10 julho, 2011

Parece que estou a ouvir #115

Fausto

O barco vai de saída

adeus ao cais de Alfama
se agora vou de partida
levo-te comigo ó cana verde
lembra-te de mim ó meu amor
lembra-te de mim nesta aventura
p'ra lá da loucura
p'ra lá do equador

Ah mas que ingrata ventura
bem me posso queixar
da Pátria a pouca fartura
cheia de mágoas ai quebra-mar
com tantos perigos ai minha vida
com tantos medos e sobressaltos
que eu já vou aos saltos
que eu vou de fugida

Sem contar essa história escondida
por servir de criado essa senhora
serviu-se ela também tão sedutora
foi pecado
foi pecado
e foi pecado sim senhor
que vida boa era a de Lisboa!

Gingão de roda batida
corsário sem cruzado
ao som do baile mandado
em terras de pimenta e maravilha
com sonhos de prata e fantasia
com sonhos da cor do arco-íris
desvaira se os vires
desvairas magias

Já tenho a vela enfunada
marrano sem vergonha
judeu sem coisa nem fronha
vou de viagem ai que largada
só vejo cores ai que alegria
só vejo piratas e tesouros
são pratas, são ouros,
são noites, são dias

Vou no espantoso trono das águas
vou no tremendo assopro dos ventos
vou por cima dos meus pensamentos
arrepia
arrepia
e arrepia sim senhor
que vida boa era a de Lisboa!

O mar das águas ardendo
o delírio dos céus
a fúria do barlavento
arreia a vela e vai marujo ao leme
vira o barco e cai marujo ao mar
vira o barco na curva da morte
e olha a minha sorte
olha o meu azar

Depois do barco virado
grandes urros e gritos
na salvação dos aflitos
estala, mata, agarra, ai quem me ajuda
reza, implora, escapa, ai que pagode
rezam tremem heróis e eunucos
são mouros são turcos
são mouros, acode!

Aquilo é uma tempestade medonha
aquilo vai p'ra lá do que é eterno
aquilo era o retrato do inferno
vai ao fundo
vai ao fundo
e vai ao fundo sim senhor
que vida boa era a de Lisboa!
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Gosto da combinação das expressões típicas com os instrumentos tradicionais portugueses na canção viva e ritmada do Fausto.

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