Vermeer, ca. 1658

Being your slave, what should I do but tend
Upon the hours and times of your desire?
I have no precious time at all to spend,
Nor services to do, till you require.
Nor dare I chide the world-without-end hour
Whilst I, my sovereign, watch the clock for you,
Nor think the bitterness of absence sour
When you have bid your servant once adieu;
Nor dare I question with my jealous thought
Where you may be, or your affairs suppose,
But, like a sad slave, stay and think of nought
Save, where you are how happy you make those.
So true a fool is love that in your will,
Though you do any thing, he thinks no ill.

William Shakespeare, Sonnet LVII

27 dezembro, 2006

Foi neste dia # 59 (1932)

Faz hoje 74 anos que abriu o Radio City Music Hall em Nova Iorque.

26 dezembro, 2006

22 dezembro, 2006

Espantos #11

E a origem do Rudolph (a rena do nariz vermelho) qual é? Espantosamente, uma campanha publicitária de uma loja sedeada em Chicago (está tudo aqui).

Rudolph, a correr desde 1939, iluminando o caminho do trenó do Pai Natal ;-)

Ficava tão bem lá em casa # 20

Chinese Dancing, Brice Marden

21 dezembro, 2006

19 dezembro, 2006

A pressa



Foi, pelo Presidente da República, requerida urgência na apreciação da constitucionalidade da Lei das Finanças Locais.

Percebe-se que a dúvida sobre a sua constitucionalidade deva ser sanada o mais rapidamente possível! É natural que o Governo tenha pressa, afinal a Lei do Orçamento foi feita tendo em conta aquele diploma (que está a marinar no Tribunal Constitucional). Mas enviar ao Tribunal os pareceres técnicos que terão fundamentado o diploma?! Esta não lembra a ninguém!

Teria o Tribunal dúvidas sobre o entendimento Governamental? Não me parece que seja o que aqui está em causa... precisará de escudar-se nos pareceres dos Ilústres Causídicos consultados?

O Primeiro-Ministro acusado de pressionar o Tribunal Constitucional, o que diz? Diz que o Tribunal Constitucional não é pressionável. Traído pelas palavras?

(Imagem daqui)

Foi neste dia # 58 (2001)

Faz hoje 5 anos que o incêndio, resultante dos ataques às torres gémeas de Nova Iorque, foi declarado extinto... mais de três meses depois do dia 11 de Setembro.

17 dezembro, 2006

You


Esta escolha da "Time" fez-me lembrar um exame que fiz há cerca de 14 anos, onde num pequeno texto, cuja interpretação se requeria, se mencionava que num futuro próximo quem não dominasse informática seria considerado um analfabeto.
Francamente na altura pareceu-me um pouco exagerado, acho que nem compreendi exactamente o alcance da afirmação.
Uma vez mais a realidade superou a ficção.

Espantos # 9

A Dra. Maria José Morgado foi nomeada, na passada quinta-feira, pelo Procurador-Geral da República, para coordenar todos os processos no âmbito do "apito dourado" estou certa de que para gáudio de muitos mas arrepio de muitos mais!!

Até aqui nada de novo, não sendo de estranhar que tenha feito as parangonas de todos os jornais portugueses, num espéctro tão grande que cobriu desde os desportivos aos semanários passando, obviamente, pelos jornais diários.

Também não espanta que os comentários a esta nomeação tenham chovido na comunicação social!! O que me parece ultrapassar já as fronteiras da normalidade é a declaração do Ministro da Justiça a esta nomeação.

Andava eu a pensar na dita declaração quando encontrei eco!!

Pode ser que o Sr. Ministro encontre na sua chaminé a obra deste outro Sr. É um clássico... é bom não descurar!!

16 dezembro, 2006

Espantos # 8

Ao folhear o caderno de emprego do Expresso este fim-de-semana, caderno que felizmente já não leio por necessidade, dou de caras com um anúncio para “Internal Auditor” (já dou de barato que não exista tradução para o dito cargo em português) onde se exige, entre outros requisitos, ter entre 28 e 38 anos e formação académica superior em Economia, Gestão, Finanças ou similar e, pasme-se: em Universidade de prestígio.

