Yesterday's New York Times brings an article on Portugal's wine country (or shall I say one of Portugal's wine countries): the Douro Valley. The author not only reviews several of the region's wines but also provides a glowing image of what the region has to offer. With so much interest in the region, I wonder why I know so little about it... perhaps it's time to plan a few days there myself!
31 janeiro, 2012
29 janeiro, 2012
Caprichos #192
Master Class is a Terrence McNally theatre play based on Maria Callas' classes at the Julliard school in 1971-1972. During one hour and a half Callas gets dismayed, appalled and at times impressed by students' performances giving them advice on how to act, sing, speak, and behave on stage while criticizing and admonishing their demeanor. Her recollection of memories from her difficult upbringing, her personal affairs, as well as the highlights of her career, give a glimpse of the building of the difficult personality Callas is known to have had. All of this is accompanied by excerpts of old records of Callas singing Bellini's La Sonnambula, Puccinni's Tosca and Verdi's Macbeth. Highly recommendable!
28 janeiro, 2012
Palavras lidas #182
Justina desceu a escada. Vestia luto carregado e, assim, muito alta e fúnebre, com os cabelos pretos divididos ao meio por uma risca larga, parecia um boneco mal articulado, demasiado grande para mulher e sem o menor sinal de graça feminina. Só os olhos negros, profundos nas olheiras maceradas de diabética, eram paradoxalmente belos, mas tão graves e sérios que a graça não morava neles.
Ao chegar ao patamar, parou junto da porta que ficava defronte da sua e aproximou o ouvido. De dentro não vinha qualquer rumor. Fez um trejeito de desprezo e afastou-se. Quando ia a entrar, ouviu abrir-se uma porta no andar de cima e, logo a seguir, um ruído de vozes. Ajeitou o capacho para se dar um pretexto para não sair dali.
De cima vinha um diálogo animado:
-- Ela o que não quer é ir trabalhar! -- dizia uma voz feminina com asperezas de irritação.
-- Seja lá o que for. É preciso cuidado com a pequena. Está na idade perigosa -- respondeu uma voz de homem. -- Nunca se sabe o que essas coisas dão.
-- Qual idade perigosa, qual quê? Hás de ser sempre o mesmo. Com dezanove anos, idade perigosa? Isso só teu!...
Justina achou conveniente sacudir o capacho com força para anunciar a sua presença. A conversa, em cima interrompeu-se. O homem começou a descer a escada, ao mesmo tempo que dizia:
-- Não a obrigues a ir. Se houver alguma novidade telefona-me para o escritório. Até logo.
-- Até logo, Anselmo.
Justina cumprimentou o vizinho com um sorriso sem amabilidade. Anselmo passou, fez um solene gesto na direcção da aba do chapéu e articulou com belo timbre uma saudação cerimoniosa. A porta da escada, em baixo, teve um bater cheio de personalidade, quando ele saiu. Justina cumprimentou para cima:
-- Bom dia, D. Rosália.
-- Bom dia, D. Justina.
-- Que tem a Claudinha? Está doente?
-- Como soube?
-- Estava aqui a sacudir o capacho e ouvi o seu marido. Pareceu-me perceber...
-- Aquilo é manha. O meu Anselmo é que não pode ouvir a filha queixar-se. É o ai Jesus... Diz ela que lhe dói a cabeça. Mândria é que ela tem. Tão grande é a dor de cabeça que já está outra vez a dormir!
-- Nunca se sabe, D. Rosália. Foi assim que eu fiquei sem a minha filha, que Deus haja. Não era nada, não era nada, e lá se foi com a meningite... --Tirou um lenço e assoou-se com força. Depois, continuou:-- Coitadinha... Com oito anos... Não me esquece... Está agora a fazer dois anos, lembra-se, D. Rosália?
Rosália lembrava-se e enxugou uma lágrima de circunstância. Justina ia insistir, lembrar pormenores já sabidos, apoiada à compaixão aparente da vizinha, quando uma voz rouca lhe cortou as palavras:
-- Justina!
O rosto pálido de Justina tornou-se de pedra. Continuou a conversar com Rosália até que a voz se ouviu mais alta e violenta:
-- Justina!!!
-- Que é? --perguntou.
-- Faz favor de vir para dentro. Não quero conversas na escada. Se estivesse tão farta de trabalhar como eu, não tinha disposição para dar à língua!
