30 agosto, 2009

Espantos #213


The Braid, Auguste Renoir, 1887


Amália canta na rádio local:

De ilusões desvanecidas
Filme de esperanças perdidas
Minha canção é saudade

Ai, que de tranças caídas
Via tudo em cores garridas
Em todos via bondade...

Retirado do contexto #102

We live in a beautiful world
Yeah we do
Yeah we do
We live in a beautiful world!

29 agosto, 2009

Espantos #212

Há dias numa conferência de grande dimensão...

A sala estava cheia o que é pouco comum numa conferência com mais de trinta sessões simultâneas. As poucas cadeiras vagas não estavam directamente acessíveis, obrigando a passar na frente do apresentador ou de pedir a outras pessoas para se levantarem. Entrou atrasado e parou ali perto de olhos postos a audiência para ver onde poderia caber. Fiz contacto visual e perguntei gestualmente se estaria interessado no lugar ao meu lado. Anuiu com um sorriso agradecido e lá me levantei para o deixar passar.

É pena que a transferência de inteligência não se dê por osmose, porque desta forma passei quase duas horas sentada ao lado de um recente prémio nobel. Havia quatro apresentações (de meia hora cada) e a segunda foi de longe a mais interessante de todas, mas também a mais louca coisa do género a que alguma vez assisti. Ora meia hora é um tempo significativamente menor que o tempo de um seminário comum (hora e meia) pelo que a apresentação de qualquer trabalho não pode ser muito detalhada. Este orador não estava convencido disso.

Não trazia slides. À moda antiga pegou no giz (que se partiu vezes seguidas devido ao violento processo de rapidez e força que imprimia à escrita) e escreveu, escreveu, escreveu como se não houvesse amanhã... tudo ao mesmo tempo que falava freneticamente enunciando teoremas e virando a cabeça para trás de cinco em cinco segundos quando perguntava para a audiência sim? para saber se estavam a seguir o raciocínio. Era assim uma coisa surreal, parecia um autómato em passo acelerado: escrevia, apagava e falava aceleradamente, enquanto corria de um lado para o outro da sala para cobrir o quadro de fórmulas e tabelas sem fim. Toda a gente olhava incrédula para o que se estava a passar, menos o senhor que estava ao meu lado que animadamente respondia baixinho sim! e acenava com a cabeça em conformidade. Quando o outro, sem parar de escrever, virava a cabeça para trás num quarto de segundo, este levantava o polegar bem alto em sinal de afirmação, mas claro que o outro já tinha virado a cabeça para frente enquanto continuava a falar e a escrever aceleradamente.

Quando este tinha alguma dúvida cogitava com os seus botões e dava-se a um interessante diálogo de si para consigo. Via-se claramente que um lado do cérebro fazia uma pergunta e o outro lado respondia. Tudo isto numa linguagem ininteligível, todavia audível embora apenas para quem estivesse ali ao lado.

O esforço do orador naquela meia hora não é humanamente possível... a camisa roxa escura ficou compreensivelmente preta no final da apresentação... quase pingava! Ou o rapaz tomou 10 cafés antes da sessão, ou tomou qualquer outra coisa para conseguir debitar aquele material em tão curto espaço de tempo.

Os outros oradores fizeram apresentações com slides e a passo normal... o senhor do lado cabeceava de sono, afinal a sessão sempre era depois do almoço. Em vez de tentar esconder a distracção e concentrar-se olhando para os slides, apenas levantava ligeiramente a cabeça e continuava a ler o paper que tinha à sua frente... de quando em vez substituía-o por outros que tirava de dentro da sua mochila. Se calhar não estava a dormir, mas apenas a meditar na leitura. Sabe-se lá como estas cabeças nobélicas funcionam...

Em relação ao orador nada mais a dizer, mas no final dessas duas horas dei comigo a pensar que as reacções estranhas do senhor do lado (falar sozinho, dormitar no seminário, acordar e ler outra coisa que mais lhe interesse) chocar-me-iam mais há uns anos atrás quando nada disto era normal... agora ainda não o é completamente, mas também já não é anormal.

