
Pina Bausch
É vulgar ouvirmos dizer que temos regras demais, normas demais, códigos que mais parecem armas de arremesso de tão grandes e pesados que são. Enfim, leis a mais.
E se calhar temos.
Mas, no dizer de alguns, não são ainda suficientes.
Parece-me que a Lei não tem, nem pode, prever tudo. Normalmente, fácil verificar, avança mais lentamente que a realidade, vai atrás dela. Apesar disso, situações há, que a lei não pode, nem nunca conseguirá prever. Vimo-las em 2005 e continuamos a assistir a um triste espectáculo em horário nobre e a encher manchetes dos jornais, nos Paços do Concelho da capital do país.
A Lei não pode, sob pena de coartar direitos fundamentais a qualquer pessoa, impedi-la de ingressar listas eleitorais para o exercício de quaisquer funções políticas, caso sobre ela recaiam suspeitas da prática de um qualquer crime. Como também não pode prever a suspensão obrigatória do mandato em que aquela está investida, ou mesmo a sua perda, quando tais suspeitas sejam conhecidas em momento posterior à eleição.
E não pode porque a suspeição não é uma confissão da prática do crime; porque os indícios não são factos.
E porque os Tribunais ainda são Tribunais, e porque mesmo a sua convicção escrita pode passar pelo crivo do recurso, a Justiça ainda não é, e não pode ser, feita pela televisão e pelos jornais, na televisão e nos jornais.
Situações como esta, esta e infelizmente muitas mais, não se resolvem com a alteração da lei.
A consciência não é concretizada numa norma. É, mais uma vez, o imperativo ético que tem de prevalecer a bem da democracia e da credibilidade das instituições.
dizem-me.
Era primavera como hoje, um dia útil, como hoje (seria) e o povo não ordenava. O tempo em que a cantiga era uma arma, dizem-me, em que as portas fechadas eram muitas e os becos não tinham saída. Havia um lápis azul que riscava, riscava muito, dizem-me, e “em cada esquina um amigo”.
No tempo em que o que se calava era mais do que o que se dizia, em que não se vinha “para a rua gritar”, dizem-me. Em que as mães de mantilha choravam “ai Deus mo deu, ai Deus mo levou” e levou muitos, dizem-me, no tempo em que a guerra lá longe, mas nossa, fez madrinhas e demasiados regressos à última morada, dizem-me, e o vento nada dizia.
Mas lá se ia “cantando e rindo” com a força que se aclamava, ou sem ela, para onde se dizia ser importante ir, sem que os gritos viessem à rua. “Levados, levados sim pela voz de som tremendo” e temendo, temendo sempre, dizem-me.
Nesse dia a “manhã clara” chegou “depois do adeus”, dizem-me, e foi “mensageira da madrugada”. Vieram cinco e “mais cinco de uma assentada” com “asas de vento e coração de mar”, dizem-me, e as notícias do meu país, que o vento calava e o lápis riscava, chegaram longe e trouxeram quem tão longe estava e abriram as portas fechadas, porque a vontade era “maior que o pensamento” de criar “cidades sem muros nem ameias” dizem-me.
Hoje, 33 anos passados, não precisam já dizer-me, é feriado e “eles comem tudo”. O lápis já não é azul, não risca, mas incomoda, pressiona, aponta. Há becos onde nem os amigos param à esquina, há portas fechadas para esconder “putos” que cosem sapatos, homens que constroem para os seus senhores “vampiros”.
“Gente igual por dentro, gente igual por fora” que não singra, porque não tem cartão, e os que eram diferentes e agora são iguais porque “o que faz falta é animar a malta”.
E diz o inteligente que acabaram as canções ...
Despediu-se hoje, da cadeira parlamentar, com um
"até amanhã camaradas" e
"enquanto houver estrada para andar EU vou continuar"...
É incrível, de facto! Pareceu-me no início especulação jornalística, confesso, o facto de se andar a discutir se o agora Primeiro-Ministro é, ou não, licenciado.
Pensei, pois pensei, que não passaria de um furo jornalístico que faria correr pouca tinta porque em breve tudo seria devidamente esclarecido. Pareceu-me uma questão menor o facto de o estudante José Sócrates não ser visto, com frequência, na Universidade durante o período em que durou a sua licenciatura. Não é caso raro, muitos estudantes universitários "faltam assiduamente" às aulas que constam dos horarios.
Normal já não é o diploma de licenciatura ser emitido ao domingo, mas também isso me parece explicável. Mas os factos e os documentos começaram a surgir e tudo parece já um encontro de demasiadas coincidências para ser credível. Ontem, o Ministro da Ciência e Ensino Superior reiterou que o agora Primeiro-Ministro terminou o seu curso de forma exemplar (esperemos que assim seja e que tudo se esclareça).
Mas hoje aparece o que parece ainda não ser o fim da história. Afinal, ainda antes de o ser (se é que o é), já era designado enquanto tal: Engenheiro.
Parece um país a fingir, não parece? Mas ainda não é tudo: hoje ainda, em nota do Gabinete do Primeiro-Ministro, pode ler-se que sim, é verdade que em 1993 o estudante José Sócrates, então Deputado da Nação, era dado como Engenheiro, sem o ser ainda MAS, e pasme-se, isso constitui um lapso ao qual o Primeiro-Ministro é completamente alheio.