27 abril, 2011

Coisas que não mudam #161

O título é assustador: "Mais de Um Bilião de Pessoas Passa Fome no Mundo." Já o artigo, embora longo, não segue o mesmo padrão e desmistifica alguns assuntos.

Para começar, 1 bilião de pessoas é quase 1/7 (~14.3%) da população mundial de acordo com este counter (clique em refresh e vê que para os 7 biliões caminhamos a passos largos). Em cada 7 pessoas uma passar fome é um número que dá que pensar a qualquer um!

Nos últimos dez anos têm-se multiplicado os estudos sobre desenvolvimento económico com ênfase na fome e ciclos de pobreza. Esta realidade perpetua a má sorte de muitos que não escolheram nascer em lugares onde as perspectivas nunca deixarão de ser negras. Em particular, desde 2003 com a fundação do Laboratório de Acção Contra a Pobreza Abdul Latif Jameel (J-PAL), os economistas saíram do gabinete e foram aos locais onde a pobreza grassa para entender melhor os fenómenos que levam às chamadas "armadilhas de pobreza" ou poverty traps. É um trabalho gigantesco de concepção de projectos inicialmente, depois de procura, recolha e tratamento de dados e finalmente de análise, estudo e interpretação de resultados.

Para além disso é trabalho que nunca acaba porque depois de um estudo vem sempre outro; qualquer resultado que se observe é parcial porque há sempre fenómenos que não se conseguem observar e que podem ter influência no resultado, pelo que há que pensar novos métodos que ultrapassem essas deficiências. Afinal de contas é de investigação que se trata e se a solução para o problema da fome e da pobreza fosse fácil, certamente não haveria tantos pobres a passar fome.

O artigo é da autoria de Abhijit Banerjee e Esther Duflo does economistas do MIT directores do J-PAL Global, daí que o artigo seja ainda mais marcante. Não se nega a existência das armadilhas de pobreza, mas colocam-se em causa as escolhas daqueles que passam fome: aumentar o dinheiro disponível não aumenta necessariamente o consumo de calorias, ou de comida em geral podendo outros tipos de consumo (televisão ou festas) ser preferidos. Daí que o número 1,000,000,000 de pobres a passar fome seja pouco credível porque poderemos estar a contar pessoas que contribuem para essa situação e que poderiam perfeitamente estar fora das armadilhas de pobreza.

Aqui ficam alguns excertos:

Studies have shown that when very poor people get a chance to spend a little bit more on food, they don't put everything into getting more calories. Instead, they buy better-tasting, more expensive calories.

(...)

In one study conducted in two regions of China, researchers offered randomly selected poor households a large subsidy on the price of the basic staple (wheat noodles in one region, rice in the other). We usually expect that when the price of something goes down, people buy more of it. The opposite happened. Households that received subsidies for rice or wheat consumed less of those two foods and ate more shrimp and meat, even though their staples now cost less. Overall, the caloric intake of those who received the subsidy did not increase (and may even have decreased), despite the fact that their purchasing power had increased. Nor did the nutritional content improve in any other sense. The likely reason is that because the rice and wheat noodles were cheap but not particularly tasty, feeling richer might actually have made them consume less of those staples. This reasoning suggests that at least among these very poor urban households, getting more calories was not a priority: Getting better-tasting ones was.

(...)

The poor often resist the wonderful plans we think up for them because they do not share our faith that those plans work, or work as well as we claim. We shouldn't forget, too, that other things may be more important in their lives than food. Poor people in the developing world spend large amounts on weddings, dowries, and christenings. Part of the reason is probably that they don't want to lose face, when the social custom is to spend a lot on those occasions. In South Africa, poor families often spend so lavishly on funerals that they skimp on food for months afterward.

(...)

We asked Oucha Mbarbk what he would do if he had more money. He said he would buy more food. Then we asked him what he would do if he had even more money. He said he would buy better-tasting food. We were starting to feel very bad for him and his family, when we noticed the TV and other high-tech gadgets. Why had he bought all these things if he felt the family did not have enough to eat? He laughed, and said, "Oh, but television is more important than food!"

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