21 fevereiro, 2007

Cinzas, quaresma, carne e poesia

Presídio

Nem todo o corpo é carne...Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor...Nem todo o corpo é carne:
É também água, terra, vento, fogo...

É sobretudo sombra à despedida;
Onda de pedra em cada reencontro;
No parque da memória o fugidio

Vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
Pois no teu corpo existe o mundo todo!

David Mourão-Ferreira

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