Justina encolheu os ombros com indiferença e prosseguiu a conversa. Mas a outra, incomodada pela cena, despediu-se. Justina entrou em casa. Rosália desceu alguns degraus e apurou o ouvido. Através da porta passaram exclamações ásperas. Depois, subidamente o silêncio.
Era sempre assim. Ouvia-se o homem ralhar, depois a mulher pronunciava algumas poucas e inaudíveis palavras e ele calava-se. Rosália achava isto muito esquisito. O marido de Justina tinha fama de brutamontes, com o seu corpanzil inchado e os seus modos grosseiros. Ainda não chegara aos quarenta anos e parecia mais velho, por causa do rosto flácido, de olhos papudos e beiço reluzente sempre caído. Ninguém percebia como e por quê dois seres tão diferentes tinham casado. Verdade que também ninguém se lembrava de os ter visto juntos na rua. E, ainda, ninguém compreendia como duas pessoas nada bonitas (os olhos de Justina eram belos e não bonitos) pudera nascer uma filha de tal maneira graciosa como fora a pequena Matilde. Dir-se-ia que a Natureza se enganara e que, depois, descobrindo o engano, se emendara fazendo desaparecer a criança.
pp. 20-25
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Eis um excerto do início do livro esquecido de José Saramago, Claraboia escrito em 1953, mas publicado postumamente em 2011. Nas palavras do autor:
Eis um excerto do início do livro esquecido de José Saramago, Claraboia escrito em 1953, mas publicado postumamente em 2011. Nas palavras do autor:
"É a história de um prédio com seis inquilinos sucessivamente envolvidos num enredo. Acho que o livro não está mal construído. Enfim, é um livro também ingénuo, mas que, tanto quanto me recordo, tem coisas que já têm que ver com o meu modo de ser."
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27 janeiro, 2012
Parece que estou a ouvir #126
Madredeus
Além de toda a solidão
Perdi a luz do teu viver
Perdi o horizonte.
Está bem,
Prossegue lá até quereres
Mas vem depois iluminar
Um coração que sofre.
Pertenço-te
Até ao fim do mar
Sou como tu
Da mesma luz
Mas vem depois iluminar
Um coração que sofre.
Pertenço-te
Até ao fim do mar
Sou como tu
Da mesma luz
Do mesmo amar.
Por isso vem
Porque te quero consolar
Se não, está bem
Deixa-te andar a navegar.
Por isso vem
Porque te quero consolar
Se não, está bem
Deixa-te andar a navegar.
Foi neste dia #163 (1945)
Auschwitz was liberated 67 years ago. May we never forget the fallen. May we also never forget those who were not allowed to fall due to the kind souls of Aristides Sousa Mendes, Oskar Schindler, Chiune Sugihara, and others who history kept anonymous. They saved thousands of lives, under the most extreme circumstances and, at times, own personal loss as well as that of their descendants.
I would rather stand with God against Man than with Man against God.
--Aristides de Sousa Mendes
--Aristides de Sousa Mendes
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Auschwitz foi libertado há 67 anos. Que nunca esqueçamos os que pereceram. Não esqueçamos também aqueles que não cairam em Auschwitz pela acção caridosa de Aristides Sousa Mendes, Oskar Schindler, Chiune Sugihara e outros que a história manteve anónimos. Eles salvaram milhares de vidas, em circunstâncias extremas, por vezes a custo pessoal e dos seus descendentes.
Prefiro estar com Deus contra um homem, do que estar com um homem contra Deus.
--Aristides de Sousa Mendes
Auschwitz foi libertado há 67 anos. Que nunca esqueçamos os que pereceram. Não esqueçamos também aqueles que não cairam em Auschwitz pela acção caridosa de Aristides Sousa Mendes, Oskar Schindler, Chiune Sugihara e outros que a história manteve anónimos. Eles salvaram milhares de vidas, em circunstâncias extremas, por vezes a custo pessoal e dos seus descendentes.
Prefiro estar com Deus contra um homem, do que estar com um homem contra Deus.
--Aristides de Sousa Mendes
25 janeiro, 2012
Foi neste dia #162 (41)
Claudius was declared the fourth emperor of Rome 1971 years ago today.
