31 março, 2006

Foi neste dia #12 (1889)

Faz hoje 117 anos que foi inaugurada a Torre Eiffel

30 março, 2006

Brincando com as palavras

Construção
Letra e música: Chico Buarque (1971)

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

28 março, 2006

Palavras lidas #4

O livro de Mark Haddon revela o mundo pela visão de um adolescente autista, sobredotato em termos matemáticos, mas incapaz de compreender as emoções humanas. O romance-mistério desenvolve-se na altura em que o "confortável" mundo de Christopher se altera para sempre. Aqui vão umas palavras lidas:

"151. Lots of things are mysteries. But that doesn't mean there isn't an answer to them. It's just that scientists haven't found the answer yet."

25 março, 2006

Evidências que só alguns vêm

Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem, cada um é como é.














Nunca sei como é que se pode achar um poente triste.
Só se é por um poente não ser uma madrugada.
Mas se ele é um poente, como é que ele havia de ser uma madrugada?

(Ambos in Poesia, Alberto Caeiro, Assírio & Alvim)

23 março, 2006

Palavras lidas # 3


O Osso

Há ocasiões em que me pergunto por que motivo, cada vez com mais frequência, regresso à Beira Alta, e a única resposta é que me sinto um cão que deixou por aqui, não sei bem onde, um osso enterrado, que me lembro do osso sem ter a certeza de que osso é que era nem em que lugar o escondi e, no entanto, necessito encontrá-lo como se o osso fosse, para mim, uma questão vital. Não como se o osso fosse: o osso, qualquer que ele seja, é uma questão vital. O problema consiste no facto de com os anos terem mudado quase tudo: tantos prédios novos, tantas ruas, tanta gente estranha. Reconheço algumas casas
poucas
a igreja de S. Miguel, claro, o cemitério, claro, pedaços de travessas, restos de pinhal. Até a feira mudou: já não existem leitões, nem barros, nem ourives, os ourives que partiam de bicicleta, em bando, vestidos de preto, com molas de roupa na dobra das calças. (...) O cheiro, no entanto, mantém-se, reconheceria este arzinho não importa onde. E a serra igual, em manhãs assim, nítida de uma ponta a outra do horizonte. Ao construírem uma destas rotundas, um destes edifícios, terão, sem darem conta, levado o meu osso consigo? Um osso, acho eu, feito de tanta coisa: pessoas, tardes intermináveis com uma pedra de mica na mão, o correio das seis. A vindima. A loja do Senhor Casimiro. Eu. Os pinheiros e pinheiros, em alguns pontos tão espessos que o ar custava a entrar. Farejo por aqui e por ali sem achar nada, nem sequer a minha avó a dizer
- Filho
sobretudo nem sequer a minha avó a dizer
- Filho
uma maneira de dizer
- Filho
que mais ninguém dizia assim.
- Filho
dizia ela, e tudo em paz a seguir. (...)

Oceano Pacífico

Golden Gate, Baía de San Francisco, 18 de Março 2006

22 março, 2006

Tenho dó...

"Tenho dó dos pobres. E também tenho dó dos ricos. Tenho mais dó dos ricos, porque são mais infelizes. Quem é pobre pode julgar que, se deixasse de o ser, seria feliz. Quem é rico sabe que não há maneira de ser feliz. Quem é pobre tem uma só preocupação, ou uma só preocupação principal - pobreza. Quem é rico, como infelizmente não tem essa, tem que ter todas as outras. Nunca vi homem rico mais feliz que um pobre; a não ser que por felicidade se entenda aquilo que se pode comprar no alfaiate e no ourives, e comer-se num restaurante. Mas até este ponto de materialismo histórico não creio que vão os mesmos... Os pobres são felizes: tem uma ilusão - creem que o alfaiate, o ourives, o dono do restaurante caro são os dispensadores da felicidade. Creem nisso. Os ricos são os ateus do alfaiate. O único homem feliz é o que não toma nada a sério. Quanto mais as coisas se tomam a sério mais infeliz se é. O que toma a sério a sorte da humanidade é quase o mais infeliz de todos os homens... Quase: o que toma a sério a sorte do mundo e o enigma do universo é ainda mais infeliz."

Bernardo Soares, Livro do Desassossego

21 março, 2006

Pormenores #2

Forte de Alcatraz, Baía de San Francisco, Califórnia

16 março, 2006

Cada vez mais me convenço


XLI

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...

Ah!, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E nao haveria em nós necessidade de ilusão...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos...

Alberto Caeiro
em "O Guardador de Rebanhos"

15 março, 2006

E Pluribus Unum ...


Hoje murchas à saída do Estádio da Luz :(

Foi neste dia #11 (1985)

Mikhail Gorbachev foi eleito presidente do comité central do Partido Comunista Soviético faz hoje vinte e um anos... foi o princípio do fim.

