15 março, 2009

Memórias #30

Há qualquer coisa de muito Português (diria até, qualquer coisa de fado) no lento processo de produção do caldo verde. Não estou a falar daquele que se compra no supermercado já migado em embalagens de plástico embrulhadas em celofane, já pesado e pronto a pôr na panela. Tais luxos encontram-se certamente em Portugal e em supermercados explorados por Portugueses junto de grandes comunidades emigrantes, como por exemplo em Newark NJ, ou Somerville MA. Ora no Tennessee quando há couves é bom comprá-las porque nem sempre há. E como de couves inteiras não se faz caldo verde tem pois de se migar as ditas. Não é tarefa fácil!

Primeiro lavar uma por uma cortando a parte central e dura, depois colocá-las a jeito na mão, folha à volta de folha, fazendo um molho que é preciso manter apertado com força na mão esquerda que, quando as couves são muitas, pode não abarcar todo o diâmetro do molho dando assim azo a que se desfaça tudo em três segundos. Com o molho bem seguro então é começar a cortar com a mão direita (os canhotos que troquem as mãos) onde a faca tem de estar muito muito próxima do polegar e indicador esquerdos porque caldo verde fininho é que é caldo verde! Mas fado porquê? Porque se pena um bocado para fazer a coisa como deve de ser e o meu braço esquerdo, de tanta força fazer a mão, ficou ressentido.

Lembro-me de em pequena ver a minha avó, ou a minha mãe a migar o caldo verde e sempre me impressionaram duas coisas: #1 como é que elas o conseguiam fazer tão fininho... quando lhes perguntava elas diziam "quando fores grande também cortas assim fininho" e #2 como é que nunca as vi cortarem-se! Tudo isto a propósito de ter encontrado couves no supermercado e hoje ter dedicado parte do meu tempo (foi muito e a mão esquerda sempre a apertar o molho das couves com a mesma força durante todo o tempo) a fazer caldo verde... custou mas foi. Não ficou tão fininho como devia (ahhh afinal...), mas também não ficou mau de todo. Da falta de chouriço não tenho pena pois nunca foi hábito comê-lo no caldo verde lá em casa e por isso a sopa de hoje ficou uma boa aproximação. Mas que há quem a faça melhor há... e nunca as ouvi queixarem-se dos braços!

2 comentários:

ana rita disse...

Outra maneira fácil de fazer caldo verde é ir a casa de uns emigrantes portugueses de longa data e eles oferecerem-te couves migadas por eles, congeladas, dentro de um ziplock bag. Lembras-te de comer isso em minha casa?

Atlantico Ocidental disse...

Lembro-me bem! Foi no mesmo jantar das favas com chouriço :)