Espantos #211

Gosto de supermercados. Então quando se está de novo num sítio diferente aprende-se muito mais sobre ele no supermercado local do que ligando a televisão.

Por aqui na secção de enlatados (ou enfrascados) dominam as azeitonas, de todas as cores e tamanhos, com e sem caroço, recheadas, ou em pickles. Para mim tanto se me dá porque não gosto de azeitonas, mas é espantoso ver as prateleiras e prateleiras de variedade. Nunca vivi num sítio assim.

O supermercado também é bom para aprender vocabulário que se lê nas embalagens geralmente muito decoradas com aquilo que as palavras significam. Hoje aprendi algumas palavras novas: garfo é tenedor, colher é cuchara, faca é cuchillo e pêssego é melocotón. Umas vezes o espanhol é próximo do português, outras não :-)

Coisas que não mudam #104

Recently heard:

"It's farily well known that women complain less than men. A man will just say shut the window, while the woman will say aren't you feeling cold?"

Apparently it's an old example... here more widely said.

Num país a fingir # 38

O período de campanha eleitoral custa isto

Retirado do contexto #101

No Times de hoje #101

The mere presence of such historically important works as “The Thinker” or “Mediterranean,” Aristide Maillol’s life-size female nude in marble, anywhere outside the Paris museums they call home is rather miraculous — and a testament to the cachet that Spain’s private and corporate cultural foundations have in the international art world. The exhibition was co-organized with the Musée d’Orsay and was shown there this past spring.

Rodin's art in Madrid until September 13, complete article here.

27 agosto, 2009

Palavras lidas #93

Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...

Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?

Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que isso é senti-lo...

Alberto Caeiro, Poesia

24 agosto, 2009

Parece que estou a ouvir #87


Noa

Smile, without a reason why
Love, as if you were a child,
Smile, no matter what they tell you
Don't listen to a word they say
Cause life is beautiful that way.

Tears, a tidal wave of tears
Light, that slowly disappears
Wait, before you close the curtain
There is still another game to play
And life is beautiful that way

Here with his eyes forevermore
I will always be as close as you
remember from before
Now that you're out there on your own
Remember what is real and
what we dream is love alone

Keep the laughter in you eyes
Soon your long awaited prize
We'll forget about our sorrows
And think about a brighter day
Cause life is beautiful that way.

We'll forget about our sorrows
And think about a brighter day,
Cause life is beautiful that way
There's still another game to play
And life is beautiful that way.

22 agosto, 2009

Caprichos #107

Cozinhar... é preciso!

Espantos #210

Ameixa Rainha Cláudia... sempre gostei, não só porque tem o meu nome (ou eu o dela), mas porque de todas é a mais doce, embora seja a única de cor verde, o que faz adivinhar que será amarga. Mais um caso em que a aparência não vale nada. Esta semana fiquei a saber que em espanhol, catalão, e italiano também partilha o nome próprio embora palavra mude com a língua, claro. Ora aí vai, respectivamente: ciruela claudia, pruna claudia, prugna claudia. Doce em qualquer língua :-)

Espantos #209


Na minha carteira há cartões de metro de Barcelona, Lisboa, Nova Iorque e Boston, bem como de shuttles para o aeroporto e de consumo na padaria local em Nashville.

21 agosto, 2009

Caprichos #106

cartões doidos!

Espantos #208

Deram-me a baguete para a mão assim... están locos?

