31 julho, 2013

Palavras lidas #223

Querida Ibis:
Desculpa o papel impróprio em que te escrevo; é o único que encontrei na pasta, e aqui no Café Arcada não têm papel. Mas não te importas não?
Acabo de receber a tua carta com o postal, que acho muito engraçado.
Ontem foi — não é verdade? — uma coincidência engraçadíssima o facto de eu e minha irmã irmos para a Baixa exactamente ao mesmo tempo que tu. O que não teve graça foi tu desapareceres, apesar dos sinais que eu te fiz. Eu fui apenas deixar minha irmã ao Avda. Palace, para ela ir fazer umas compras e dar um passeio com a mãe e a irmã do rapaz belga que aí está. Eu saí quase imediatamente, e esperava encontrar-te ali próximo para falarmos. Não quiseste. Tanta pressa tiveste de ir para casa de tua irmã!
E, ainda por cima, quando saí do hotel, vejo a janela de casa de tua irmã armada em camarote (com cadeiras suplementares) para o espectáculo de me ver passar! Claro está que, tendo visto isto, segui o meu caminho como se ali não estivesse ninguém. Quando eu pretendesse ser palhaço (para o que, aliás, o meu feitio natural pouco serve) oferecia-me directamente ao Coliseu. Era o que faltava agora! Que eu tolerasse a brincadeira de ser dado en spectacle para a família!
Se não havia maneira de evitares estares à janela com 148 pessoas, não estivesses. Já que não quiseste esperar-me ou falar-me, ao menos tivesses a cortesia — já que não podias aparecer  à janela — de não aparecer .
Ora eu não posso estar a explicar-te estas coisas. Se o teu coração (supondo a existência desse senhor) ou a tua intuição te não ensinam instintivamente estas coisas, eu, por mim, não posso constituir-me em teu professor delas.
Quando me dizes que o que mais desejas é que eu case contigo, é pena que me não expliques que tenho ao mesmo tempo que casar com tua irmã, teu cunhado, teu sobrinho e não sei quantas freguesas da tua irmã.
Sempre e muito teu
Fernando

31/7/1920
Esta carta foi escrita no esquecimento de que tu costumas mostrar as minhas cartas a toda a gente. Se me tivesse lembrado disso — acredita — eu tê-la-ia suavizado um pouco. Mas agora já é tarde; não importa. De resto nada importa.
F.
31-7-1920

Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.) Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994). 
 - 31.
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Fonte

30 julho, 2013

Pormenores #95

Flor da violeta

Foi neste dia #210 (1928)

Muitos parabéns Sra. D. Eunice Muñoz!

29 julho, 2013

Coisas que não mudam #231

A publicidade de verão da sagres é sempre notável. A deste ano é bem apelativa, mas talvez seja o lado emigrante a falar...
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Não tenho o nosso sol,
Não tenho o nosso mar,
Não tenho a nossa luz,
Mas não me posso queixar.
Não tenho as nossas praias,
Nem as ondas e o surf,
Nem os biquínis no verão,
Mas tenho a minha Sagres.

Não tenho os estádios cheios,
Nem a nossa selecção,
Não tenho os grandes golos,
Tenho aqui a nação.
Não tenho cá os abraços,
Nem a língua portuguesa,
Nem o humor que é do nosso,
Mas tenho a minha Sagres.

Não tenho o pastel de nata,
Nem o peixe, o nosso sal
e o marisco,
Mas tenho aqui Portugal.
Não tenho cá toda a família,
Nem pai, nem mãe, nem primos,
Não tenho os grandes amigos,
Mas tenho a minha mini.

Não tenho Alfama e o Tejo,
Não tenho o Douro e a Beira,
Nem o Algarve e o Minho,
Mas tenho aqui a bandeira.
Não tenho séculos de história,
Nem os santos populares,
Não tenho o fado cantado,
Mas tenho a minha Sagres.

E nós aqui, temos tudo...
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Aqui lê-se acerca da portugalidade da sagres.