Uma pergunta óbvia pode colocar-se (ou serei só eu?): quais são os critérios de avaliação do dito prestígio? Será a fonte de financiamento das universidades? Terão prestígio só as universidades públicas ou, unicamente, as privadas? Será um critério meramente geográfico? Calculo que a média de curso não tenha grande influência ... ou serão as médias mais baixas que qualificarão as universidades? Ou, pelo contrário, as mais elevadas? Era bom saber-se, principalmente para que os interessados pudessem ponderar seriamente se valeria a pena enviar o curriculum, atendendo à instituição do ensino superior que tenham frequentado.

Abstenho-me, pelas razões óbvias, de identificar a empresa em causa.

Ficava tão bem lá em casa # 19


Le pont Japonais, Monet

If...

If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you
But make allowance for their doubting too,
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:
If you can dream--and not make dreams your master,
If you can think--and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:
If you can make one heap of all your winnings
And risk it all on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on!"
If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings--nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much,
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And--which is more--you'll be a Man, my son!

Rudyard Kipling

14 dezembro, 2006

Cultura democrática - Parte II

Lembram-se?

Hoje, o Sr. Presidente enviou o diploma para o Tribunal Constitucional!! Ai ai mas um precalço...

Vamos ver se será o último!

12 dezembro, 2006

10 dezembro, 2006

Requerimento em 30 linhas

Fernando Pessoa, solteiro, maior, abreviado, morador onde Deus é servido conceder-lhe que more, em companhia de diversas aranhas, moscas, mosquitos e outros elementos auxiliares de bom estado das casas e dos somnos; tendo recebido indicação – aliás apenas telephonica – de que poderá ser tratado como (10 linhas) gente a partir de uma data a fixar, e de que o referido tratamento de como se fosse gente seria constituído por, não um beijo, mas a simples promessa d’elle, a ser addiado indefinidamente, e até elle Fernando Pessoa provar que (1) tem 8 mezes de edade, (2) é bonito, (3) existe, (4) agrada à entidade encarregada da distribuição da (20 linhas) mercadoria, e (5) não se suicida antes do assumpto, como era sua obrigação natural; requere, para tranquilidade da pessoa encarregada da distribuição da mercadoria, que lhe seja passado attestado em como (1) não tem 8 mezes de edade, (2) é um estafermo, (3) nem mesmo existe, (4) é desprezado (30 linhas) pela entidade distribuidora, (5) suicidou-se.
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Acabam as 30 linhas.
______________________________________
Aqui devia por-se “Espera deferimento”, mas não espera nada o
Fernando

ABEL.
18.9.29

(In. Cartas de Amor de Fernando Pessoa, Edições Nova Ática)

Numa sala perto de mim #19

Comment of the girls I went to watch The Holiday with, to one of our male friends before we went to the movies: "it's girly, it's cheesy and we're gonna love it"... and so we did! It puts a smile in your face ;-)

09 dezembro, 2006

Dura lex sed lex

"As leis são para serem cumpridas" quem o diz é o Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, a propósito da Lei das Finanças Regionais que, se nada de surpreendente acontecer, entrará em vigor já no início de 2007.

As Leis são, de facto para serem cumpridas, todas e não esta em particular. Mas a sua existência não se justifica com o seu comprimento, é a realidade que tem de justificar a sua existência.

Mas temos assistido (como já alguém disse) a uma tal incontinência legislativa que temos visto que quando aquelas não servem pura e simplesmente se mudam. Não é para isso que servem as maiorias absolutas?! Apesar do barulho e da contestação, mudam-se, para que "possam servir melhor" ... fico com a dúvida da necessidade urgente de mudança no que a esta em particular diz respeito.

No Times de hoje # 19

Robert Mugabe está à frente do país das cataratas Victoria desde 1980, ano em que foi eleito (!) Primeiro-ministro. O país está há vários anos submetido a sanções internacionais, devido à má governação e à constante violação de direitos humanos. A população é uma das mais flageladas internacionalmente (do they know it's christmas?), mas Mugabe, com 82 anos, está longe de pagar pelo que fez e faz no Zimbabwe. Mais um a juntar à lista de Pinochet...

Ora aí está mais um exemplo de um país que certamente não merece o líder que tem. No Times de hoje vem um pequeno editorial relatando a dramática situação do país. Segue na íntegra.
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The Agonies of Zimbabwe

Published: December 9, 2006

One problem with labeling states as pariahs is that it’s all too easy to forget about them. Robert Mugabe’s Zimbabwe is a prime example: it is under economic sanctions by the United States and the European Union and few tourists go there, so the suffering of its people is largely out of sight and out of mind. Yet things are truly terrible.

The latest indication comes in a United Nations-financed report by Zimbabwe’s own social welfare ministry. More than 63 percent of the rural population, and 53 percent of the urban population, couldn’t meet "basic food and non-food requirements" in 2003, the last year for which figures were available, and things have gotten far worse since. Malnutrition among children is up 35 percent, people without access to health care is up 35 percent, H.I.V./AIDS afflicts 18.1 percent of the population, unemployment is over 70 percent, life expectancy is down to 36.

Mr. Mugabe’s government blames sanctions, weather, former colonial rule, market conditions. Yet the real culprit is Mr. Mugabe, who has run Zimbabwe since 1980. Now 82, the president is a master at the blame game, accusing the West of colonialism and racism when it criticizes his scheme to redistribute white-owned commercial farms among blacks, or the cruel expulsion of 750,000 slum dwellers from cities, or whatever else he does.

There’s not much the West can do; more sanctions would only bring more suffering. But Africans could make a difference, if they joined in condemning Mr. Mugabe. For understandable reasons, African leaders have been reluctant to publicly criticize fellow Africans. But as Kofi Annan, the United Nations secretary general, declared yesterday, “human rights are perhaps more in need of protection in Africa than in any other continent.”

The suffering Zimbabwean people are in desperate need of protection, the sooner the better.

08 dezembro, 2006

Parece que estou a ouvir #9


Minha história

Ele vinha sem muita conversa
Sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava
E gostava de mar

Sei que tinha tatuagem no braço
E dourado no dente
E minha mãe se entregou
A esse homem, perdidamente

Ele assim como veio partiu
não se sabe p'ra onde
E deixou minha mãe com o olhar
Cada dia mais longe

Esperando, parada, pregada
Na pedra do porto
O seu homem, com o velho vestido
Cada dia mais curto

Quando, enfim, eu nasci
Minha mãe embrulhou-me num manto
Meu vestiu como se eu fosse assim
uma espécie de santo

Mas por não se lembrar de acalantos
a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas
de cabaré

Minha mãe não tardou a alertar
toda vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais
que uma simples criança

E não sei bem se por ironia
ou se por amor
Resolveu me chamar com o nome
do nosso senhor

Minha história, esse nome
Que ainda hoje carrego comigo
Quando vou para um bar
Viro a mesa, berro, bebo, brigo

Os ladrões, as amantes
Meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome
de Menino Jesus

lá lá lá lá

(Por Chico Buarque)

06 dezembro, 2006

Espantos # 7


Sou do tempo em que se ofereciam ramos de flores, ou flores em vasos, com laçarotes coloridos. Fora isso, trocavam-se sementes, ou hastes, na esperança de que se desenvolvessem e florescessem na casa de outra pessoa.
Por isso, comprar ou oferecer flores em lata para mim é uma novidade, mas estavam ali mesmo na prateleira do supermercado!!

05 dezembro, 2006

Afinal ...

era pura fantasia.

Deixa o olhar do mundo


Árvore da vida, Gustav Klimt

Deixa que o olhar do mundo enfim devasse
Teu grande amor que é teu maior segredo!
Que terias perdido, se, mais cedo,
Todo o afeto que sentes se mostrasse?
Basta de enganos!
Mostra-me sem medo
Aos homens, afrontando-os face a face:
Quero que os homens todos, quando eu passe,
Invejosos, apontem-me com o dedo.
Olha: não posso mais!
Ando tão cheio
Deste amor, que minh'alma se consome
De te exaltar aos olhos do universo...
Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso.

Olavo Bilac

04 dezembro, 2006

Foi neste dia # 56 (1980)

Faz hoje 26 anos que caíu em Camarate o avião que levava o então primeiro ministro e o ministro da defesa, que se dirigiam para uma acção de campanha eleitoral no norte. As eleições iriam realizar-se daí a dias. Lembro-me do filme (lançado em 2001) de Luís FIlipe Rocha e da excelente banda sonora que o acompanhava.

