31 março, 2010

Palavras lidas #124

Não penso no inútil dano
Como que o amanhã me desdiz,
Pois, ser feliz por engano
Não é engano: é ser feliz.

Fernando Pessoa (1888-1935)
Quadras

30 março, 2010

No Times de hoje #113

For a while the New York Times has been publishing a few articles on sleeplessness... calling it fully fledged insomnia sounds way too dramatic. Being a troubled sleeper for many years is somewhat of a concern to me. Fortunately the problem does not become the center of my life, though it has moments of undivided attention especially at nights (by definition) and some times during the day, when it becomes topic of conversation, or when I read the All-Nighters column. The column is especially interesting because it's contributed by authors coming from different backgrounds, usually all suffering from some form of sleeplessness, and offering practical, historical, or even somewhat scientific perspectives on the issue. The blurb is pretty self-explanatory:

What do you do when the world's asleep and you're awake? All-Nighters is an exploration of an ancient malady and modern fixation — insomnia. With contributions from writers, scientists, artists and others, it will document the many ways we approach sleeplessness — as a nuisance, a disease, a curse, an opportunity or even a gift.

Today's article focused on the literary-philosophical side of the issue. Here's the marking passage:

The importance of insomnia is so colossal that I am tempted to define man as the animal who cannot sleep. Why call him a rational animal when other animals are equally reasonable? But there is not another animal in the entire creation that wants to sleep yet cannot. (“On the Heights of Despair,” p.85)

29 março, 2010

Palavras lidas #123

Es verdad

¡Ay, qué trabajo me cuesta
quererte como te quiero!

Por tu amor me duele el aire,
el corazón
y el sombrero.

¿Quién me compraría a mí
este cintillo que tengo
y esta tristeza de hilo
blanco, para hacer pañuelos?

¡Ay, qué trabajo me cuesta
quererte como te quiero!

Frederico García Lorca, 1898-1936

25 março, 2010

Ditto #147

Artists can color the sky red because they know it's blue. Those of us who aren't artists must color things the way they really are or people might think we're stupid.

--Jules Feiffer

24 março, 2010

23 março, 2010

The mother's part...

Font sizeMother and Child, Klimt

Lo! as a careful housewife runs to catch
One of her feather'd creatures broke away,
Sets down her babe and makes an swift dispatch
In pursuit of the thing she would have stay,
Whilst her neglected child holds her in chase,
Cries to catch her whose busy care is bent
To follow that which flies before her face,
Not prizing her poor infant's discontent;
So runn'st thou after that which flies from thee,
Whilst I thy babe chase thee afar behind;
But if thou catch thy hope, turn back to me,
And play the mother's part, kiss me, be kind:
So will I pray that thou mayst have thy 'Will,'
If thou turn back, and my loud crying still.


William Shakespeare, Sonnet CXLIII

22 março, 2010

Córdoba

Córdoba, Andalucia

Canción del Jinete

Córdoba.
Lejana y sola.

Jaca negra, luna grande,
y aceitunas en my alforja.
Aunque sepa los caminos
yo nunca llegaré a Córdoba.

Por el llano, por el viento,
jaca negra, luna roja.
La muerte me esta mirando
desde las torres de Córdoba.

¡Ay qué camino tan largo!
¡Ay mi jaca valerosa!
¡Ay que la muerte me espera,
antes de llegar a Córdoba!

Córdoba.
Lejana y sola.

Frederico García Lorca, 1898-1936

Coisas que não mudam #123

There's something soothing about looking at (and hearing) the sea, and listening to the wind between the mountains... and nothing else.

Politeness #9


"(...) In the end, perhaps they were merely following the French literally: Respond, if you please. Left over from a time when graciousness couched demands as requests, the R.S.V.P. no longer functions. (...)"

Full article
here.

21 março, 2010

Coisas que não mudam #122

Wild flowers grow on the rocks even where there is no soil

Pormenores #49

Montserrat, Catalunya

No primeiro dia de primavera, um dos meus preferidos

É março ou abril?
É um dia de sol
perto do mar,
é um dia
em que todo o meu sangue
é orvalho e carícia.

De que cor te vestiste?
De madrugada ou limão?
Que nuvens olhas, ou colinas
altas,
enquanto afastas o rosto
das palavras que escrevo
de pé, exigindo
o teu amor?

É um dia de maio?
É um dia em que tropeço
no ar
à procura do azul dos teus olhos,
em que a tua voz
dentro de mim pergunta,
insiste:
Se te fué la melancolia,
amigo mío del alma?


É junho? É setembro?
É um dia
em que estou carregado de ti
ou de frutos,
e tropeço na luz, como um cego,
a procurar-te.