14 março, 2006

Uma boa notícia


Uma promoção portuguesa do outro lado do mundo

(Fotografia foi roubada aqui)

Foi neste dia #10 (1879)

Foi a 14 de Março de 1879 que nasceu Albert Einstein, faz hoje 127 anos... tinha de ser um número primo :)

Ficava tão bem lá em casa * 6

Moment before the kiss, Rabi Khan

11 março, 2006

Pormenores #1

406 Beacon street, Boston, Massachusetts

Still

These few lines I'll devote
To a marvelous girl covered up in my coat
Pull it up to your chin
I'll hold you until the day will begin

Still
Lying in the shadows this new flame will cast

Upon everything we carry from the past
You were made of every love and each regret
Up until the day we met

There are no words that I'm afraid to hear
Unless they are "Goodbye, my dear"

Still
I was moving very fast
But in one place
Now you speak my name and set my pulse to race
Sometimes words may tumble out but can't eclipse
The feeling when you press your fingers to my lips

I want to kiss you in a rush
And whisper things to make you blush
And you say, "Darling, hush
Hush
Still, still

(Elvis Costello)

08 março, 2006

Fado


Hoje às 10 da noite ouvi pela primeira vez o programa de Luís Ramos Rua do Capelão na Antena 2. Fiquei fascinada com as "histórias transversais" à história contada. Falou-se do famoso quadro de José Malhoa O Fado de 1910, que veio na sequência de Os Bebados de 1907. A tela d'O Fado mostra a arte de Malhoa nos sentimentos que as personagens não conseguiriam expressar.

O pintor tinha um estúdio na Rua 5 de Outubro em Lisboa e pagou a dois figurantes Amânsio (chulo) e Adelaide (prostituta). Amânsio, no final de cada sessão espancava Adelaide por esta dar demasiadas atenções ao artista. Impediu ainda que ela aparecesse com a alça descaída do ombro e não foram poucas vezes que Malhoa os foi buscar ao governo civil para continuarem as sessões.

O programa foi cerca de meia hora com a narrativa interrompida por sons de guitarras e declamações de poemas de famosos fados... fenomenal!

Tenho uma dúvida

A alínea m) do artigo 133º da Constituição da República Portuguesa reza assim: Compete ao Presidente da República, relativamente a outros órgãos "nomear e exonerar, sob proposta do Governo, o presidente do Tribunal de Contas e o Procurador-Geral da República".

Mas já hoje é dia 8, a tomada de posse do novo Presidente da República está agendada para amanhã!!

Será esta dificuldade que impediu o Sr. Presidente da República cessante de assumir a competância que a Lei lhe confere? É que a nomeação pode ser feita por substituição antes do termo do mandato do Sr. Procurador.

04 março, 2006

Num dia de sol

Eu não existo sem você

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você.

(Tom Jobim e Vinícius de Moraes)

Saudades?

Não sei se é impressão minha, mas parece-me que desde as eleições presidenciais, Jorge Sampaio anda a querer mostrar-se. Deve ser para compensar os meses anteriores em que andava um bocado apagado. O objectivo de querer deixar a imagem de um presidente activo e com noção do cumprimento do dever é, para mim, claro. Ora vejamos:

- no dia 25 de Janeiro, Sampaio condecorou empresários portugueses por eles fazerem o que lhes compete como empresários, isto é: "estimular as empresas portuguesas".
- no dia 9 de Fevereiro, Sampaio fez uma visita surpresa a Nelas num périplo por "onze concelhos de Viseu que ainda lhe faltava visitar para completar os 308"... nada melhor que deixar uns quantos concelhos para poder gozar da ribalta até ao fim... chatice é Nelas ser um deles, por causa daquelas Canas!
- no dia 21 de Fevereiro, Sampaio inicia uma visita oficial a Timor Leste naquela que foi mencionada como a última deslocação do presidente ao estrangeiro.
- no dia 1 de Março, Sampaio fez questão de condecorar um dos mandatários de Manuel Alegre que foi capitão de Abril. Os outros mandatários que perdoem, mas não têm a mesma importância. Ser capitão de Abril é, apesar de tudo, ser capitão de Abril! Tem o seu status próprio, não precisa cá de estimular as empresas ou de esclarecer a opinião pública.
- no dia 2 de Março, Sampaio condecorou seis jornalistas: 2 correspondentes de órgãos de comunicação portugueses em Bruxelas, 3 comentadores e ainda um correspondente da TVE em Portugal por se dedicarem às causas públicas e por os considerar "uma espécie de 'pais da pátria'" na medida em que esclareceram assuntos "sobre a União Europeia como se de assuntos normais se tratasse"... em poucas palavras, por fazerem so seu trabalho.
- hoje, Sampaio desloca-se à Argélia (será esta a última deslocação?) para homenagear o antigo Chefe de Estado Manuel Teixeira Gomes, que se exilou e morreu naquele país do Norte de África... uma viagenzinha à Argélia até vem a calhar para escapar ao mau tempo em Portugal continental.

É possível que eu esteja um pouco fora da realidade, mas parece-me que esta vontade de aparecer a todo o custo em todo o lado mostra que o presidente escolheu sair do compreensível estado amorfo em que se colocou após a escusada dissolução. Quem a todo o custo quer usar saltos altos é porque tem complexos de ser baixo... se calhar é mesmo!

Dá vontade de repetir as palavras de Narciso em O Pátio das Cantigas: "Ohh Evariiiisto... leva saudades que é coisa que cá não deixas!"

02 março, 2006

Foi neste dia #9 (1933)

O filme King Kong estreou em NYC a 2 de Março de 1933, há 73 anos.