03 dezembro, 2006

Caprichos # 8

No Times de hoje #18

Aos domingos o New York Times vem acompanhado da revista New York Times Style Magazine que geralmente traz uma secção de artigos mais light. Hoje, o artigo que me chamou a atenção, fala de um assunto que a mim sempre me fez confusão: a obrigação das gorjetas. Neste lado do Atlântico, toda a gente dá gorjeta (por defeito) nos restaurantes, bares, taxis... a menos que algo tenha estado mesmo mal com o serviço prestado... e atenção, não é apenas uma gorjeta para acertar a conta, trata-se de 15-20% do total da despesa. Eu sempre achei que isto era um atentado à liberdade individual de querer ou não dar gorjeta. Do outro lado do Atlântico dá gorjeta quem quer, mesmo que nada de errado aconteça com o serviço: o cliente é livre de deixar ou não. Este artigo de hoje faz-me olhar o problema de outra perspectiva... e talvez me faça mudar de opinião. Vale a pena ler!
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The Tipping Point

By KEN GROSS
Published: December 3, 2006

I do not double the tax or bother with the strict 18-percent solution, or even calculate the exact value of this or that test of service; I do not twist my brain, seeking some perfect balance between cost and expectation, or weigh the consequences of missing the mark. No, mine is an easier solution to settling accounts: I simply overtip.

This uncomplicated policy has eased my way through life, although it is usually well beyond my means. Nevertheless, I have come to believe that there is a steep price one pays to stay at ease in the world, and that cost is not listed on any menu or tallied to a certainty on any bill.

As a result of this guiding principle, I always have a choice table at my favorite restaurant. I have the services of the superintendent of my building without suffering long, grinding domestic standstills. I have hot, fresh bagels from the bagel store when everyone else is eating cold cement. I get my laundry and dry-cleaning and food delivered with speed and good cheer. I have the good opinion of my mail person, the respect of my handyman, the regard of my house painter, the esteem of my doorman — and, through a kind of unforced, albeit communicable deference, the admiration of my neighbors.

It is not bribery, in any legal or moral sense, nor am I driven by some philosophical strain of ambient guilt; this is straightforward recognition on my part that there is an inherent economic injustice in the world, and I do my part to set things straight.

Naturally, you can’t go through life with a radical tipping policy and not expect to hit a few bumps in the road.

Not too long ago my wife and I were thrown out of a fancy French restaurant right here in Manhattan. We were seated on a banquette, and I had rashly complained to the waiter that our neighbor’s hair was dangling in my wife’s soup. A fuss ensued, he tore up our check, pointed to 55th Street and said, quivering with Gallic indignation, “She is a regular!”

That guy got no tip.

But don’t get me wrong, I’m not a sucker or one of those gaudy gangsters who hand out $100 bills like Communion wafers. No, I have a healthy workingman’s appreciation for the price of labor — something I learned as a boy in the Bronx. My mother was a single parent, and all four of her sons had to kick in to survive.

I went to work at 13 and brought home $10 a week, which, in those days, was a salary.

I was a helper at Leo & Chubby’s, a produce market on 180th Street, and after school and on the weekends I loaded and delivered weighty bags of food to customers within a 10-block radius. In addition to a $5-a-week wage, I got tips. Leo and Chubby were Korean War veterans who were fundamentally decent men. They passed along the creed of running an honorable business. Always be polite to customers, do not cheat on weight, and, above all, be fair. However, nothing is ever quite so simple. There is a side to every business that requires some ethical... equivocation. For example, every time Leo and Chubby got a shipment of fruit or vegetables, some portion was inevitably rotten. The bad stuff was immediately thrown out. It was a built-in loss. But there was also some portion that was dubious — not bad, as such, but not great. It could be eaten, but not memorably. That part could not be thrown out. That was the difference between profit and loss. Leo and Chubby had a wise and fair solution: they divided the less-than-perfect fruits and vegetables among all the customers. No one would get too much. And as the loader of the deliveries, I did my part. Everyone got one mushy peach or a cottony tomato.

