16 fevereiro, 2025

Palavras lidas #615

Navalny nas suas próprias palavras
Quando se é criança ou jovem adulto, tudo nos parece óptimo, e os políticos muitas vezes exploram essa lei da vida para obscurecerem a nossa imagem do futuro, apresentando um falso retrato do passado. É importante porém, que nos comportemos como seres humanos e não como peixes-dourados, cuja memória, como é sabido, se diz estar limitada aos últimos três segundos. Atirar batatas aos amigos no meio dos campos era evidentemente divertido, mas ainda assim a minha memória de infância mais persistente da URSS é a de estar na fila para o leite. O meu irmão nasceu em 1983. Uma casa em que há uma criança pequena precisa de um fornecimento constante de leite e, durante vários anos, fui eu o responsável por ir comprá-lo. Todos os dias quando saía da escola ía até à loja e ficava à espera pelo menos quarenta minutos na fila para comprar o raio do leite. Muitas vezes ainda não tinham vindo entregá-lo, e tinha de ficar na companhia de dezenas de adultos soturnos à espera de que ele chegasse. Se nos atrasássemos um pouco, já tinham vendido o leite todo, e nessa noite os nossos pais não estariam contentes. É por isso que não tenho qualquer desejo de voltar aos tempos da URSS. Um Estado que é incapaz de produzir leite suficiente para os seus cidadãos não merece a minha nostalgia.

Alexei Navalny, Patriota: memórias, p. 55

Sem comentários: