08 julho, 2008

Palavras lidas # 51

A primeira coisa para a qual me chamaram a atenção, e que era muito elucidativa daquela sociedade, foi o facto de nenhuma torneira de água fechar. Desde a revolução de Outubro que a água era grátis, não se pagava um copeque por ter água em casa, nem pelo seu consumo, não havia sequer contadores. Como era um bem essencial de primeira necessidade, a água não podia ser negada a ninguém. Assim, quando uma torneira se avariava, ninguém a mandava arranjar, porque aí teria de pagar o arranjo e meter-se num sarilho que implicava ir a um canalizador privado no mercado negro e pagar uma quantia imensa em rublos (o que seria um absurdo, uma vez que a água era grátis). A alternativa era ir para a fila da cooperativa dos canalizadores e aguardar meses ou anos que lá fossem a casa. Assim sendo, toda a gente tinha as torneiras avariadas e a água a pingar ou a correr em casa, no local de trabalho ou nos hotéis. Cheguei à noite ao meu hotel de cinco estrelas na Praça Vermelha e lá estavam as torneiras do quarto-de-banho, mais o autoclismo, a pingar ou mesmo completamente avariadas, a verter rios de água. Os custos sociais deste desperdício eram incalculáveis, não sei se alguma vez foram contabilizados.

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1 comentário:

Atlantico Ocidental disse...

Um amigo iraniano disse-me que no país dele o pão (e também a gasolina) é de borla. Sendo um bem de primeira necessidade não se pode negar a ninguém. Resultado: os miúdos usam pão para jogar à bola na rua... talvez descalços.