
Somos sempre três nesta galera. Dois para fazer conversa e eu para remar.
Como é duro o pão quotidiano, duro de ganhar e duro de pagar!
Estes dois tagarelas são a minha única distracção, mas de qualquer forma é duro vê-los comer o meu pão.
Estão sempre a falar. Se não estivessem sempre a falar, dizem eles que certamente a imensidão do oceano e o barulho das tempestades me esgotaria a coragem e as forças.
Fazer avançar sozinho um barco, com um par de remos, não é nada fácil. É melhor que a água não ofereça resistência ... mas oferece-a. Oferece-a, sobretudo certos dias ...
Ah! Como gostaria de abandonar os meus remos.
Mas eles estão de olho em mim, sem terem mais que fazer, alem de conversar, e comer-me o pão, a minha pequena ração já dez vezes diminuída.
de A NOITE REVOLTA
(Henri Michaux, Antologia, Relógio d’Água)
Sem comentários:
Enviar um comentário