Of course, I was little more than a child and I still remember that blistering August of my 13th year. Some deliveries more than others. I recall one day climbing tenement stairs, trying to balance three heavy bags as the sweat fell like tears down from my eyes. As I climbed from one floor to the next, I could read the full text of the dinner menus in the air. There was the sweet scent of cabbage on two, a potent whiff of sauerkraut on three, the thick perfume of garlic chicken on four. And there on five was a woman waiting with her arms folded, her lips pressed — annoyed that I had kept her pots waiting.

She ushered me through the living room and hallway and into the kitchen and watched as I carefully deposited her order on the table. Then, only when she had examined the bags and made certain that I had not stolen anything, she squeezed a coin out of her change purse as if she were giving birth. A nickel.

There were all kinds of tippers on my route. Dime tippers. Even quarter tippers. But there was also one lady who gave me half a dollar. I don’t believe she did it to show off, or to get better fruit, which from then on she did. I like to think it was a simple recognition of the effort it took to get the food to her table. She set a standard for generosity that I have tried to meet ever since. That lousy half-dollar tip has cost me a fortune.

Um dia vou construir um castelo

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não me esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, imcompreensões e períodos de crise. ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo...."


Fernando Pessoa

02 dezembro, 2006

Foi neste dia # 55 (1923)


Faria hoje 83 anos quem eternizou inúmeras árias numa Voz inconfundível.

01 dezembro, 2006

Caprichos # 7


1as Páginas O século XX nos jornais portugueses

Para mais tarde recordar

No Times de hoje #17

É já uma série de pelo menos 3 artigos que o New York Times desta semana dedica ao tema dos hiatos de pagamento entre os ricos e os muito ricos.

À primeira vista pode parecer um tema superfluo ou até perverso... com tanta gente que não tem o suficiente para comer estamos agora a preocuparnos com os apenas ricos! O que acho interessantissimo, até do ponto de vista económico, é o tipo de incentivos que se geram em termos de escolha de carreiras profissionais: perdem-se bons médicos para Wall Street, ou bons obstetras para clínicas de cirurgia plástica! Será que este é o melhor caminho a seguir? Mais vale então olhar para este tema com cuidado e não apenas empurrar para o lado como algo que não interessa porque há mais que fazer.

Este é aliás um problema não apenas dos EUA, mas com que Portugal se debate há anos. Segue o artigo de hoje na íntegra.

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When the Joneses Can’t Keep Up
Published: December 1, 2006

An article in yesterday’s Times about obstetricians who prefer working in Botox boutiques is a reminder that the growing gap between the rich and superrich has an impact on those of us who are neither. The article, by Natasha Singer, reported that family practitioners and emergency room physicians have also jumped over into the cosmetic treatment business because the money is so much better.

As The Times has noted in a series of recent articles, the very richest earners are increasing their earnings at twice the rate of their onetime peers, and the average-rich are taking resentful note. Investment bankers are jealous of hedge-fund wunderkinds and, from the sound of it, almost every last person in Silicon Valley is envious of the founders of YouTube (with the likely exception of the Google billionaires who bought their company).

It’s hard for people flying in coach to have much patience with those in first class bemoaning their lack of a personal jet. Neither policymakers nor society at large need sympathize with the longing of millionaires to become billionaires. But we do need to worry about the effects on society as a whole when members of the educated elite think they are grossly underpaid. The more they feel as if they are losing ground against their peers, the more likely they are to ditch professions in which the pay is only good — like delivering babies — in favor of less useful careers in which the compensation is off the charts — like eliminating lines from wealthy people’s foreheads.

America has long had a problem attracting enough well-trained people to important but not particularly well-compensated positions, like public defender, social worker or teacher. But an era in which a cancer researcher moves over into health-care management consulting because the pay is better — as Louis Uchitelle reported in The Times this week — is something else entirely.

Part of the explanation is undoubtedly a tax code that has sent the incomes of the wealthiest sliver of the nation into hyperdrive. Another might be the spike in education costs, which send many new doctors, lawyers and scientists out into the world armed with a diploma and a six-figure debt. But the bottom line seems to be that in 21st-century America, more people can’t feel successful unless they’re making a killing.