A limp and slight deafness probably helped keeping Claudius alive, in the roman world of intrigue and throne greed, since he was not seen as much of a threat. His personal characteristics, made the word Claudius forever associated with lame, deficient, abnormal, weak and different.
According to the wikipedia entry, emperor Claudius has both been portrayed as a stammerer whose indecision allowed for easy manipulation of those around him, but also as a generous able and efficient administrator of empire. I noted particularly his issue: three Claudias and one Claudius... and the name kept on!
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Claudius foi declarado (o quarto) imperador de Roma há 1971 anos.
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Claudius foi declarado (o quarto) imperador de Roma há 1971 anos.
Porque coxeava e era ligeiramente surdo, provavelmente Claudius sobreviveu no mundo das intrigas romanas e da ganância pelo poder, já que não era visto como uma ameaça para ninguém. As suas características físicas fizeram com que a palavra Claudius ficasse para sempre associada a coxo, deficiente, anormal, fraco e diferente.
De acordo com a wikipedia, ao longo da história o imperador Claudius foi caracterizado simultaneamente como um homem gago cuja indecisão deixava que se manipulasse facilmente pelas pessoas à sua volta, mas também como pessoa generosa e capaz de administrar o império. A mim saltou-me à vista a sua descendência: três Cláudias e um Cláudio... e o nome perdurou!
24 janeiro, 2012
23 janeiro, 2012
Numa sala perto de mim #185
The Girl With the Dragon Tatoo (2011) tells of an engaging investigation of a decades old murder and of a talented computer hacker catalogued as a socially misfit punk. Daniel Craig does his 007 style stuff well and Rooney Mara comes out as a committed actress, so very different from the small role she portrayed two years ago as a mighty BU student.
22 janeiro, 2012
20 janeiro, 2012
Politeness #10
Situation
The meal was delicious but the restaurant is packed and there are people waiting to be seated near the entrance/exit area. As I walk towards the door to leave, the person waiting next to it makes way for me to pass while opening the door.
(Expected) Dialogue
(Expected) Dialogue
me: thank you.
him: you're welcome.
(Southern) Dialogue
me: thank you.
him: yes ma'am!
Numa sala perto de mim #184
Carnage (2011). Polanski at his best. Phenomenal... gotta see it to believe it! Excellent acting.
19 janeiro, 2012
Palavras lidas #181
Posso ter defeitos,
viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que a minha vida
mas não esqueço de que a minha vida
é a maior empresa do mundo.E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si,
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si,
mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã
um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica,
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica,
mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
Fernando Pessoa
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
Fernando Pessoa
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17 janeiro, 2012
No Times de hoje #135
O Times de hoje traz um artigo sobre o Portugal rural, mais concretamente o planalto Transmontano. Trás-os-Montes é de longe a região mais remota do continente. Não só fica mais distante de Lisboa, mas os mais de 200km de terreno montanhoso que separam o Porto de Bragança fizeram o seu acesso particularmente difícil, atrasando a chegada das auto-estradas até ao século XXI.
O planalto então é remoto em absoluto: às três horas de viagem do Porto a Bragança (220km), há que adicionar duas mais (87km) para chegar a Miranda do Douro, a primeira cidade Portuguesa a ser banhada pelo Douro que ali faz fronteira com a Espanha. O isolamento da região manteve antigas tradições vivas, assim como o Mirandês, cuja história faz lembrar a do Catalão. O artigo fala das características desta terra longínqua onde o tempo parece ter parado. Embora os costumes antigos sobrevivam, os jovens são coisa rara... faz pensar até quando durará este remoto estado de coisas.
Seth Kugel, o viajante do New York Times, esteve (ou está?) em Portugal recentemente e este artigo sobre o planalto Transmontano vem na sequência de um outro artigo sobre as tradições de Trás-os-Montes, e ainda de outro sobre Coimbra.
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Today's New York Times has an article on rural Portugal. Specifically on the northeast highlands of the region of the Trás-os-Montes (literally translating to Behind-the-Hills) plateau. Trás-os-Montes, is easily the most remote region of Portugal's mainland. Not only is it the farthest from Lisbon, but the more than 200km of mountainous terrain that separate the city of Bragança from Porto (Portugal's second city) have made its access exceptionally hard, delaying the arrival of highways until the 21st century.
