29 setembro, 2009

Ditto #130

A beleza é grega. Mas a consciência de que ela é grega é moderna.

--Fernando Pessoa, Aforismos e Afins

28 setembro, 2009

Palavras lidas #97

Em duas ou três vezes que tomou, para descer, nestas semanas, aquele caminho, Raimundo Silva não encontrou o cão, e pensou que, cansado de esperar da avareza dos vizinhos a ração vital mínima, ele teria emigrado para paragens mais abundantes de restos, ou então acabara-se-lhe simplesmente a vida por ter esperado demasiado. Lembrou-se do seu gesto de caridade e disse consigo mesmo que bem o poderia ter repetido, mas isto de cães, sabe-se como é, vivem com a ideia fixa de ter um dono, dar-lhes confiança e pão é tê-los à perna para sempre, ficam a olhar para nós com aquela ansiedade neurótica e não há outro remédio que pôr-lhes coleira, pagar a licença e metê-los em casa.

José Saramago, História do Cerco de Lisboa, p. 272

Beauty & Time...

Before the Mirror, Edgar Degas

Thy glass will show thee how thy beauties wear,
Thy dial how thy precious minutes waste;
The vacant leaves thy mind's imprint will bear,
And of this book this learning mayst thou taste.
The wrinkles which thy glass will truly show
Of mouthed graves will give thee memory;
Thou by thy dial's shady stealth mayst know
Time's thievish progress to eternity.
Look, what thy memory can not contain
Commit to these waste blanks, and thou shalt find
Those children nursed, deliver'd from thy brain,
To take a new acquaintance of thy mind.
These offices, so oft as thou wilt look,
Shall profit thee and much enrich thy book.

William Shakespeare, sonnet LXXVII

27 setembro, 2009

Contas feitas, foi assim que ficou

Vamos ver se por mais quatro anos

Caprichos #111

palmiers, palmeras (palmeiras), schweineohren (orelhas de porco)

Espantos #221

11 n' counting

Já foi?

26 setembro, 2009

Sem título #13

A arte de captar momentos de guerra da exposição This is War! Robert Capa at work (com fotos da Guerra Civil de Espanha, da Guerra Sino-Japonesa e da Segunda Guerra Mundial), fez-me pensar nestes reporteres. Por escolha própria vão para lugares de perigo máximo, testemunhando cenários por vezes indescritiveis, para dar ao mundo imagens que não se esquecem facilmente (bem patente neste filme).





Ditto #129

Truth does not change according to our ability to stomach it.

-- Flannery O'Connor

No Times de hoje #105

From the New York Times Travel section, a fantastic slideshow of pictures denominated "Why We Travel." There are places I would like to go, and other places I would probably not go, but every picture leaves me an indescribable sense of world citizenship. I have done #16, and you?

25 setembro, 2009

23 setembro, 2009

Coisas que não mudam #107

Afternoon snack... the situation and the dialog were as follows:

bartender ola
me ola
(undecided on what to choose I take my time, he waits)
me un croissant de chocolate, por favor
bartender para llevar?
me
bartender venga, .90c
(I gave him the exact .90c)
bartender vale
me gracias
bartender (giving me the croissant) a ti

Two things:
1. still fascinated by the local verbal expressions;
2. other than being partially covered with solid chocolate, the croissant is filled with molten chocolate!

Palavras lidas #96

Antemanhã

O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse "Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Nem o Terceiro quer desvendar?"

E o som na treva de ele a rodar
faz mau o sono, triste o sonhar.
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que o seu senhor veio aqui buscar.
Que veio aqui seu senhor chamar --
Chamar Aquele que está dormindo
E foi outrora Senhor do Mar.

Fernando Pessoa, Mensagem

21 setembro, 2009

Espantos # 219


Foi mais ou menos assim:

Ricardo Araújo Pereira: Senhor Deputado imagine que vai a conduzir numa avenida e encontra o sinal verde para si e vermelho para os peões. Vê a Zita Seabra a atravessar, acelera ou pára o carro? (não está ninguém a ver... o que faz?"

Jerónimo de Sousa (rindo e bebendo água atrapalhadamente): Olhe, nem que viesse acompanhada da Dra. Ferreira Leite e com o Santana Lopes à frente. Dizia: sei que não gostam do vermelho... parava o carro e fazia um gesto para as mandar passar.

