15 setembro, 2008

Palavras lidas # 57

- Desculpa o atraso - disse Bruno, passando algum pão e queijo pelo arame, os restos do que tinha comido pelo caminho, quando acabou por sentir fome. - Estive a falar com a Maria.
- Quem é a Maria? - Perguntou Shmuel, sem levantar os olhos, enquanto devorava avidamente o pão e o queijo.
- É a nossa criada - explicou Bruno. - É muito simpática, embora o meu pai diga que ganha mais do que merece. Mas ela esteve a falar comigo sobre o Pavel, o homem que nos prepara os vegetais e nos serve à mesa. Acho que ele vive do teu lado da vedação.
Shmuel levantou os olhos por um instante e parou de comer.
- Do meu lado? - perguntou.
- Sim. Não o conheces? É muito velho e tem um casaco branco que veste para nos servir o jantar. De certeza que já o viste por aí.
- Não - disse Shmuel, abanando a cabeça. - Não conheço.
- Se calhar até conheces - disse Bruno, irritado, como se Shmuel estivesse a contrariá-lo de propósito. - Ele não é tão alto como alguns adultos, tem o cabelo grisalho e é um bocadinho curvado.
- Acho que não fazes ideia do número de pessoas que vivem deste lado da vedação - disse Shmuel. - Somos milhares.
- Mas o nome deste é Pavel - insistiu Bruno. - Quando caí do baloiço ele limpou-me a ferida para não infectar e pôs-lhe um penso. De qualquer maneira, queria falar-te dele porque ele também vem da Polónia. Como tu.
- A maior parte de nós vem da Polónia - disse Shmuel. - Mas também há gente de outros lugares, como da Checoslováquia e....
- Sim, por isso pensei que talvez o conhecesses. Em todo o caso, ele era médico na cidade dele antes de vir para cá, mas agora já não pode mais ser médico e se o meu pai descobrisse que ele me tinha tratado o joelho quando me magoei, então íamos ter muitos problemas.
- Normalmente, os soldados não gostam que as pessoas melhorem - disse Shmuel, engolindo o último pedaço de pão. - Costuma é ser ao contrário.

(Pág. 116, 117)

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