Dezembro


"You better watch out
You better not cry
You better not pout
I'm telling you why
Santa Claus is coming to town"

(Santa Claus is comin' to town)

30 novembro, 2006

No dia que foi, há 71 anos, o último da sua vida

É talvez o último dia da minha vida

É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o Sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.

Alberto Caeiro

Ditto #19

"While one person hesitates because he feels inferior, the other is busy making mistakes and becoming superior."

-- Henry C. Link

28 novembro, 2006

Parece que estou a ouvir #8


El dia que me quieras

Acaricia mi ensueño

el suave murmullo de tu suspirar.
Como rie la vida
si tus ojos negros me quieren mirar.
Y si es mio el amparo
de tu risa leve
que es como un cantar,
ella aquieta mi herida,
todo todo se olvida.

El día que me quieras
la rosa que engalana,
se vestirá de fiesta
con su mejor color.
Y al viento las campanas
dirán que ya eres mía,
y locas las fontanas
se contaran su amor.

La noche que me quieras
desde el azul del cielo,
las estrellas celosas
nos mirarán pasar.
Y un rayo misterioso
hara nido en tu pelo,
luciernaga curiosa que veras
que eres mi consuelo.

El día que me quieras
no habra más que armonía.
Será clara la aurora
y alegre el manantial.
Traerá quieta la brisa
rumor de melodía.
Y nos daran las fuentes
su canto de cristal.

El día que me quieras
endulzara sus cuerdas
el pajaro cantor.
Florecerá la vida
no existira el dolor


Alfredo Lepera

De corar de vergonha

A revista "Focus" sai amanhã, mas já se sabe o que lá está. Vejamos então:

Alguém, que não foi até à data dado como incapaz ou inimputável, confessa ter feito em 1980 um engenho explosivo;
Diz que esse engenho se destinava a “pregar um susto” ao candidato presidencial da altura – General Soares Carneiro;
Diz que o dito engenho foi alterado e, afinal, na noite de 4 de Dezembro de 1980 explode o cessna onde o susto era suposto ter lugar.

Mas está tudo doido?!

Confesso que me faltam as palavras para tamanha estupefacção.

A revista sai amanhã, de facto. O “entrevistado” foi hoje ouvido no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, ao que parece, no âmbito de um processo distinto de todos os factos que descreve na entrevista.

Isto é, ou não é, uma confissão de um crime? Não há pelo menos indícios??! Espero pelas diligências do Ministério Público.

27 novembro, 2006

Num país a fingir # 10

O ensino superior é notícia em horário nobre. Até aqui nada de especial.
Mas o espanto vem de imediato: três institutos superiores públicos não tem dinheiro para pagar o subsídio de natal aos seus funcionários. São disso exemplo: o Instituto Superior de Economia e Gestão, o Instituto Superior Técnico e o Instituto Superior de Agronomia.

No Times de hoje #16

O New York Times traz hoje um artigo sobre as fortunas que se fazem a trabalhar em Wall street, que dá que pensar.

Não se trata apenas de gente que sempre se dedicou ao estudo dos mercados financeiros, como os gestores... o artigo fala especificamente de um médico que durante 10 anos se dedicou à profissão e à investigação e que há 10 anos começou a trabalhar como consultor de investimentos na área da medicina. De um salário anual que rondava os $150,000 em 1996 passou para uma verba que deverá ultrapassar os $20 milhões em 2006. Não admira que haja tanta gente a saltar da academia para a consultoria.

___________

"A decade into the practice of medicine, still striving to become “a well regarded physician-scientist,” Robert H. Glassman concluded that he was not making enough money. So he answered an ad in the New England Journal of Medicine from a business consulting firm hiring doctors.

And today, after moving on to Wall Street as an adviser on medical investments, he is a multimillionaire.

(...)
Just how far he had come from a doctor’s traditional upper-middle-class expectations struck home at the 20th reunion of his college class. By then he was working for Merrill Lynch and soon would become a managing director of health care investment banking.

'There were doctors at the reunion — very, very smart people,' Dr. Glassman recalled in a recent interview. 'They went to the top programs, they remained true to their ethics and really had very pure goals. And then they went to the 20th-year reunion and saw that somebody else who was 10 times less smart was making much more money.'

