Nos últimos dias tenho pensado nisto. O que
diria a alguém que não o conheceu e, por infortúnio da sorte, já não o poderá
fazer.
E isto não é nada fácil. Pois se para vocês
talvez seja o tio, o cunhado, o primo, o
chefe, o vizinho, o amigo, para mim é aquele que não poderei substituir: o meu
Pai.
O meu Pai foi uma pessoa séria, reservada,
leal, obstinadamente organizada, de ideias fixas e que raramente mudava de
opinião. Muitas das discussões que tivemos deveram-se sobretudo a isso. Acho
que também nisso éramos parecidos.
Um misto de emoções assola-me nos últimos
(longos) dias. Se por um lado, e de forma egoísta, ainda não consigo acreditar
que nunca mais vou sentir aquelas mãos papudas em festas desajeitadas na minha
cabeça, ou pesadas em cima dos meus ombros, por outro quero muito acreditar que
há certamente uma grande festa num sítio muito melhor que este onde vivemos,
com reencontros de pessoas também muito saudosas dele e que de lá vai acompanhando o que deixou precocemente cá por baixo.
Mesmo assim, o facto de saber que transporto o
mesmo nome e que, ainda por cima, temos algumas semelhanças, é uma enorme herança
e responsabilidade.
Sei que continuarei a ver-te nas coisas
bonitas, nos pratos apetitosos (nos da mãe sempre), nas praias calmas, nas
discussões com polícias, nas gravatas azuis, nos dias em que o Belenenses
ganhar (e nos que perder também, fica descansado) e quando for preciso falar
para evitar injustiças.
Acho que cresci Pai, mas era cedo, muito cedo
ainda para isso. Já tenho saudades e, apesar de querer muito pensar que há
forma de dar a volta, sei que não as mato.
Costumavas dizer “quando se nasce não se calça
40”. Acho que morro a calçar 36/37, mas prometo que disso não desço.
Beijo