24 abril, 2009

Espantos #183

Procura da felicidade... é essa a resposta para a eterna questão do significado da vida. Até aqui nada de novo. O que dá que pensar é como a felicidade deixa de ser um dado adquirido por defeito para ser um objectivo a alcançar. Procuramos um trabalho melhor porque nos queremos sentir mais realizados naquilo que fazemos; começamos qualquer nova actividade porque pensamos que iremos gostar; vemos filmes ou programas de televisão, lemos livros porque nos disseram que eram bons ou talvez não nos tenham dito nada, mas vemos/lemos na mesma para ver se gostamos; passamos tempo com familia e amigos porque gostamos da sua companhia.

Muito poucos eventos que nos deixam felizes acontecem por acaso. Ou porque planeamos demasiado a nossa vida, ou porque não nos apercebemos das coisas mínimas e boas que acontecem à nossa volta (um pôr do sol, a primavera e as suas flores, reparar na lua todos os dias, uma criança que nos faz rir). Não foi sempre assim. Quem é que se lembra de aos cinco anos andar à procura da felicidade? A felicidade existia e pronto! Não se pensava nas causas ou acções que lhe dessem lugar porque se nos perguntassem, certamente responderiamos que sim, eramos felizes. Acho que o truque está em ter sempre cinco anos... impossível ao nível físico, mas certamente possível ao nível mental.

Esta semana telefonei para a minha prima no dia em que ela fez cinco anos para lhe dar os parabéns. Claro que o que eu queria dizer era irrelevante porque ela tinha muito mais coisas para me dizer a mim, que eu a ela. Primeiro perguntou-me se aqui onde eu estava ainda era de dia (ela está 6 horas à frente). Veio isto na sequência de uma outra conversa telefónica que tivemos aqui há tempos em que ela ficou muito perplexa pelo facto de eu estar a tomar o pequeno almoço quando ela já tinha almoçado há muito tempo! Depois de estabelecermos novamente que as horas não eram coincidentes (acho que vamos ter uma conversinha sobre o sol e os planetas no verão), veio a comida: se eu já tinha almoçado, quando é que eu ía jantar, se ía tomar um lanchinho a meio da tarde. Finalmente quando estava satisfeita com as minhas respostas veio a revelação:

Sabes que hoje faço cinco anos e estou muito contente?

Gosto da sensação de automatismo... é a única coisa que procuro para mim :-)