04 maio, 2010

Palavras lidas #132

O meu olhar é nítido como um girassol
Tenho o costume de andar pelas estradas
olhando para a direita e para a esquerda
e de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
é aquilo que nunca antes eu tinha visto
e eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
que tem uma criança se ao nascer
reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como um malmequer
porque o vejo. Mas não penso nele
porque pensar é compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(pensar é estar doente dos olhos)
mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é
mas porque a amo e amo-a por isso
porque quem ama nunca sabe o que ama
nem sabe porque ama nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência
e a eterna inocência é não pensar...

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) (1888-1935)
in A Religião do Girassol[aquí en castellano]

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