17 agosto, 2006

Palavras lidas # 11

"Ser bem-mandado e aprestado, é esta, na melhor das hipóteses, a nossa honra. Ser amestrado é uma honra para os pupilos, isto é claro como o dia. Mas também não nos revoltamos. Nunca nos ocorreria. Feitas as contas, temos tão poucos pensamentos. Sou talvez eu quem tem mais pensamentos, é bem provável, mas desprezo em absoluto a minha faculdade do juízo. Só dou valor à experiência, e a experiência é por regra inteiramente independente de todos os pensamentos e comparações. É por isso que dou valor ao modo como abro uma porta. Há mais vida oculta no abrir de uma porta do que numa pergunta. Pois sim, tudo nos leva a perguntar e a comparar e a recordar. É claro que temos de pensar, pensar muito até. Mas a submissão é muito, muito mais refinada do que pensar. Quando pensamos, oferecemos resistência, e é tão feio isto, tão vicioso. Se quem pensa soubesse o quanto pensar vicia as pessoas. Quem por zelo não pensa, faz qualquer coisa, e esta coisa é bem mais necessária. Há no mundo dezenas de milhares de cabeças que trabalham desnecessariamente."

(Jakob Von Gunten um diário, Robert Walser)

1 comentário:

Atlantico Ocidental disse...

Já dizia o guardador de rebanhos:

"Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

(...)

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar..."
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Ora aí está uma música que faz pensar embora se não deva...