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Descubra as diferenças!
"Talvez tudo fosse diferente se os políticos tivessem de responder, com os seus bens, pelas dívidas de que são responsáveis"
António Barreto, hoje, no Público
Havia um Portugal adormecido e alguns portugueses terrivelmente acordados. Tudo apontava para uma história convulsa, e Portugal conheceu-a: a mais longa ditadura da história europeia, filha deste Portugal bloqueado e triste. O homem que a exerceu foi um ex-seminarista, professor de Finanças de Coimbra (...). Temia que o frágil Portugal se dilacerasse face aos fortes da Europa e por isso fechou-o num casulo. Odiava a desordem e o progresso, era hábil, astuto, manhoso e autista. A ele se opuseram os políticos e os generais da República (...) mas não foram capazes de o vencer.
Quem o conseguiu, ou quem mais se aproximou, sozinho, de o conseguir, foi um jovem estudante vindo do mesmo Portugal central, que nasceu no mesmo Portugal de Salazar e que escolheu para si uma vida totalmente diferente da vida da esmagadora maioria dos portugueses do seu tempo. (...) No fim do século, ambos representam as duas faces do Portugal do século XX e a sua história contraditória.
(pág. 5)
Patricídio
"As leis são como os filhos, ganham vida própria" diz o presidente, ex-ministro, António Costa que tendo assumido a paternidade da Lei das Finanças Locais, vê, ao abrigo da filha, chumbado o empréstimo da Câmara Municipal de Lisboa a que hoje preside. Espantoso, não?
Ai Costa, "a vida cooooosta"...
Nunca tive medo de trovoadas, nunca tremi com um relâmpago. Confesso até que, se estiver em casa, é um espectaculo que gosto de ver e ouvir.
O céu cortado por um raio de luz seguido de um rugir grosso (que quando muito próximo até faz tremelicar os vidros das janelas) faz-me sentir pequenina mas maravilhada com a perfeição da natureza. Sempre foi assim.
Mas lembro-me bem de muitas vezes, e ainda sem perceber bem o que uma trovoada significava, ver fechar portas e postigos, janelas e portadas, ficando a casa completamente às escuras, pois até era "perigoso mexer nos interruptores" e acendiam-se velas e tapavam-se ouvidos (se calhar baixinho até se rezava a Sta. Bárbara), como se isso nos afastasse daquele fenómeno que eu, às escuras e às escondidas, espreitava lá fora.
Cada vez mais tenho a certeza: o comportamento dos homens é o espelho da educação em criança.
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Pena é que os pais não tenham uma segunda oportunidade. Seriamos certamente muito melhores.
- Rafael Monteiro? Ah, sim... já estou a ver! Veio ontem. E é amigo do senhor engenheiro?
- Amigo de infância.
- Ah, claro! Todos temos amigos de infância, às vezes esquisitos, nao é? - O inspector passou os dedos pelas pontas do bigode, esticando-as.
- Posso perguntar-lhe, senhor inspector, porque está ele preso?
- Para investigação, claro. Só pode ser.
- Para investigação? E como é que investigam, aqui: interrogam-no?
- Pois, é sempre interrogado, procedimento de rotina.
- Sem advogado?
O inspector tossiu.
(...)
- Só lhe quero poupar trabalho, senhor inspector: se suspeita que o dr. Rafael Monteiro tenha actividades organizadas contra o regime, está a perder o seu tempo. Se há coisa que ele desconhece, é o significado da palavra organização.
- Mas é um elemento desafecto ao regime!
- Também eu sou, senhor inspector. Vai-me prender?
(...)
- Não me está a dar nenhuma novidade com essa confissão, senhor engenheiro! se quer que lhe diga, de há muito que sabemos das suas inclinações políticas e só me custa a entender como é que alguém da sua estirpe pode estar do lado dos inimigos do regime.
- Porquê? Ha alguma lei que diga como é que eu devo pensar?
(...)
(págs. 499 a 501)