Bárbara de Bragança, nasceu há 302 anos em Lisboa. Bárbara foi a primeira filha do rei D. João V e de sua mulher Maria Ana, arquiduquesa da Áustria. Os pais de Bárbara casaram em 1708 e em quase três anos não houve herdeiro pelo que o rei prometeu que construiria um enorme convento se um herdeiro nascesse. Bárbara nasceu neste dia em 1711 e o convento fez-se.
Saramago conta a história bem melhor no Memorial do Convento e até põe Bárbara a pensar no convento (que nunca terá visto), dentro de um coche a caminho de Espanha, onde viria a casar com o futuro rei D. Fernando VI em 1729.
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"De Montemor a Évora não vão faltar trabalhos. Voltou a chover, tornaram os atoleiros, partiram-se eixos, rachavam-se como gravetos os raios das rodas. A tarde caía rapidamente, o ar arrefecia, e a princesa D. Maria Bárbara, que enfim adormecera, auxiliada pelo torpor emoliente dos caramelos com que aconchegara o estômago e por quinhentos passos de estrada sem buracos, acordou com um grande arrepio, como se um dedo gelado lhe tivesse tocado na testa, e, virando os olhos ensonados para os campos crepusculares, viu parado um pardo ajuntamento de homens, alinhados na beira do caminho e atados uns aos outros por cordas, seriam talvez uns quinze.
Afirmou-se melhor a princesa, não era sonho nem delírio, e turbou-se de tão lastimoso espectáculo de grilhetas, em véspera das suas bodas, quando tudo devia ser ledice e regozijo, já não chegava o péssimo tempo que faz, esta chuva, este frio, teriam feito bem melhor se me casassem na primavera. Cavalgava à estribeira um oficial a quem D. Maria Bárbara ordenou que mandasse saber que homens eram aqueles e o que tinham feito, que crimes, e se iam para o Limoeiro ou para a África. Foi o oficial em pessoa, talvez por muito amar esta infanta, já sabemos que feia, já sabemos que bexigosa, e daí, e vai levada para Espanha, para longe, do seu puro e desesperado amor, querer um plebeu a uma princesa, que loucura, foi e voltou, não a loucura, ele, e disse, Saiba vossa alteza que aqueles homens vão trabalhar para Mafra, nas obras do convento real, são do termo de Évora, gente de ofício, E vão atados porquê, Porque não vão de vontade, se os soltam fogem, Ah. Recostou-se a princesa nas almofadas, pensativa, enquanto o oficial repetia e gravava em seu coração as doces palavras trocadas, há de ser velho, caduco e reformado, e ainda se recordará do mavioso diálogo, como estará ela agora, passados todos estes anos.
A princesa já não pensa nos homens que viu na estrada. Agora mesmo se lembrou de que, afinal, nunca foi a Mafra, que estranha coisa, constrói-se um convento porque nasceu Maria Bárbara, cumpre-se o voto porque Maria Bárbara nasceu, e Maria Bárbara não viu, não sabe, não tocou com o dedinho rechonchudo a primeira pedra, nem a segunda, não serviu com as suas mãos o caldo dos pedreiros, não aliviou com bálsamo as dores que Sete-Sóis sente no coto do braço quando retira o gancho, não enxugou as lágrimas da mulher que teve o seu homem esmagado, e agora vai Maria Bárbara para Espanha, o convento é para si como um sonho sonhado, uma névoa impalpável, não pode sequer representá-lo na imaginação, se a outra lembrança não serviria a memória."
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