02 novembro, 2007

Sem título # 2

O outro mundo, René Magritte

Tenho de mim a ideia que sou pessoa de ideias fixas. Reconheço mesmo que de vez em quando é difícil convencer-me de que não tenho razão. Normalmente não tomo decisões de ânimo leve, ou por instinto (salvo raras e honrosas excepções), penso muito antes de agir e esse processo faz com que acredite que as minhas convicções são as mais correctas e algumas vezes (mais do que algumas, in fact) não é assim.

Vem isto a propósito de uma notícia que me deixou estupefacta: actualmente cerca de metade dos funerais realizados em Lisboa são já cremações.

Há alguns anos atrás (não muitos) firmava a pés juntos que seria incapaz de tomar tal opção, e não é fácil explicar porquê. O fim é difícil de encarar e dar ordem para queimar (porque é disso que se trata) o que sobrou de quem tanto queremos parecia-me de todo impossível.

Hoje vejo o “depois da morte” de forma diferente (a morte não). Vejo nas periódicas romarias aos cemitérios o cultivar de rituais sem sentido, um cultivar em vida da própria morte, pois um cemitério mais do que isso não é.

A única coisa que resta de quem morre são as memórias com que delas ficamos, boas ou más. E essas, essas não se encontram ali.

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