19 setembro, 2009

Sem título # 12

Ainda faltam 8 dias? Ainda.

É-me difícil, felizmente, imaginar como seriam estas vésperas há 35 anos atrás. Não tenho pena de não o saber.

Mas tenho muita pena de hoje serem o que são. Já passei alguns actos eleitorais e de ano para ano sinto um desvirtuar das campanhas e dos debates onde o esclarecimento dá lugar à intriga e ao insulto. As pessoas já não discutem nada, criticam, gozam e muitas defendem sem saber o quê e porquê.

As campanhas, pagas por todos nós, são passeatas mais ou menos populares onde o contacto com votantes e não votantes (ai tanto bebé lambuzado) mais não é que beijocada sacos de plástico e canetas. “No dia em que o rei fez anos houve arraial e foguetes no ar. O vinho correu à farta e a fanfarra não parou de tocar e o povo saiu à rua” mas não com a alegria que costumava ter. Não.

Em 2009 discute-se a licenciatura do primeiro-ministro, escutas, o encerramento de um telejornal, ao que tudo indica, por pressões políticas e a suspensão do TGV (quando há tempo).

Trocava? Não, não trocava. Mas queria muito melhor. Será que não merecemos?

Da vivência democrática dos últimos 35 anos eis-nos aqui: 15 forças políticas apresentam-se a sufrágio e a maior parte delas não conseguimos saber o que defende ou sequer pronunciar a sua sigla.

As entrevistas dos Gatos Fedorentos aos líderes partidários foram mais vistas do que os debates moderados por jornalistas profissionais. Demonstrativo, não? As pessoas preferem rir-se da política do que perceber o conteúdo das ideias, ou pelo menos saber se existem, de quem a representa.

“Mas nesse reino distante, quem tinha um olho era rei. Lá vai rei morto rei posto, levado em ombros p'la grei" E nós deixamos...

Coerências do BE

No Expresso de hoje.

Olha para o que eu digo... que eu escondo o que faço....

Numa sala perto de mim #112

Ingloriuos Basterds (2009) a nova "paródia" de Tarantino, desta vez a propósito da Segunda Guerra Mundial. A história está bem imaginada e ligada e tudo faz sentido ao mais ínfimo pormenor. Eu, no entanto, sou a única pessoa que conheço que não gosta do estilo de Tarantino (estou por isso haituada a ser voz dissonante em conversas de café) por isso este filme tem o mesmo sabor que os outros trabalhos do realizador: nada é credível. Foge a esta tendência apenas a primeira cena em que pensei poder vir a mudar de opinião acerca do realizador... ilusão. Nos primeiros 10-15 minutos do filme o espectador, apesar de sentado numa sala de cinema, é levado a acreditar que um idêntico cenário possa de facto ter acontecido, pelo que sem dar por isso se alinha psicologicamente com o terror sentido por algumas das personagens do ecrã... isto, para mim, é por definição um bom filme. O que sobra são mais de duas horas de monumentais piadas (que misturam o negro cenário da segunda guerra mundial, com o tacanho espírito da América profunda - sem esquecer o sotaque - o que poderá ter o seu mérito, mas não combina lá muito bem) ridicularizadas com um cru sentido de humor que não aprecio.

Segui o resto do filme, organizado em capítulos como outras obras primas da sétima arte, mas sem ligação com qualquer personagem particular, de tal forma que até as variadas cenas de violência gráfica, muito comuns em Tarantino, nem me impressionaram... não tinham para mim a mínima chance de serem reais, pelo que não chocaram. Não foi, apesar de tudo, uma perda completa. Posso não apreciar Tarantino em geral, mas há algo de particular que se distingue no trabalho deste realizador: as fenomenais bandas sonoras. Pulp Fiction (1994), filme e música ficaram para a história, provavelmente o mesmo irá acontecer com Inglorious Basterds... para mim, valem ambos apenas a música.

18 setembro, 2009

No Times de hoje #104

Another day with several interesting articles in the Times. Too many to make an elaborate commentary on each one individually therefore, I leave here a few excerpts and their context:From article 1:
The execution of Mr. Broom, 53, was postponed Tuesday after technicians tried and failed for more than two hours to maintain an IV connection in order to inject him with lethal drugs.The death penalty issue again, this time a convicted rapist-murderer (who, by the way, claims innocence, as I suppose most would even if guilty, though past events should teach us better), which may raise the argument that this monster is just getting the suffering he deserves, since he presumably induced it before. Makes me wonder if the society that willingly decides to inflict such pain (as in a failed execution attempt) is not a monster itself.

