31 maio, 2018

Parece que estou a ouvir #260

Depois de ler tanta resposta de exame, pasmo sempre com a quantidade de alunos que não lêem as questões ou as instruções... é como se não soubessem ler, como na música do Rui Veloso.
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Rui Veloso & Carlos Tê

Ai, Senhor das Furnas,
Que escuro vai dentro de nós.
Rezar o terço ao fim da tarde
Só para espantar a solidão.
Rogar a Deus que nos guarde,
Confiar-lhe o destino na mão

Que adianta saber as marés,
Os frutos e as sementeiras,
Tratar por tu os ofícios,
Entender o suão e os animais,
Falar o dialecto da terra,
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais?

E do resto entender mal,
Soletrar assinar em cruz,
Não ver os vultos furtivos,
Que nos tramam por trás da luz.

Ai, Senhor das Furnas,
Que escuro vai dentro de nós.
A gente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de lezíria.
De boca em boca passando o saber,
Com os provérbios que ficam na gíria.

De que nos vale esta pureza,
Sem ler fica-se pederneira.
Agita-se a solidão cá no fundo,
Fica-se sentado à soleira,
A ouvir os ruídos do mundo
E a entendê-los à nossa maneira.

Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém
E não quebrar a tradição
Que dos nossos avós já vem.

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