Eugénio de Andrade

20 março, 2010

Palavras lidas #122

On Bob Solow:

(...) In his own interview in the same volume, Solow explained his unwillingness to engage with the new classical economists: “Suppose someone sits down where you are sitting right now and announces to me that he is Napoleon Bonaparte. The last thing I want to do with him is to get involved in a technical discussion of cavalry tactics at the Battle of Austerlitz. If I do that, I'm getting tacitly drawn into the game that he is Napoleon Bonaparte.” (...)

pp. 12-3, complete text here

18 março, 2010

Espantos #239

A group on facebook
Si no sabes la diferencia entre "haber" y "a ver", no mereces vivir

Description
"Porque ni todo el mundo debería tener direcho a abrir la boca sin el consentimiento de los demás... y porque lápiz y papel deberían ser elementos más elitistas en nuestras vidas"

Outrageous language mishandlings occur everywhere.

17 março, 2010

S. Patrício

17 Março 2010

Palavras lidas #121

PLENO DE VIDA AGORA

Pleno de vida agora, concreto, visível,
Eu, aos quarenta anos de idade e aos oitenta e três dos Estados Unidos,
A ti que viverás dentro de um século ou vários séculos mais,
A ti, que ainda não nasceste, me dirijo, procurando-te.

Quando leres isto, eu que era visível, serei invisível,
Agora és tu, concreto, visível, aquele que me lê, aquele que me procura,
Imagino quanto serias feliz se eu estivesse a teu lado e fosse teu companheiro,
Sê tão feliz como se eu estivesse contigo. (Não penses que não estou agora junto a ti.)

Walt Whitman (1819-1892)
Cálamo
(tradução de José Agostinho Baptista)

16 março, 2010

Foi neste dia #130 (1521)


Há 489 anos, Fernão de Magalhães chegava às Filipinas, provando que se podia chegar a Leste por Oeste, um passo gigantesco no conhecimento geográfico do século XVI. Foi também nas Filipinas que Fernão perdeu a vida pouco mais de um mês depois, num conflito militar, mas bem poderia ter sido numa tempestade ou para o escorbuto: dos 235 homens que saíram em cinco barcos de Salúncar de Barrameda na Andalusia a 20 Setembro de 1519, 150 chegaram às Filipinas e apenas 18 regressaram a Espanha num barco solitário a 6 de Setembro de 1522. Apesar da morte do comandante e da elevadíssima perda de vidas da tripulação, a expedição foi um "sucesso" e os reis de Espanha apressaram-se (em 1525) a enviar mais uma expedição para o outro lado do mundo com o objectivo de reivindicar as Molucas dos Portugueses... guerrear o vizinho do lado ali à porta não teria tanto interesse.

Tenho acompanhado a viagem de circumnavegação que a Sagres está a efectuar até ao final de 2010 e o diário de bordo nem sempre regista pompa e festa, há momentos bem complicados em que o esforço de equipa e a experiência são as únicas armas contra os perigos do caminho. De qualquer forma, a aventura actual da Sagres faz-me pensar em quão diferente é o mundo de hoje em relação ao de há 489 anos atrás, onde não haviam mapas precisos para delinear o trajecto com antecedência, nem imagens de satélite ou radares que ajudassem a escapar ao mau tempo. Que expedição hoje, onde regressasse 7.6% da guarnição inicial, seria considerada um sucesso? O que nos separa de 1521 é o conhecimento e a tecnologia (sendo que o primeiro é patrocinado pela segunda)... nada mais.

14 março, 2010

Pedaços de Barcelona... não turística

Uma bela tarde pela cidade velha de Barcelona:
ruas estreitas do bairro gótico
claustros da sé
colunas do templo romano

(literalmente escondidas no meio de prédios medievais)


churros de chocolate

(se bem que os normais também sejam muito bons)


chocolate quente

ocasional claustro de palácio antigo
(geralmente parte de museu)

13 março, 2010

Coisas que não mudam #121

Religião vs Razão... a minha primeira experiência de teatro em castelhano (legendado em inglês): El encuentro de Descartes con Pascal joven... ¡fenomenal!

12 março, 2010

Coisas que não mudam #120

Good news are good news, no matter where you are. We are four and a half time zones away. This was the chat dialog:

D: hey
me: hey there, how are you doing dear?
D: have a minute? Want to share good news with you
me: sure, tell me
(...)

And they were excellent news indeed... CONGRATULATIONS D, and don't forget the happy song!! You know what you have to do ;-)

11 março, 2010

Memórias #40


P: ¿Conocéis la baraja española?
R: ¿Qué es la baraja española?