(...)

Something similar is happening in academia, where newly minted Ph.D.’s migrate from teaching or research to more lucrative fields. Similarly, many business school graduates shun careers as experts in, say, manufacturing or consumer products for much higher pay on Wall Street.

(...)

Indeed, doctors have become so interested in the business side of medicine that more than 40 medical schools have added, over the last 20 years, an optional fifth year of schooling for those who want to earn an M.B.A. degree as well as an M.D. Some go directly to Wall Street or into health care management without ever practicing medicine."

26 novembro, 2006

No dia em que ficámos sem ele


Faz-me o favor...

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor - muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny

A arte de ser feliz


Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crianças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refelectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

25 novembro, 2006

Parece que estou a ouvir #7

Só à noitinha

Tive-lhe amor, gemi de dor, de dor violenta
Chorei sofri, e até por si, fui ciumenta
Mas todo o mal, tem um final, passa depressa
E hoje você, não sei porquê, já não me interessa

Bendita a hora, que o esqueci, por ser ingrato
E deitei fora, as cinzas do seu retrato
Desde esse dia, sou feliz sinceramente
Tenho alegria, p'ra cantar e andar contente
Só à noitinha, quando me chega a saudade
Choro sózinha, p'ra chorar mais à vontade


Outra paixão no coração, sei que já sente;
Uma qualquer, que foi mulher, de toda gente,
Assim o quis, seja feliz como merece,
Porque o rancor, como o amor, também se esquece!


Frederico Valério
_______________

É difícil arranjar letra mais portuguesa: a melancolia, a dor, o rancor, a raiva, o ciúme, o despeito, a tristeza, a indiferença e o consolo... está tudo lá. Fantástico!!

23 novembro, 2006

22 novembro, 2006

Ditto #18

"Great minds have purposes; others have wishes."

-- Washington Irving

21 novembro, 2006

Palavras lidas # 18


A Janela

Uma das janelas de Calvino, a com melhor vista para a rua, era tapada por duas cortinas que, no meio, quando se juntavam, podiam ser abotoadas. Uma das cortinas, a do lado direito, tinha botões e a outra, as respectivas casas.
Calvino, para espreitar por essa janela, tinha primeiro de desabotoar os sete botões, um a um. Depois sim, afastava com as mãos as cortinas e podia olhar, observar o mundo. No fim, depois de ver, puxava as cortinas para a frente da janela, e fechava cada um dos botões. Era uma janela de abotoar.
Quando de manhã abria a janela, desabotoando, com lentidão, os botões, sentia nos gestos a intensidade erótica de quem despe, com delicadeza, mas também com ansiedade, a camisa da amada.
Olhava depois da janela de uma outra forma. Como se o mundo não fosse uma coisa disponível a qualquer momento, mas sim algo que exigia dele, e dos seus dedos, um conjunto de gestos minuciosos.
Daquela janela o mundo não era igual.

Gonçalo M. Tavares, in O Senhor Calvino, Caminho, 2005

Espantos #6

Quem um dia cantou "por você vou roubar os anéis de Saturno" certamente nunca viu esta espantosa fotografia da Noite Dourada de Saturno, com os seus brilhantes anéis :-)

20 novembro, 2006

Numa sala perto de mim # 17


Volver é uma história onde se mistura o amor e a mentira, a persistência e a resignação tudo isto numa família de mulheres, onde as mulheres são caracterizadas em três gerações. Apesar da seriedade do argumento, tem cenas hilariantes e, para não variar, Almodovar não desilude apesar de o primeiro impacto não ser o melhor!

Food to life

So are you to my thoughts as food to life,
Or as sweet-season'd showers are to the ground;
And for the peace of you I hold such strife
As 'twixt a miser and his wealth is found;
Now proud as an enjoyer and anon
Doubting the filching age will steal his treasure,
Now counting best to be with you alone,
Then better'd that the world may see my pleasure;
Sometime all full with feasting on your sight
And by and by clean starved for a look;
Possessing or pursuing no delight,
Save what is had or must from you be took.
Thus do I pine and surfeit day by day,
Or gluttoning on all, or all away.

William Shakespeare, Sonnet LXXV