From article 2:
Mr. Skidelsky observes: “His conclusion was that the pursuit of money — what he called ‘love of money’ — was justified only to the extent that it led to a ‘good life.’ And a good life was not what made people better off: it was what made them good. To make the world ethically better was the only justifiable purpose of economic striving.”Apropos of Keynesian economics. My thoughts on this go beyond the current heated debate on the state of macroeconomics. Economics with the purpose of an ethically better society has a name: Sociology. From an economist point of view, the best economic outcome should emerge from the market's invisible hand... it's been like that since Adam Smith. In the event of market failure, the government is there to provide corrections. Now, does this mean that if the best economic outcome differs from the most ethical one (necessarily subjective in nature), the definition of ethics should be government enforced? Well, I have my sincere doubts with respect to government's ethically imposed values... something 20th century history illuminates pretty well.

From article 3:
But despite our infatuation with those who grow, butcher, cook, style, photograph and review our food, we still dismiss the people with whom we have the most contact in the food world: our waiters. (...) It’s a shame, but the service is often the least satisfying piece of dining out.The author argues for the adoption of a service charge (as in Europe) in American restaurants to provide incentives for better service by waiters. Growing up in Europe and having lived nine years in US, I could not disagree more. American service -- in which the customer unknowingly goes through an organized check list of activities: first you get seated, then you are offered the menues while placing the drink order, then you place the food order, then you get the food, then you are asked if everything is according to your liking, then you get dessert and then you get the check... stages separated from each other by about five minutes, maybe a bit longer to get the food, but not overly so -- completely dwarfs the European system in which pretty much you're mostly left on your own having to wave at the waiter (which most of the time doesn't see you or pretends not to) everytime you need something, may it be extra or not. This happens pretty much everywhere in continental Europe, whether in Portugal or the Netherlands, just to pick two sufficiently different countries. It's fine if you grew up in such a system or if you experience it on vacation, but in principle, I think incentives for good service are better set in the US.

Ditto #128

Reading is to the mind what exercise is to the body.

-- Sir Richard Steele

17 setembro, 2009

Caprichos #110

pêssego + morango + iogurte natural açucarado

15 setembro, 2009

Retirado do contexto #106

assim devera eu ser,
se não fora... não querer

12 setembro, 2009

Ditto #127

Do not give what is holy to dogs, and do not throw pearls before the swine, lest they trample them under their feet, and turn and tear you to pieces.

-- Matthew 7:6

Palavras lidas #95

-- O mal verdadeiro, o único mal, são as convenções e as ficções sociais, que se sobrepõem às realidades naturais -- tudo, desde a família ao dinheiro, desde a religião ao estado. A gente nasce homem ou mulher -- quero dizer, nasce para ser, em adulto, homem ou mulher; não nasce, em boa justiça natural, nem para ser marido, nem para ser rico ou pobre, como também não nasce para ser católico ou protestante, ou português ou inglês. É todas estas coisas em virtude das ficções sociais.

Fernando Pessoa, O Banqueiro Anarquista

11 setembro, 2009

No Times de hoje #103

When I think about this day eight years ago, I still find ideas and feelings that are hard to articulate in inteligible form. It's pointless to recall what I did that day due to the lack of relevance, but living in New York at the time made me realize symultaneously the worst and the best in people and that was perhaps my life's most challenging experience.

Today the Times has two brief articles related to the issue. One brings the views of 9/11/01 by five article contributors who express their healing/coping processes in a way only professional writers can, making the reader connect sometimes too closely to the written words... stuck in my head the sentence YOU ARE ALIVE. The other, touches the issue somewhat tangentially with a long run perspective of spacial regeneration that links the tragic events of 9/11/01 and the arrival of Henry Hudson in Manhattan on 9/12 exactly 400 years ago. Always useful to put things in perspective.

09 setembro, 2009

Espantos #217


The hills are alive with the sound of music :-)

06 setembro, 2009

Espantos #216

Hikers @ Aguille du Midi

03 setembro, 2009

Espantos #215

Tudo de bicicleta: mãe, filho e cão!

Caprichos #108

How I saw Geneva: food and map in one hand, the other had the camera!

Forget not where you are...