29 agosto, 2022

Num país a fingir #64

Quando morre um ditador (ainda que) aposentado, que em vida bem se segurou para não cair em desgraça e que, com moderado sucesso, conseguiu "limpar" a imagem perante aqueles que governou, há funeral de estado com visível pompa para que a grandiosidade do líder seja mais uma vez decalcada nas memórias de todos e claro, para fazer as capas dos jornais. 

Para isto contribuem figuras de estado ou de países vizinhos, ou de países mais distantes mas de semelhante regime opressor, que assim prestam homenagem a quem cursou um caminho que muito lhes disse ou quiçá os inspirou. O último exemplo veio ontem de Luanda:

- de África do Sul, veio o presidente da república Cyril Ramaphosa

- da Arábia Saudita, o ministro da administração do territósio Sidi Brahim Salem

- de Cabo Verde, o presidente da república José Maria Pereira das Neves

- do Congo, o presidente da república Denis Sassou Nguesso

- de Cuba, o vice-primeiro ministro Ricardo Cabrisas Ruíz

- da Guiné Bissau, o presidente da república Umaro Sissoco Embaló

- da Guiné Equatorial, o vice-primeiro ministro Clemente Engonga Nguema Onguene

- de Moçambique, o presidente da república Filipe Nyusi

- da Namíbia, o ex-presidente da república Sam Nujoma e o ministro da defesa Frans Kapofi

- da República Democrática do Congo veio o presidente Felix Tshisekedi

- do Ruanda, o ministro dos negócios estrangeiros e cooperação Vincente Biruta

- de São Tomé e Príncipe, o actual e o ex-presidente da república, Carlos Vila Nova e Manuel Pinto da Costa

- da Tanzânia, o ex-presidente da república Jakaya Mrisho Kikwete

- do Zimbabué, o presidente da república Emmerson Mnangagwa

Ora Portugal nem é país vizinho nem é mais uma ditadura, mas lá se fez representar com duas figuras de estado sendo o único país Europeu a fazê-lo. A saber: o presidente da república Marcelo Rebelo de Sousa e o ministro dos negócios estrangeiros João Gomes Cravinho. A justificação de Marcelo foi que todos os cinco presidentes da segunda república Portuguesa, desde 1975, tinham lidado directamente com Eduardo dos Santos. Pois. Com ditadores geralmente é assim!

Não só Portugal fica MUITO mal na fotografia, como Marcelo se presta também ao contexto de aproveitamento político pós eleitoral em Angola. Calado e quieto, é que não consegue estar.

Sem comentários: