366 at last!
31 dezembro, 2012
29 dezembro, 2012
Espantos #347
A TAP voa para Accra no Gana, directamente de Lisboa!!
TAP flies to Accra in Ghana directly from Lisbon!!
28 dezembro, 2012
Palavras lidas #211
[Agosto de 1938]
(...) Olha, Pereira, disse o director, conhecemo-nos há pouco tempo, desde a fundação deste jornal, mas sei que és um bom jornalista, trabalhaste durante quase trinta anos como repórter, conheces bem a vida e tenho a certeza que me hás-de compreender. Farei o possível, disse Pereira. Pois bem, não estava à espera desta última coisa. Que coisa?, perguntou Pereira. O panegírico da França, disse o director, causou um grande descontentamento nos meios que contam. Que panegírico da França?, perguntou Pereira com ar surpreendido. Pereira!, exclamou o director, publicaste um conto de Alphonse Daudet que fala na guerra contra os alemães e que termina com a frase Viva a França. É um conto do século dezanove, respondeu Pereira. Será um conto do século dezanove, continuou o director, mas a verdade é que fala de uma guerra contra a Alemanha e tu não podes ignorar, Pereira, que a Alemanha é nossa aliada. O nosso governo não fez alianças, objectou Pereira, pelo menos oficialmente. Ora, Pereira, disse o director, vê se raciocinas, se não há alianças há pelo menos simpatias, fortes simpatias temos as mesmas ideias que a Alemanha, tanto em política interna como externa, e estamos a dar apoio aos nacionalistas espanhóis como a Alemanha. Mas na censura não levantaram objecções, argumentou Pereira, deixaram passar o conto sem problemas. Na censura são uns pacóvios, disse o director, uns analfabetos, o director da censura é um homem inteligente, é um amigo meu, mas não pode ler pessoalmente as provas de todos os jornais portugueses, os outros são funcionários, uns desgraçados polícias pagos para não deixarem passar palavras subversivas como socialismo e comunismo, não podiam compreender um conto de Daudet que termina com Viva a França, nós é que temos de estar vigilantes, que devemos ser prudentes, somos nós, os jornalistas, que temos experiência histórica e cultural, que devemos vigiar-nos a nós próprios. Eu é que sou vigiado, afirma ter dito Pereira, de facto estou a ser vigiado por alguém. Explica-te melhor, Pereira, disse o director, que queres dizer com isso? Quero dizer que tenho uma telefonista na redacção, disse Pereira, deixei de receber chamadas directas, têm de passar pela Celeste, a porteira do prédio. Em todas as redacções é assim, replicou o director, se estiveres ausente há sempre alguém que recebe as chamadas e que responde por ti. Sim, disse Pereira, mas a porteira é uma informadora da polícia, tenho a certeza. Deixa-te disso, Pereira, disse o director, a polícia é que nos protege, vela pelo nosso sono, devias estar-lhe grato. Eu não estou grato a ninguém, senhor director, apenas me sinto grato ao meu profissionalismo e à recordação da minha mulher. Devemos estar sempre gratos às boas recordações, condescendeu o director, mas tu, Pereira, deves mostrar-me a página cultural antes de a publicares, é isso que exijo. Mas eu tinha-lhe dito que era um conto patriótico, insistiu Pereira, e o senhor aprovou dizendo que nos tempos que correm há necessidade de patriotismo. O director acendeu um cigarro e coçou a cabeça. De patriotismo português, disse, não sei se me entendes, Pereira, de patriotismo português, tu não fazes senão publicar contos franceses, e os franceses não nos são simpáticos, não sei se me entendes, mas ouve, os nossos leitores precisam de uma boa página cultural portuguesa, ...
(...) Olha, Pereira, disse o director, conhecemo-nos há pouco tempo, desde a fundação deste jornal, mas sei que és um bom jornalista, trabalhaste durante quase trinta anos como repórter, conheces bem a vida e tenho a certeza que me hás-de compreender. Farei o possível, disse Pereira. Pois bem, não estava à espera desta última coisa. Que coisa?, perguntou Pereira. O panegírico da França, disse o director, causou um grande descontentamento nos meios que contam. Que panegírico da França?, perguntou Pereira com ar surpreendido. Pereira!, exclamou o director, publicaste um conto de Alphonse Daudet que fala na guerra contra os alemães e que termina com a frase Viva a França. É um conto do século dezanove, respondeu Pereira. Será um conto do século dezanove, continuou o director, mas a verdade é que fala de uma guerra contra a Alemanha e tu não podes ignorar, Pereira, que a Alemanha é nossa aliada. O nosso governo não fez alianças, objectou Pereira, pelo menos oficialmente. Ora, Pereira, disse o director, vê se raciocinas, se não há alianças há pelo menos simpatias, fortes simpatias temos as mesmas ideias que a Alemanha, tanto em política interna como externa, e estamos a dar apoio aos nacionalistas espanhóis como a Alemanha. Mas na censura não levantaram objecções, argumentou Pereira, deixaram passar o conto sem problemas. Na censura são uns pacóvios, disse o director, uns analfabetos, o director da censura é um homem inteligente, é um amigo meu, mas não pode ler pessoalmente as provas de todos os jornais portugueses, os outros são funcionários, uns desgraçados polícias pagos para não deixarem passar palavras subversivas como socialismo e comunismo, não podiam compreender um conto de Daudet que termina com Viva a França, nós é que temos de estar vigilantes, que devemos ser prudentes, somos nós, os jornalistas, que temos experiência histórica e cultural, que devemos vigiar-nos a nós próprios. Eu é que sou vigiado, afirma ter dito Pereira, de facto estou a ser vigiado por alguém. Explica-te melhor, Pereira, disse o director, que queres dizer com isso? Quero dizer que tenho uma telefonista na redacção, disse Pereira, deixei de receber chamadas directas, têm de passar pela Celeste, a porteira do prédio. Em todas as redacções é assim, replicou o director, se estiveres ausente há sempre alguém que recebe as chamadas e que responde por ti. Sim, disse Pereira, mas a porteira é uma informadora da polícia, tenho a certeza. Deixa-te disso, Pereira, disse o director, a polícia é que nos protege, vela pelo nosso sono, devias estar-lhe grato. Eu não estou grato a ninguém, senhor director, apenas me sinto grato ao meu profissionalismo e à recordação da minha mulher. Devemos estar sempre gratos às boas recordações, condescendeu o director, mas tu, Pereira, deves mostrar-me a página cultural antes de a publicares, é isso que exijo. Mas eu tinha-lhe dito que era um conto patriótico, insistiu Pereira, e o senhor aprovou dizendo que nos tempos que correm há necessidade de patriotismo. O director acendeu um cigarro e coçou a cabeça. De patriotismo português, disse, não sei se me entendes, Pereira, de patriotismo português, tu não fazes senão publicar contos franceses, e os franceses não nos são simpáticos, não sei se me entendes, mas ouve, os nossos leitores precisam de uma boa página cultural portuguesa, ...
Antonio Tabucchi, Afirma Pereira, capítulo 21, pp. 170-2
25 dezembro, 2012
Numa sala perto de mim #209
O Cônsul de Bordéus (2011), quite faithful to the events of June-July 1940.
24 dezembro, 2012
Numa sala perto de mim #208
Anna Karenina (2012). Joe Wright's vision of Tolstoy's classic is highly theatrical. Thinking about 19th century Russian society and the role of women in it... what isn't?!
23 dezembro, 2012
Retirado do contexto #146
14
Mas, entanto que cegos e sedentos
Andais de vosso sangue, ó gente insana,
Não faltaram Cristãos atrevimentos
Nesta pequena casa Lusitana.
De África tem marítimos assentos;
É na Ásia mais que todas soberana;
Na quarta parte nova os campos ara;
E, se mais mundo houvera, lá chegara.
Canto VII, Parte I
Mas, entanto que cegos e sedentos
Andais de vosso sangue, ó gente insana,
Não faltaram Cristãos atrevimentos
Nesta pequena casa Lusitana.
De África tem marítimos assentos;
É na Ásia mais que todas soberana;
Na quarta parte nova os campos ara;
E, se mais mundo houvera, lá chegara.
Canto VII, Parte I
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Retirado do contexto
20 dezembro, 2012
Parece que estou a ouvir #148
Arguably the most famous Christmas song of all time, Have Yourself a Merry Litte Christmas comes from a 1944 movie. There is a certain sad tone to the song, even more so if one pays attention to the lyrics, which have been changed to reflect a more upbeat mood of the holiday season. The original version by Judy Garland version is not even the most well known, after Bing Crosby, Frank Sinatra and so many others have recorded it over the years.
__________Have Yourself a Merry Little Christmas
Hugh Martin & Ralph Blane
Have yourself a merry little christmas
Let your heart be light
Next year all our troubles will be
Out of sight
Have yourself a merry little christmas
Make the yule-tide gay
Next year all our troubles will be
Miles away
Once again as in olden days
Happy golden days of yore
Faithful friends who are dear to us
Will be near to us once more
Someday soon, we all will be together
If the fates allow
Until then, we'll have to muddle through somehow
So have yourself a merry little christmas now.
19 dezembro, 2012
Ditto #227
The
first man to use abusive language instead of his fists was the founder of
civilization.
--Sigmund Freud
17 dezembro, 2012
Foi neste dia #193 (2010)
Há dois anos, Mohamed Bouazizi, um jovem vendedor ambulante tunisino, imolava-se no fogo como forma de protesto contra as repetidas formas de abuso e extorsão de que tinha sido vítima pelas autoridades do seu país. Bouazizi morreu no hospital pouco mais de duas semanas depois, mas o seu acto de protesto ressoou forte no Médio Oriente e deu origem à chamada Primavera Árabe. Tunísia, Egipto, Líbia e Iémen viram os seus regimes ditatoriais cair com maior ou menor rapidez. Nos restantes países da região os protestos mais ou menos violentos levaram a alterações governamentais --como em Marrocos-- ou à guerra civil --que dura há vinte meses na Síria. Melhor ou pior, o tempo o dirá, mas desde 17 de Dezembro de 2010 que o Médio Oriente mudou.
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Two years ago, Mohamed Bouazizi, a young Tunisian street vendor, set himself on fire in protest against the repeated abuse and extortion by his country's authorities. Bouazizi died in the hospital two and a half weeks later, but his act of protest spread through the Middle East starting the Arab Spring. Tunisia, Egypt, Libya and Yemen saw their dictatorial regimes fall at faster or slower speed. The remaining countries in the region saw more or less violent protests, which led to governmental changes --as in Morocco-- or civil war --currently in its twentieth month in Syria. Time will tell if for better or for worse, but the Middle East has changed since December 17, 2010.
16 dezembro, 2012
Foi neste dia #192 (1497)
Há exactamente 515 anos fez-se história. Vasco da Gama passava para lá do ponto de retorno de Bartolomeu Dias em 1488. Da Gama, é porventura o nome português mais conhecido de todos os tempos, rivalizando com Magalhães que é, ampla mas erradamente, tido como espanhol.
Mas poderia ter sido Dias a chegar pela primeira vez à Ásia por mar. A expedição comandada por Dias partiu de Lisboa dez anos antes da de da Gama em Agosto de 1487 e seguiu pelo caminho até então conhecido ao largo da costa africana. Em Fevereiro de 1488 passou pela Baía de São Brás já na África do Sul e chegaria ao seu ponto mais longínquo --hoje o Dias Point, ou Cabo Volta, onde deixou o Padrão de São Gregório*-- em 12 de Março do mesmo ano. Dias queria continuar viagem, mas a tripulação doente e amotinada revoltou-se e forçou o regresso. Na viagem de retorno é que se aperceberam que o Cabo da Boa Esperança já tinha sido dobrado. Chegaram a Lisboa em Dezembro de 1488.
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*Como os que Diogo Cão deixara na costa africana (do Congo à Namíbia) durante a década de 1480, também ele à procura da tal passagem para o Oriente.
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*Como os que Diogo Cão deixara na costa africana (do Congo à Namíbia) durante a década de 1480, também ele à procura da tal passagem para o Oriente.
15 dezembro, 2012
14 dezembro, 2012
12 dezembro, 2012
11 dezembro, 2012
A separable spite...
