Waltz with Bashir (2008, Israel), nomeado para melhor filme de língua estrangeira, retrata o drama psicológico dos veteranos de guerra. Curiosamente é uma animação.
Nunca fui muito à bola com animações. Para além dos cartoons de crianças francamente nunca percebi a razão de se fazerem filmes de animação sobre fantasias com pressupostos mais ou menos absurdos onde quase nada tem a ver com a realidade... que tal crescer, sair do livro de desenhos animados da infância e fazer um filme de ficção científica (género que também não aprecio por aí além) à séria? Numa discussão sobre Anime (que francamente abomino) um amigo disse-me que era uma forma de deixar a imaginação funcionar para além do que é possível com actores e cenários reais. É capaz de ter o seu valor acrescentado (certamente o tem, visto que a produção deste tipo de filmes não pára), eu é que não estou interessada. Adiante.
Neste filme no entanto, há um propósito, em meu entender válido, para o uso de animação. As realidades de guerra são tão crueis que o espectador é constantemente lembrado do facto que está a ver uma animação e que imagens reais teriam necessariamente impacto magnificado. O filme foca especificamente os massacres de Sabra e Shatila nos arredores de Beirute em 1982. Não se trata de uma realidade absurda proveniente das ideias de um realizador lunático que vive distanciado da realidade mesmo nos dias considerados normais. Tudo o que é referido no filme aconteceu mesmo. As personagens do filme são de facto ex-soldados do exército israelita que viveram aqueles acontecimentos. O realizador poderia ter feito um documentário, mas escolheu inteligentemente a animação para transmitir a mensagem. Eu, francamente, não me recordava dos massacres de Sabra e Shatila, mas infelizmente tantos outros ocasionalmente aparecem nas notícias gerando generalizado pesar. Os horrores vividos em Srebrenica 1995, Santa Cruz 1991, Tiananmen 1989, Auschwitz e tantos outros locais são impossíveis de descrever de forma racional e objectiva, daí que a animação seja uma óptima ferramenta de transmissão.
Os últimos minutos do filme retratam o regresso dos civis às localidades depois dos massacres e o encontro da realidade macabra pelas ruas. É já um cenário pesado em animação, mas o realizador levanta finalmente o véu e mostra, pela primeira vez, imagens reais da população em prantos e gritos de indignação. FENOMENAL!
2 comentários:
Tambem vi, e gostei mesmo muito. Brutal.
Não vi ainda, mas fiquei curiosa com a descrição. Obrigada pela dica!
SP
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