Espantos #367

 Copacabana espantosa sem e com multidão

Coisas que não mudam #230

E come-se tão bem no Porto!

Caprichos #258

Chá rooibos / Rooibos tea

28 julho, 2013

Foi neste dia #209 (1914)

Há 99 anos a Austria-Hungria declarava guerra à Sérvia. Eram os princípios da primeira guerra mundial que começaria oficialmente com as declarações de guerra que se seguiram por parte de outras nações europeias.

26 julho, 2013

Ditto #249

A word is like a bird. Once you let it out you can never get it back.

--Chinese proverb

25 julho, 2013

Espantos #366

Sala da música, Palácio de Monserrate, Sintra

Construído de 1858 a 1866 no local de outro palácio, o palácio de Monserrate é um exemplo da arquitectura romântica do século XIX e mostra a riqueza de outras épocas. Quem hoje encomendaria tal sala de música? Como em tantos outros casos, as limitações da fortuna dos proprietários forçaram à venda do palácio em 1946. Três anos depois foram a leilão todos os bens do palácio e o Estado tornou-se proprietário do imóvel. Em 2001 deu-se o concurso público para as obras de restauro, que ainda decorrem no interior do edifício, embora o parque esteja já completamente reabilitado.
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História completa aqui.

22 julho, 2013

Caprichos #257

Quase despercebidas à entrada de um prédio em Castelo Branco

21 julho, 2013

Ditto #248

It is with books as with men - a very small number play a great part, the rest are lost in the multitude.

-- Voltaire

19 julho, 2013

Foi neste dia #208 (1415)

Filipa de Lencastre morreu de peste, há 598 anos, depois de abençoar os seus três filhos  (Duarte, Pedro e Henrique) que em breve partiriam para Ceuta, que conquistaram e onde foram armados cavaleiros.
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Philippa of Lancaster died of the plague 598 years ago, after blessing her three sons (Edward, Peter and Henry) about to depart to Ceuta, which they conquered and where they were knighted.

16 julho, 2013

14 julho, 2013

Retirado do contexto #159

Os apaixonados...

Marcante

Foi promulgada na semana passada uma alteração à lei da nacionalidade aprovada no passado dia 12 de Abril, que permite a garantia de cidadania aos descendentes dos judeus que fugiram de Portugal no século XVI aquando da inquisição. Passados 500 anos, os judeus sefarditas (originários da Península Ibérica) dispersaram-se ao longo do Norte de África, do antigo Império Otomano, e também do continente americano, tendo ainda uma comunidade significativa na Holanda. Esta última quase não sobreviveu à segunda grande guerra, mas, tal como as outras, mantém vivas as tradições portuguesas talvez até com mais afinco que os cidadãos nacionais residentes em Portugal que as tomam por garantidas.

Apesar de não falar a nossa língua este ramo do povo hebraico, forçadamente nómada ao longo da sua história, não procura apagar o passado mas deseja seguir em frente fechando uma página negra da história que viveram. Dos que foram impedidos de fugir e forçadamente se converteram, pouco ou nada resta de raízes judaicas. Alguns perguntam-se se serão descendentes desses outros infelizes, mas o que lá vai lá vai distante e o trabalho que dá investigar não merece a pena. E temos este país uniformemente católico, voluntariamente ou não. 

De tristezas não reza a história. Temos ao menos instituições que reconhecem erros passados e uma crise actual que ajuda a esta lavagem de cara. Seja.
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Fonte em português e em inglês.

Pedaços do Algarve

Só é pena as manhãs nebuladas...

11 julho, 2013

Palavras lidas #222

Capítulo I

Era eu mais jovem e mais influenciável, deu-me o meu pai um conselho no qual, desde então, tenho matutado.
-- Sempre que tiveres vontade de criticar alguém --sentenciou--, lembra-te que nem todas as pessoas deste mundo tiveram as mesmas oportunidades que tu tiveste.
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Começa assim o grande (pequeno) livro de F. Scott Fitzgerald.

