07 junho, 2013

Palavras lidas #218

Não seria justo omitir que uma convivência mais assídua com o Príncipe também teve um certo efeito sobre Sedàra. Até então, só encontrara aristocratas em reuniões de negócios (quer dizer, de compra e venda) ou a seguir a excepcionalíssimos e bem longamente meditados convites para festas, dois tipos de eventualidades durante as quais estes singulares exemplares sociais não mostram o seu lado melhor. Por ocasião destes encontros, ele ganhara a convicção de que a aristocracia consistia unicamente em homens-ovelhas, que só existiam para abandonar a lã dos seus bens à sua tesoura de tosquia, e o nome, iluminado por um inexplicável prestígio, à sua filha. 

(...)

Lentamente, Dom Calogero ia compreendendo que uma refeição em comum não tem de ser um furacão de ruídos de mastigação e de nódoas de gordura; que uma conversa pode muito bem não parecer uma briga de cães; que dar a precedência a uma mulher é sinal de força e não, como julgava ele, de fraqueza; que de um interlocutor se pode obter mais se lhe dissermos "não me expliquei bem" em vez de "não percebeste a ponta de um corno", e que, usando expedientes destes, comidas, mulheres, argumentos e interlocutores os ganham com todas as vantagens quem souber tratá-los bem. 

Seria ousado afirmar que D. Calogero aproveitava de imediato o que ía aprendendo; daí em diante, passou a barbear-se um pouco melhor e a assustar-se menos com a quantidade de sabão gasto na barrela, e nada mais; mas foi a partir desse momento que começou, para ele e para os seus, o constante refinar de uma classe que no decorrer de três gerações transforma eficientes campónios em cavalheiros indefesos.

(p. 120-2)

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