Só depois de ver as cartas é que me lembrei que sim, que as conhecia e há tantos anos que as não via.

Lembro-me de quando as vi pela primeira vez... eram esquisitas: muito mais vistosas e coloridas que as nossas, com os símbolos a encher quase toda a superfície da carta. De certa forma eram mais intuitivas uma vez que as copas eram copos e não corações, os ouros eram moedas de ouro e não losangos, as espadas eram mesmo espadas e não um coração invertido com um pé, e os paus não se pareciam com flores, mas eram mesmo paus embora mais parecidos com marretas ou bastões, de acordo com a palavra bastos em espanhol. No entanto, o hábito dos símbolos clássicos fazia-me sempre pensar duas vezes qual seria o naipe correspondente nestes. Lá teriam vindo de Espanha com uns caramelos quaisquer que sempre me interessaram muito mais.

Já não me lembro de quem eram as cartas, talvez de um tio que adorava a jogatana, mas que quando jogava se exaltava quase sempre... então se calhava a não ganhar, caía o carmo e a trindade. Mas era divertido vê-lo jogar com os outros tios já velhotes que comunicavam com expressões faciais se tinham muitos trunfos ou de que naipe estavam a corte. Ao fim de cada jogo criticavam-se uns aos outros por deixarem passar vasas imperdoáveis e discutiam complicadas questões de estratégia. Por vezes, durante o jogo, faziam comentários em forma de pista para o parceiro, até que o tal tio lembrava a todos, já exaltado, que o jogo tinha sido inventado por surdos mudos!

Fiquei ontem a saber que o aeroporto de Barajas em Madrid, mais não é que o aeroporto dos baralhos :-)

Foi neste dia #129 (2004)

Há seis anos em Atocha, Madrid

10 março, 2010

Ditto #146

Excellence can be attained if you care more than others think it's wise, risk more than others think it's safe, dream more than others think is practical, and expect more than others think it's possible.

--Unknown

08 março, 2010

Espantos #238

Nieve en la playa de Barcelona...

06 março, 2010

Numa sala perto de mim #126

Crazy Heart (2009). Boa história. Fantástica interpretação de Jeff Bridges que nunca esteve tão country. E a música...

05 março, 2010

Palavras lidas #120

"A minha mãe diz que na altura em que eu era bebé lhe doía a boca de me dar beijos. Não me lembro deles mas alguma parte minha deve ter saudades desse tempo porque sinto a falta de qualquer coisa que não sei exprimir, qualquer coisa leve e doce, um contacto, palavras, cheiros, uma espécie de ninho de que eu fosse o ovo feliz, um ovozito de nada, pintalgado, minúsculo."

António Lobo Antunes, esta semana na Visão

04 março, 2010

Caprichos # 132

Español #10

toque de queda = curfew = recolher obrigatório

tiro de esquina = corner kick = pontapé de canto
__________

aprende-se muito com a
cadena ser todas as manhãs

03 março, 2010

De palavra em palavra


De palavra em palavra
a noite sobe
aos ramos mais altos

e canta
o êxtase do dia
.

Eugénio de Andrade

02 março, 2010

Numa sala perto de mim #125

Los Años Bárbaros (1998) baseado em factos reais da Espanha de Franco sem liberdade de expressão e com presos políticos em trabalhos forçados... bem familiar ao contexto português da mesma época. Uma bela aula de espanhol!

01 março, 2010

Palavras lidas #119

Fontes de luz, pois não eram outra coisa
(eram outra coisa, eu é que não sou capaz
de uma metáfora mais feliz) os dias
que vinham depois de manifestares
pela prática a tua maneira de ver o amor.

Rajadas de alegria (repito que não consigo
encontrar imagens mais claras) a fundirem
a calma por dentro do meu sono
com o desenho de um sorriso a dormir.
Ah, como é alarve o estoicicismo exagerado
e como é pobre a teimosa recordação.

Não falemos do passado, um de nós
registá-lo-á e embora a sua maneira de ver
as coisas não passe de uma maneira
de ver as coisas, chega a ser absurdo
perante o que nos aconteceu verificar
que cada facto foi pelo menos dois.

É tudo uma questão de óptica, mesmo
agora os livros que leio me modificam
e os que leio segunda e terceira vez
a mesma coisa, pergunto-me se ainda
sou eu, tranquilizas-me dizendo talvez.

Uma palavra que te dou, mais
inquieto, uns olhos fechados
que te entrego, tão sincero.
Fontes de luz, rajadas de alegria?
No fim nada de nada, coisa
pouca. Que não cabe na mão
e sobretudo não cabe no coração.

Helder Moura Pereira (1949)
Segredos do Reino Animal