Today's New York Times has an article on rural Portugal. Specifically on the northeast highlands of the region of the Trás-os-Montes (literally translating to Behind-the-Hills) plateau. Trás-os-Montes, is easily the most remote region of Portugal's mainland. Not only is it the farthest from Lisbon, but the more than 200km of mountainous terrain that separate the city of Bragança from Porto (Portugal's second city) have made its access exceptionally hard, delaying the arrival of highways until the 21st century.
The northeastern plateau is remoteness in its absolute state: to the three hour drive from Porto to Bragança (220km) one must drive two more hours (87km) to get to Miranda do Douro, the first Portuguese town to be greeted by the Douro river as it draws the border with Spain. The isolation of the place kept ancient traditions alive, as well as the local language, Mirandês, whose story reminds me of that of Catalan. The article talks about the specificities of this far and away region where time seems to have come to a standstill. The ancient traditions are relived, but young people are rare... makes you wonder how long this remote will world last.
Seth Kugel, the New York Times traveller, has been in Portugal for a little while and the current article follows another on the more general traditions of Trás-os-Montes, and yet another one about Coimbra.
Seth Kugel, the New York Times traveller, has been in Portugal for a little while and the current article follows another on the more general traditions of Trás-os-Montes, and yet another one about Coimbra.
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16 janeiro, 2012
Espantos #314
Around the dinner table today there was an Israeli man, a Portuguese girl and a Turkish man... and quite a lot of healthy religious dialogue. Gotta love multi-ethnical dinners!
15 janeiro, 2012
Numa sala perto de mim #183
The Last Station (2009) recounts the last days of Tolstoy in 1910. The conflict between private and public property, as well as the opportunism associated with the latter, could not be more vivid on the eve of soviet Russia.
14 janeiro, 2012
Numa sala perto de mim #182
From the perspective of old age comes The Iron Lady (2011).
“I will never be one of those women, who stay silent and pretty on the arm of her husband. Or remote and alone in the kitchen doing the washing up for that matter. One’s life must matter, Denis, beyond all the cooking and the cleaning and the children. One’s life must mean more than that. I cannot die washing up a teacup.”
And she certainly won't! Washing teacups is far from demeaning, but aiming higher than what is expected from you can only yield good results.
“What I do think is a man should be encouraged to stand on his own two feet. Yes, we help people. Of course we help people, but for those who can do, they must just get up and do. And if something’s wrong, they shouldn’t just whine about it. They should get in there and do something about it. Change things.”
13 janeiro, 2012
Ditto #195
12 janeiro, 2012
11 janeiro, 2012
10 janeiro, 2012
Sem título #26
Upon returning to work I had a holiday card on my mailbox.
Among other things, it said:
Not an exact quotation, but pretty flattering!
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Ditto #194
03 janeiro, 2012
Parece que estou a ouvir #125
Goya, La Maja vestida, El Prado
Fabian Andre, Wilbur Schwandt, Gus Khan
Night breezes seem to whisper "I love you"
Birds singing in the sycamore trees
Dream a little dream of me
Say nighty-night and kiss me
Just hold me tight and tell me you'll miss me
While I'm alone and blue as can be
Dream a little dream of me
Stars fading but I linger on dear
Still craving your kiss
I'm longing to linger till dawn dear
Just saying this
Sweet dreams till sunbeams find you
Sweet dreams that leave all worries behind you
But in your dreams whatever they be
Dream a little dream of me
Stars shining up above you
Night breezes seem to whisper "I love you"
Birds singing in the sycamore trees
Dream a little dream of me
Sweet dreams till sunbeams find you
Sweet dreams that leave all worries behind you
But in your dreams whatever they be
Dream a little dream of me
Yes, dream a little dream of me
02 janeiro, 2012
Palavras lidas #180
At a long gallery of El Prado, Madrid
Let me not to the marriage of true minds
Admit impediments. Love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remover to remove:
O no! it is an ever-fixed mark
That looks on tempests and is never shaken;
It is the star to every wandering bark,
Whose worth's unknown, although his height be taken.
Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks
Within his bending sickle's compass come:
Love alters not with his brief hours and weeks,
But bears it out even to the edge of doom.
If this be error and upon me proved,
I never writ, nor no man ever loved.
William Shakespeare, Sonnet CXVI
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01 janeiro, 2012
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