Na manhã que se segue à noite histórica, o país acorda no mesmo estado de crise em que se encontrava ontem. Apesar de o vencedor ter a minha preferência (se eu votasse, que não voto), é preciso manter os pés no chão e ver que no fim de contas estamos a falar de políticos e não de super-homens. Mas os americanos são assim. Gostam de herois, acreditam em salvadores da pátria e ficam estáticos com o chamado sonho americano. Talvez a grande diferença entre Americanos e Portugueses seja mesmo a capacidade de acreditar, porque gostar... gostar também nós gostamos de imaginar cavalos brancos em manhãs de nevoeiro.Tudo isto para dizer que o país enfrenta graves problemas de carácter estrutural, paralelamente à crise dos mercados. O caso que está a dar que falar nos últimos tempos passa-se no Nebraska. Em Julho passado aquele estado (um dos últimos) passou a chamada legislação de "safe-haven" que permite aos pais abandonarem crianças no hospital sem que possam ser processados pela justiça. A lei tinha em mente mães desesperadas e crianças recém-nascidas, mas como o termo usado na lei é apenas child, desde Julho que 27 crianças e adolescentes (o mais velho com 17 anos) foram abandonados nos hospitais do Nebraska. Familias desesperadas que não conseguem controlar os seus filhos podem agora apenas deixá-los no hospital.
Os filhos não têm responsabilidade nem respeito pelos pais. Os pais, que eram obrigados a ter pelo menos a responsabilidade dos filhos (ou então tinham a justiça atrás), são agora ilibados dela. O resultado é um triste cenário de perda de valores e princípios em que filhos e pais são indistintos.
O artigo Nebraska’s Abandoned Families no New York Times de hoje anuncia que estado se prepara para alterar a lei de forma a serem considerados apenas recém nascidos, mas alerta também para o facto de ser preciso fazer bem mais pelas famílias em causa.
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