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A minha vida sentou-se E não há quem a levante, Que desde o Poente ao Levante A minha vida fartou-se. E ei-la, a mona, lá está, Estendida, a perna traçada, No infindável sofá Da minha Alma estofada. Pois é assim: a minha Alma Outrora a sonhar de Rússias, Espapaçou-se de calma, E hoje sonha só pelúcias. Vai ao Café, pede um bock, Lê o "Matin" de castigo, E não há nenhum remoque Que a regresse ao Oiro antigo! Dentro de mim é um fardo Que não pesa, mas que maça: O zumbido dum moscardo, Ou comichão que não passa. Folhetim da "Capital" Pelo nosso Júlio Dantas --- Ou uma coisa entre tantas Duma antipatia igual... O raio já bebe vinho, Coisa que nunca fazia, E fuma o seu cigarrinho Em plena burocracia!... Qualquer dia, pela certa, Quando eu mal me precate, É capaz dum disparate, Se encontra uma porta aberta... Isto assim não pode ser... Mas como achar um remédio? --- Pra acabar este intermédio Lembrei-me de endoidecer: O que era fácil --- partindo Os móveis do meu hotel, Ou para a rua saindo De barrete de papel A gritar "Viva a Alemanha!"... Mas a minha Alma, em verdade, Não merece tal façanha, Tal prova de lealdade... Vou deixá-la --- decidido --- No lavabo dum café, Como um anel esquecido. É um fim mais raffiné. Paris, Setembro 1915___________
Fim
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Paris, 1916
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