"Conta a lenda que há muito, muito tempo, em Massacar, numa ilha indonésia chamada Celébes, vivia um velho crocodilo. Já sem forças para apanhar peixes, não teve outra alternativa senão aventurar-se terra adentro para tentar caçar algum animal que lhe saciasse a fome. Andou, andou e não conseguiu apanhar nada para comer pelo que resolveu regressar à água. O caminho de volta era longo e o sol era quente. Esgotado, o crocodilo perdeu as forças e ficou prostrado. Um rapaz ia a passar e encontrou o crocodilo exausto. Teve pena dele e ofereceu-se para o ajudar a voltar arrastando-o pela cauda de volta à água. O crocodilo ficou-lhe muito grato e ofereceu-se para, a partir daquele dia, o levar às costas pelas águas dos rios e do mar. E assim foi, os dois novos amigos fizeram muitas viagens juntos e reforçaram a sua amizade.
Do diário da Sagres já em Timor-Leste.
Mas um dia a fome foi mais forte e o crocodilo achou que não tinha outra solução que não fosse comer o rapaz. Antes de se decidir, perguntou aos outros animais o que achavam da ideia. Todos lhe disseram que era muito ingrato da parte dele querer comer o rapaz que o tinha salvo. Percebendo como estava a ser injusto e que não voltaria a ser aceite pelos outros animais, envergonhado, resolveu partir para o mar e convidou o seu único amigo para o acompanhar. O rapaz saltou-lhe para as costas e saíram pelo mar fora em direcção ao Oriente, onde o Sol nasce.
A viagem já ia longa quando o crocodilo começou a sentir-se cansado. Já exausto, resolveu parar para descansar, mas, naquele momento, o seu corpo começou a crescer e a transformar-se em pedra e terra. Cresceu tanto que ficou do tamanho de uma ilha. O rapaz, que viajava no seu dorso, passou a ser o primeiro habitante daquela ilha a que chamou Oriente. E assim nasceu a ilha de Timor, com a forma do velho crocodilo e cujo nome significa Oriente no dialecto malaio.
Conta a história que doze mil anos antes de Cristo já habitava a ilha de Timor um pequeno grupo que se dedicava à caça e agricultura.
Escravos, cera de abelha e sândalo, foram a justificação para o comércio entre Timor e a Malásia e a China de que há registos desde o sec. VII. Atraídos pelo sândalo, madeira nobre utilizada na perfumaria e móveis de luxo, que cobria praticamente toda a ilha os portugueses chegaram ao território em 1515 desembarcando em Oecusse. Pouco depois chegaram os Holandeses e após várias disputas, os portugueses ficaram com a metade oriental da ilha que estava politicamente dividida ao meio pelos reis locais.
A sua localização estratégica entre a Austrália, Indonésia, Filipinas e China levou à sua ocupação pelos Japoneses durante a II Guerra Mundial. Estes criaram campos de concentração e, em conjunto com a degradação das condições de vida e os bombardeamentos aliados, provocaram 60 000 mortos, uma catástrofe se atendermos à escala. Após a guerra, Portugal recuperou a posse deste seu território ultramarino de onde saía um dos melhores cafés do mundo, embora nunca se lhe tenha dado grande importância nem canalizado grande investimento. Em 1945 a Indonésia tornou-se independente da Holanda mas nunca reclamou Timor Leste. Após a revolução dos cravos em Portugal, iniciou-se o processo de descolonização e foi dado a escolher ao povo timorense a integração na Indonésia ou a independência. Formam-se partidos a favor das duas soluções e o General Suharto apoia o partido integracionista. Suharto tinha conquistado o poder a Sukarno através de um golpe de estado em 1966.