Edward Hopper, Nightwalks, 1942
Let
me confess that we two must be twain,
Although
our undivided loves are one:
So
shall those blots that do with me remain
Without
thy help by me be borne alone.
In
our two loves there is but one respect,
Though
in our lives a separable spite,
Which
though it alter not love's sole effect,
Yet
doth it steal sweet hours from love's delight.
I may
not evermore acknowledge thee,
Lest
my bewailed guilt should do thee shame,
Nor
thou with public kindness honour me,
Unless
thou take that honour from thy name:
But
do not so; I love thee in such sort
As,
thou being mine, mine is thy good report.
William Shakespeare, Sonnet XXXVI
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09 dezembro, 2012
Caprichos #223
Un Ballo in Maschera, live HD from the Metropolitan Opera in New York. Great arias, great performances from the Met, as usual.
08 dezembro, 2012
Parece que estou a ouvir # 147
Quando se gosta de alguém
Quando se gosta d'alguém
Sente-se dentro da gente
Ainda não percebi bem
Ao certo o que é que se sente
Quando alguém gosta d'alguém
É de nós que não gostamos
Perde-se o sono por quem
Perdidos de amor andamos
Quando alguém gosta d'alguém
Anda assim como ando eu
Que não ando nada bem
Com este mal que me deu
Quando se gosta d'alguém
É como estar-se doente
Quanto mais amor se tem
Pior a gente se sente
Quando se gosta d'alguém
Como eu gosto de quem gosto
O desgosto que se tem
É desgosto que dá gosto.
Amália Rodrigues
Palavras lidas #210
Old Men
Ogden Nash
People expect old men to die,
They do not really mourn old men.
Old men are different. People look
At them with eyes that wonder when...
People watch with unshocked eyes;
But the old men know when an old man dies.
Ogden Nash
People expect old men to die,
They do not really mourn old men.
Old men are different. People look
At them with eyes that wonder when...
People watch with unshocked eyes;
But the old men know when an old man dies.
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07 dezembro, 2012
Numa sala perto de mim #207
A Late Quartet (2012) tells the story of four musicians, who have been playing together for 25 years when life changing events make fragilities and repressed feelings emerge out of nowhere.
That's the story, not devoid of personal intrigue. Then there's the musical element where dedication, sometimes to the point of obsession, plays a central role on the road to the achievement of perfection. In music, perhaps more visibly than in other occupations, the use of a particular skill to the best of one's ability dictates the rank of the individual in the profession. Rank however, is not solely determined by ability (aka gift, skill, talent), but also by focus, commitment, will, discipline, passion, and whatever else words cannot define.
That's the story, not devoid of personal intrigue. Then there's the musical element where dedication, sometimes to the point of obsession, plays a central role on the road to the achievement of perfection. In music, perhaps more visibly than in other occupations, the use of a particular skill to the best of one's ability dictates the rank of the individual in the profession. Rank however, is not solely determined by ability (aka gift, skill, talent), but also by focus, commitment, will, discipline, passion, and whatever else words cannot define.
Couldn't be more different from a documentary on sushi... yet, it feels so similar.
06 dezembro, 2012
05 dezembro, 2012
Espantos #345
Uma derrocada a 30 de Outubro passado criou pequenos ilhéus vizinhos a nordeste da ilha do Corvo.
Cerca de um mês depois já não havia ilhéus mas antes uma peninsula.
Acompanhamos atentamente a situação para ver se a praia se mantém até o verão, ou se desaparece...
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04 dezembro, 2012
Ditto #226
We are living
in a world today where lemonade is made from artificial flavors and furniture polish
is made from real lemons.
-- Alfred E. Neuman
-- Alfred E. Neuman
02 dezembro, 2012
Numa sala perto de mim #206
Flight (2012). The story of a drunk pilot who crash-landed a broken plane and prevented major loss of life. Legal consequences? Plenty, though mostly those could be averted. Personal consequences? Immense. The performance by Denzel Washington? Let's just say it will be tough to choose the best actor in a leading role this year...
01 dezembro, 2012
Caprichos #222
La Clemenza di Tito, live HD from the Met opera house, brings an interesting plot of Roman intrigue with rather impossible, yet beautiful, arias for two of the male characters. Wonderful performances by all!
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