Storm

Why didst thou promise such a beauteous day,
And make me travel forth without my cloak,
To let base clouds o'ertake me in my way,
Hiding thy bravery in their rotten smoke?
'Tis not enough that through the cloud thou break,
To dry the rain on my storm-beaten face,
For no man well of such a salve can speak
That heals the wound and cures not the disgrace:
Nor can thy shame give physic to my grief;
Though thou repent, yet I have still the loss:
The offender's sorrow lends but weak relief
To him that bears the strong offence's cross.
Ah! but those tears are pearl which thy love sheds,
And they are rich and ransom all ill deeds.


William Shakespeare, Sonnet XXXIV

08 julho, 2013

Pormenores #94

 Mais de Joana Vasconcelos no Palácio Nacional da Ajuda.

Palavras lidas #221

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa, 20 Set. 1933
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To travel! To change countries!
To be forever someone else,
With a soul that has no roots,
Living only off what it sees!

To belong not even to me!
To go forward, to follow after
The absence of any goal
And any desire to achieve it!

This is what I call travel.
But there’s nothing in it of me
Besides my dream of the journey.
The rest is just land and sky.

Fernando Pessoa, 20 Sep. 1933

06 julho, 2013

Verão #4

Lisboa deverá hoje registar temperaturas record (previsão 42C), numa onda de calor bastante selectiva.
Lisbon should register record breaking temperatures today (forecast: 42C, or 108F) in a very selective European heat wave.

04 julho, 2013

Sem título #30

"This week we put Egypt on the cover, without enthusiasm. Some people—including many Egyptians are cheering the ouster of the Islamist president, Muhammad Morsi. We think it a tragedy. It sets a dreadful precedent for the region, in that it encourages discontented people to get rid of their leaders by disrupting their rule, not by voting them out, and it encourages Islamists to distrust democracy. The army can mitigate the situation by holding elections swiftly and cleanly, but much damage has already been done."

John Micklethwait, Editor-in-Chief of The Economist

Ditto #247

Equality may perhaps be a right, but no power on earth can ever turn it into a fact.

-- Honore de Balzac

03 julho, 2013

Espantos #364

A leitura de documentos antigos sempre me fascinou. A dificuldade não é a linguagem arcaica, mas antes compreender a forma como se escrevia em cada época. Até determinada altura a escrita era monopólio dos conventos e mosteiros onde os frades escreviam e copiavam documentos todos com o mesmo estilo gráfico. Não é fácil de ler, mas o olho treinado consegue. A partir dos séculos XIII-XIV a escrita saltou para fora dos muros dos mosteiros passando de frades para escrivães e notários. Nos séculos seguintes, as grafias alteraram-se drasticamente e as abreviaturas multiplicaram-se. O XV e o XVI exibem as piores grafias (o último tem a fama de ser o século do "esparguete") que voltam a convergir por volta dos finais do século XVIII parecendo-se já com a maneira como se escreve hoje em script.

Este curto documento é de 1389:
é difícil ler o que diz, mas felizmente há gente especializada na leitura deste tipo de escrita.
Ora aí está a transliteração em português arcaico: trata-se da ordem do rei D. João I para a fundação de uma entidade incumbida de processar e liquidar as contas dos administradores das rendas reais. Era o princípio da contabilidade nacional com a criação dos contos reais.
E como ainda assim, às vezes, é difícil de compreender segue-se a leitura modernizada.
 Resumindo e concluindo: se não fizeres como te digo, assumes as perdas!
(clicar nas fotos para ampliar)

02 julho, 2013

Foi neste dia #207 (1932)

Há 81 anos morria em Londres o rei desventurado que sucedeu ao trono após o assassínio do seu pai e irmão mais velho. Lá permaneceu por dois conturbados anos antes de herdar o título inglório de último rei de Portugal. D. Manuel II tinha 42 anos e não tinha descendencia.