04 janeiro, 2015

Parece que estou a ouvir #200

Ouvi hoje a velhinha Desfolhada Portuguesa recente na versão dos Naifa que parece realçar mais o poema (a que tomei especial atenção) que o ritmo acelerado e fremente da versão original.
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Desfolhada Portuguesa
Ary dos Santos, Nuno Nazareth Fernandes

Corpo de linho
lábios de mosto
meu corpo lindo
meu fogo posto.
Eira de milho
luar de Agosto
quem faz um filho
fá-lo por gosto.
É milho-rei
milho vermelho
cravo de carne
bago de amor
filho de um rei
que sendo velho
volta a nascer
quando há calor.

Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.

Minha raiz 
de pinho verde
meu céu azul 
tocando a serra
oh minha água 
e minha sede
oh mar ao sul 
da minha terra.
É trigo loiro
é Alentejo
o meu país
neste momento
o sol o queima
o vento o beija
seara louca 
em movimento.

Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.

Olhos de amêndoa
cisterna escura
onde se alpendra
a desventura.
Moira escondida
moira encantada
lenda perdida
lenda encontrada.
Oh minha terra
minha aventura
casca de noz
desamparada.
Oh minha terra
minha lonjura
por mim perdida
por mim achada.

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