"Tenho dó dos pobres. E também tenho dó dos ricos. Tenho mais dó dos ricos, porque são mais infelizes. Quem é pobre pode julgar que, se deixasse de o ser, seria feliz. Quem é rico sabe que não há maneira de ser feliz. Quem é pobre tem uma só preocupação, ou uma só preocupação principal - pobreza. Quem é rico, como infelizmente não tem essa, tem que ter todas as outras. Nunca vi homem rico mais feliz que um pobre; a não ser que por felicidade se entenda aquilo que se pode comprar no alfaiate e no ourives, e comer-se num restaurante. Mas até este ponto de materialismo histórico não creio que vão os mesmos... Os pobres são felizes: tem uma ilusão - creem que o alfaiate, o ourives, o dono do restaurante caro são os dispensadores da felicidade. Creem nisso. Os ricos são os ateus do alfaiate. O único homem feliz é o que não toma nada a sério. Quanto mais as coisas se tomam a sério mais infeliz se é. O que toma a sério a sorte da humanidade é quase o mais infeliz de todos os homens... Quase: o que toma a sério a sorte do mundo e o enigma do universo é ainda mais infeliz."
Bernardo Soares, Livro do Desassossego
1 comentário:
Vamos tentar buscar momentos de felicidade nas pequenas coisas que nos dão prazer e quero acreditar que isso não são ilusões, mas os melhores minutos, horas ou dias da vida!!
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