Nas eleições da primavera de 1975, 90% dos votos vão para os partidos independentistas e apenas 10% para o integracionista. Venceu a FRETILIM com 55%. Os boatos de um golpe de estado marxista que estaria a ser preparado pela FRETILIM precipitam a guerra civil em Agosto de 1975, fazendo 3.000 mortos e as tropas indonésias iniciaram a infiltração no território pela fronteira com o Timor Oeste. Em Outubro de 1975 cinco jornalistas estrangeiros foram assassinados pelo exército indonésio na cidade de Balibo, na fronteira, quando tentavam cobrir os movimentos militares indonésios em Timor Leste. Perante a impunidade indonésia e esperando obter apoio internacional, a FRETILIM declarou a independência de Timor a 28 de Novembro de 1975. No dia 7 de Dezembro, o exército indonésio iniciou a invasão de Timor e o bombardeamento da capital. A Assembleia Geral da ONU condenou a invasão indonésia numa resolução que não teve qualquer efeito. Apenas a Austrália, reconheceu a autoridade indonésia sobre o Timor Leste. Começa uma repressão que resulta na morte de 200 a 300 mil timorenses pela violência, pela fome, pelo deslocamento forçado das populações e pela criação de campos de concentração. A FRETLIM cria a guerrilha FALINTIL que chegou a controlar 80% do território. Apesar da superioridade numérica esmagadora e do equipamento mais moderno, os indonésios não impediram os 24 anos de resistência das FALINTIL. Durante anos Timor Leste ficou totalmente isolado do Mundo, apesar de em todos os seus actos e presenças internacionais o Governo de Portugal fazer questão de mencionar o problema. Após a morte do líder da resistência e comandante das FALINTIL, Nicolau Lobato, a dia 31 de Dezembro de 1978, inicia-se a liderança do seu companheiro, José Alexandre Gusmão, conhecido na guerrilha como Ray Kala Xanana, que transforma as FALINTIL numa frente ampla de resistência em 1987 e cria no ano seguinte o CNRT, Conselho Nacional da Resistência Timorense, que reúne todos os partidos.
Na sequência de uma ligeira abertura da indonésia, o papa João Paulo II visita Timor em 1989, assistindo-se a manifestações pro-independência, duramente reprimidas. No dia 12 de Novembro de 1991, no Cemitério de Santa Cruz, o exército indonésio atira na multidão que prestava homenagem a um estudante morto pela repressão. Morrem pelo menos 200 pessoas mas as imagens do massacre, realizadas por jornalistas estrangeiros, fazem com que o mundo descubra a tragédia do Timor. Depois vem a prisão e condenação de Xanana Gusmão, a atribuição do Premio Nobel da Paz de 1996 ao bispo Carlos Ximenes Bello e José Ramos-Horta, a visita do presidente Nelson Mandela a Xanana na prisão e sua pressão para uma solução negociada, a queda do regime de Suharto e a ascensão de Yusuf Habibie.
Portugal e a Indonésia negociam a realização de uma consulta popular supervisionada pelas Nações Unidas. A 30 de Agosto de 1999, mais de 98% da população vai às urnas, votar num silêncio que os observadores internacionais são unânimes em chamar de impressionante. Os resultados não deixam margem para dúvidas: 78,5% dos timorenses escolheram a independência. Antes da proclamação dos resultados, milícias pro-integração armadas de catanas desencadeiam uma violência inédita caçando e matando nas ruas todos aqueles que supõem ter votado pela independência. A população foge para as montanhas ou busca refúgio nas igrejas e prédios de organizações internacionais que são cercadas e invadidas obrigando à evacuação de todos os estrangeiros. A ONU decide formar uma força internacional para intervir, mas os 2.000 solados da INTERFET só entram em Díli no dia 20 de Setembro e encontram um país totalmente devastado e incendiado. Quando Xanana Gusmão volta a Díli, no dia 22 de Outubro, ao ver o que sobrou do seu Timor, diz: "Eu achei que íamos ter que começar do zero. Mas é muito pior do que eu pensava". Foi eleito em 2001 Presidente da República Democrática de Timor Leste que em 20 de Maio de 2002 se tornou na mais nova nação do Mundo. O Primeiro-ministro e Ministro dos Negócios Estrangeiros foram, respectivamente, Mari Alkatiri e José Ramos-Horta.
Ainda houve mais uma crise em 2006 que levou à saída dos estrangeiros mas o país está agora estabilizado e a percorrer o caminho da organização de instituições e infra-estruturas com o apoio técnico da comunidade internacional onde Portugal, a Austrália e a Indonésia têm um papel importante. A exploração conjunta de gás com a Austrália no Mar de Timor está a permitir a criação de riqueza necessária para o crescimento e desenvolvimento de um país em que o português, lenta e dificilmente, se vai reinstalando depois de ser adoptado como Língua Oficial, juntamente com o Tétum."
Do diário da Sagres já em Timor-Leste.
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