11 fevereiro, 2008

Palavras lidas # 39

- Rafael Monteiro? Ah, sim... já estou a ver! Veio ontem. E é amigo do senhor engenheiro?
- Amigo de infância.
- Ah, claro! Todos temos amigos de infância, às vezes esquisitos, nao é? - O inspector passou os dedos pelas pontas do bigode, esticando-as.
- Posso perguntar-lhe, senhor inspector, porque está ele preso?
- Para investigação, claro. Só pode ser.
- Para investigação? E como é que investigam, aqui: interrogam-no?
- Pois, é sempre interrogado, procedimento de rotina.
- Sem advogado?
O inspector tossiu.
(...)
- Só lhe quero poupar trabalho, senhor inspector: se suspeita que o dr. Rafael Monteiro tenha actividades organizadas contra o regime, está a perder o seu tempo. Se há coisa que ele desconhece, é o significado da palavra organização.
- Mas é um elemento desafecto ao regime!
- Também eu sou, senhor inspector. Vai-me prender?
(...)
- Não me está a dar nenhuma novidade com essa confissão, senhor engenheiro! se quer que lhe diga, de há muito que sabemos das suas inclinações políticas e só me custa a entender como é que alguém da sua estirpe pode estar do lado dos inimigos do regime.
- Porquê? Ha alguma lei que diga como é que eu devo pensar?
(...)
(págs. 499 a 501)

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