Coisas que não mudam #103

The lady tending the bar asked me, from far, what I wanted. I clumsily uttered some Spanish words while pointing at the sandwiches right in front of me. Since I didn’t want any coffee, she turned to the next customer, standing right next to me, and asked him if he wanted his coffee straight or with milk, he replied with milk and then turned to me saying that without milk it causes damage. Unable to reply any sensical word in Spanish I just smiled. After handling the coffee machine, the lady finally came in my direction and was magically able to follow my requests:

Una sándwich de jamón para llevar y un croissant, también para llevar

The man, old enough to be my father and clearly wanting to engage in casual conversation, tried again… this time with a smile while saying “tienes hambre!”. Though I heard that one before in slightly more words (“you eat a lot!”), my inability of conversing in Spanish showed with yet another smile. What's frustrating is that I understand Spanish as well as I do English! I will no longer be taken by rude... next time "if you eat well, you work well :-)"

20 agosto, 2009

Palavras lidas # 92

"(...) Gramps contava com igual boa vontade outra história, a da turista que, um dia, me viu nadar e, sem saber com quem estava a falar, comentou que "nadar deve ser uma coisa extremamente natural para estes havaianos". A que ele respondeu que seria difícil de explicar, dado "acontece que aquele rapaz é meu neto, a mãe é do Kansas, o pai do interior do Quénia, e em qualquer dos dois malditos lugares têm de se andar muitas milhas para encontrar um oceano". Para o meu avô, a raça não era uma coisa com que ainda precisassem de preocupar; se a ignorância ainda se mantinha enraizada em determinados locais, poderia seguramente partir-se do princípio de que o resto do mundo em breve as ultrapassaria. (...)"

Pág. 39

Caprichos #105

Esquisite shoes

19 agosto, 2009

Espantos # 207

Ooooolhe, olhar afinal tira pedaço ;)

Ditto #126

The good life, as I conceive it, is a happy life. I do not mean that if you are good you will be happy - I mean that if you are happy you will be good.

-- Bertrand Russell

17 agosto, 2009

Ditto #125

An opinion should be the result thought, not the substitute for it.

-- Jef Mallett

Espantos #206

Bichos??

15 agosto, 2009

Caprichos #104

Tapas with mom

Retirado do contexto #100


Pimientos de padrón: unos pican y otros no... none did :-)

13 agosto, 2009

12 agosto, 2009

Coisas que não mudam #102

Liking the office view... though it's different.

Coisas que não mudam #101

Em Barcelona tão azul como em Lisboa!

Parece que estou a ouvir #86

Good Riddance (Time Of Your Life)
Green Day

Another turning point, a fork stuck in the road
Time grabs you by the wrist, directs you where to go
So make the best of this test, and don't ask why
It's not a question, but a lesson learned in time

It's something unpredictable, but in the end it's right.
I hope you had the time of your life.

So take the photographs, and still frames in your mind
Hang it on a shelf in good health and good time
Tattoos of memories and dead skin on trial
For what it's worth it was worth all the while

It's something unpredictable, but in the end it's right.
I hope you had the time of your life.

It's something unpredictable, but in the end it's right.
I hope you had the time of your life.

It's something unpredictable, but in the end it's right.
I hope you had the time of your life.

11 agosto, 2009

Espantos #205

O Holland Herald (revista da KLM) de Julho traz um especial de dez páginas sobre Lisboa. Sabe bem ler, se bem que, para mim, Lisboa já não é o que era.

10 agosto, 2009

Palavras lidas #91

O que vale a minha vida? No fim (não sei que fim)
Um diz: ganhei trezentos contos,
Outro diz: tive três mil dias de glória,
Outro diz: estive bem com a minha consciência e isso é bastante...
E eu, se lá aparecerem e me perguntarem o que fiz,
Direi: olhei para as cousas e mais nada.
E por isso trago aqui o Universo dentro da algibeira.
E se Deus me perguntar: e o que viste tu nas cousas?
Respondo: apenas as cousas... Tu não puseste lá mais nada.
E Deus, que é da mesma opinião, fará de mim uma nova espécie de santo.

Alberto Caeiro, Poesia

09 agosto, 2009

Numa sala perto de mim #111

Public Enemies (2009). Public enemy #1: John Dillinger, wanted dead or dead.

08 agosto, 2009

Pedaços de Utrecht

Utrecht, leia-se Utrrekrrt, ficou-me na lembrança como uma cidade em que só o nome destoa na harmonia, simplicidade e organização que lá se vive. De origens pré-romanas, Utrecht foi sede de bispado desde o século oitavo. Por um lado cresceu em volta da catedral gótica, por outro em volta dos canais do Reno por onde os mercadores levavam e traziam os produtos que faziam da cidade importante centro comercial medieval.

