16 setembro, 2013

Palavras lidas #228

Em 1628 Duarte Gomes Solis escrevia sobre os grandes navios na Carreira da Índia:

[...] E todos estes danos se evitariam se as naus tivessem menos toneladas de porte, e fossem mais perfeitas de estrutura. [...] Nos princípios, por serem a naus de [menor] porte, iam e vinham a salvamento em armadas juntas, o que nestas naus grandes não se pôde manter, por serem mal governadas, e porque em Portugal não se castiga a quem se aparta da armada. E para que se veja o benefício que Portugal gozou em navegar nos princípios, [...] Note-se o que sucedeu nos anos de 1519, 1520 e 1521, que foi o último da vida do Rei D. Manuel, em que partiram de Lisboa 26 naus e navios, que todos foram e vieram a salvamento, só se perdendo o galeão Santo António, de Manuel de Sousa, com prognóstico que o merecia por pecados que havia cometido. E só a nau Anunciada de Bartolomeu de Marchone, da viagem de 1520, chegou de invernada a 28 de Março de 1522. E que nos anos de 1590, 1591 e 1592, partindo 17 navios de viagem e dois galeões, e uma caravela de inverno, havendo partido da Índia mais duas naves novas, de todos estes 22 navios não chegaram a salvamento mais que a nau S. Cristóvão, no ano de 1592, e a nau S. Pantaleão, no ano de 1593, as duas mais depreciadas e menos importantes, que por não virem sobrecarregadas [...], tiveram nisto ventura. [...]

in Alegacion en favor de la Compañia de la India Oriental, Comercios Ultramarinos, que de nouevo se instituyó en el Reyno de Portugal
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Por volta de 1650 Manoel Severim de Faria escrevia sobre o mesmo assunto:

[...] O caso he que cinco galeões, ou Náos pequenas, custão tanto como tres Náos grandes, e vindo cinco Baixeis destes que dizemos juntos, vem huma Armada muito poderosa, e vindo tres Naos, vem tres Carracas muito fracas, as quaes depois de duas viagens se mandão desfazer na Ribeira, e os Galeóes podem servir depois de muitos annos assim nas viagens, como nas Armadas da costa; porém o que sobretudo se pode considerar, he que cinco Navetas, que partem da India, todas chegão ao Reyno, senão quando Deos conhecidamente nos quer castigar, e partindo tres Naos de Goa, he quasi milagre chegarem cá todas, por quanto do mesmo porto de Goa, por sua grandeza e imensa carga saem já perdidas, como aconteceu à Náo Reliquias, que dando à vella, se foi ao fundo, antes de sahir do porto de Cochim. [...]

in Notícias de Portugal

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