04 setembro, 2014

Foi neste dia #241 (1479)

Alcáçovas é hoje uma pequena freguesia alentejana de pouco mais de 2000 habitantes. Mas há 535 anos atrás, foi nesta vila que se juntaram Afonso V rei de Portugal e o seu filho o futuro rei João II, e os reis Católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão, para assinarem um tratado de paz que daria por terminada a Guerra de Sucessão de Castela.

Fazendo curta uma longa história, o conflito teve início em 1474 após a morte do rei Henrique IV de Castela, cujo conturbado reino não deixou saudades, ficando aquele monarca com fama de fraco e cognome de impotente (por não ter consumado o seu primeiro casamento com Blanche de Navarra). Dividiram-se pois os apoios à sucessão: havia os que apoiavam Joana de Trastâmara a única filha do segundo casamento do falecido rei (com Joana de Portugal, filha do rei D. Duarte) e por isso sua herdeira directa; e os que apoiavam Isabel, meia-irmã de Henrique IV, que argumentavam que Joana não era filha do rei impotente, mas sim de um Beltrán de Cueva (que teria sido amante da rainha, daí no nome insultuoso de Joana a Beltraneja) e por isso a verdadeira herdeira da coroa de Castela seria Isabel. Adivinhando estas manobras, antes de morrer Henrique tentou casar a sua filha com alguém que salvaguardasse seus os direitos de futura rainha de Castela e é aqui que Portugal entra na história. Os interesses cavaleirescos de Afonso V iam para além de Marrocos e passavam também por uma união ibérica sob alçada portuguesa; o casamento entre tio e sobrinha necessitou de uma dispensa papal dada a consanguinidade dos noivos. Por seu lado os reis católicos tinham interesses nas possessões portuguesas da Guiné e no inerente comércio de ouro e escravos que tentavam disputar. As guerras duraram quatro anos e saldaram-se com inconclusivas confrontos em terra (Batalha de Toro em 1476) e vantagens das tropas portuguesas no mar.

Há pouco mais de meio milénio, assinou-se em Alcáçovas um tratado que, entre outros detalhes, reconhecia Isabel como rainha de Castela, e Portugal como único poder hegemónico no Atlântico a sul à excepção das Ilhas Canárias. Joana viveu em Portugal até à sua morte, com 68 anos, em 1530. Não podendo ser tratada por rainha (que lhe impedia o tratado), nem por infanta (porque já tinha sido rainha), foi-lhe atribuído o tratamento oficial de Excelente Senhora.

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