O rio Reno sempre passou por Utrecht, mas como as relações entre bispos e mercadores nunca foram famosas, na idade média um dos bispos mandou construir um dique a sul da cidade para que as suas terras não fossem inudadas por cheias, cortando assim a via fluvial da cidade. Os mercadores por seu lado depressa encomentaram a construção de um canal para Ligar Utrecht ao Reno. Heranças históricas que ainda hoje se podem ver nas ruas de Utrecht, elevadas por causa das frequentes cheias que em tempos idos a ameaçavam, ou mais abaixo mesmo junto ao Oudegracht (velho canal) com as largas portas dos antigos armazéns, hoje quase todos restaurantes.

Curioso em Utrecht é o facto de a gigantesca torre (de 112 metros de altura) onde os sinos repicam de 15 em 15 minutos (às horas certas com uma longa melodia lindissima que entra no ouvido) não pertencer ao edifício da catedral (Domkerk) também ela gótica. Ora nem sempre foi assim. Reza a história que em 1647 um furacão/tornado/tufão passou pelo centro de Utrecht, destruindo parte da catedral e separando-a efectivamente da torre. Os destroços eram de tal ordem que demoraram mais de um século para ser removidos. Os dois efifícios estão hoje separados cerca de 50 metros, é só atravessar a estrada, mas no alto da catedral são ainda visíveis as paredes destruídas que ligavam à torre apenas assente em cima de um alto arco gótico, igual aos da catedral, por baixo do qual se passa para a Servetstraat uma das mais movimentadas e comerciais ruas da cidade.

Hoje Utrecht preserva a sua herança histórica de forma visível. No centro antigo da cidade não circulam veículos automóveis particulares nem transportes públicos, mas bicicletas vêm-se por todo o lado. Mesmo saindo do centro, as bicicletas são de longe o meio de transporte mais permente. As ruas têm faixas próprias para velocípedes. Os semaforos são individuais para carros, transportes públicos, bicicletas e pessoas. Por esta altura do ano em Utrecht faz-se noite bem depois das 10. Pelas 8-9pm é vê-las a circular descontraidamente pelas ruas aos grupos de três ou quatro com os ciclistas à conversa, como se de passeata a pé se tratasse. De manhã cedo também circulam, mas mais aplicadas com o objectivo de levar ao trabalho quem as conduz, por vezes vestido a rigor com a mochila do computador às costas. Também se vêm muitas bicicletas com cadeirinhas para crianças que, algumas apenas com idade de se segurarem sentadas, lá seguem de vento na cara apontando para tudo e sorrindo a quem passa.

Estive há dias em Utrecht... que bonito que é!

Sem título #11

Há momentos em que todo o esforço parece absurdo, vão e até mesquinho.
Mas há outros... há outros momentos em que pulso, suor e sono perdido sabem a sucesso... doce!

05 agosto, 2009

Ditto # 124

"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons."

Martin Luther King

Parece que estou a ouvir # 87



Have you ever wandered lonely through the woods?
And everything there feels just as it should
You're part of the life there
You're part of something good
If you've ever wandered lonely through the woods
if you've ever wandered lonlely through the woods

Have you ever stared into a starry sky?
Lying on your back you're asking why
What's the purpose I wonder who am I
If you've ever stared into a starry sky
Have you ever stared into a starry sky

Have you ever been out walking in the snow?
Tried to get back to where you were before
You always end up not knowing where to go
If you've ever been out walking in the snow
If you'd ever been out walking you would know

02 agosto, 2009

Foi neste dia # 120 (1929)

José Afonso faria hoje 80 anos, mas morte saiu à rua num dia assim...

01 agosto, 2009

Espantos #204

Há 8 dias em Nashville, foi assim... com prática de line dancing não deve ser difícil seguir!