12 março, 2018

Coisas que não mudam #438

{texto em Português abaixo}

Barring a health scare six years ago, that was resolved rapidly and without sequels, I'd say I'm a pretty healthy person. I have no chronic or recurring conditions, and I am usually pretty resistant to pain. This may all be changing since it's the second time I lose my voice this winter. It's possible that the type of cold/flu virus going around this year may be more resistant, but age, or the change of climate* since September can also be plausible explanations... fact is that today my health (or the lack of it) interfered directly with my job and prevented me from doing it. I had to rely on three other people to make things happen as usual. If I am bothering these many people I better be truly incapacitated, so it's kind of annoying that nothing really hurts: I have no pain or fever, I am able to walk in and out of class, take notes on student presentations to evaluate them as in previous weeks, but the moment I need to conduct class discussion I cannot make myself heard and if I strain my voice, it gets worse.

Once again, it's in times like these that kindness all around manifests itself, either because you need a favor (teaching a class is a big one, but also essential is borrowing an umbrella for a few days because on Saturday you left yours at a restaurant that only reopens on Wednesday), or simply because people realize the state you're in and offer their knowledge or whatever they have that can possibly make you feel better (two friends have offices well stocked of pharmaceutical supplies, or another friend that lives near a bigger pharmacy offered to bring anything I needed). The contrast with the NHS is notorious: as I tried to get a walk-in appointment at the University's health center, and mentioned I had no booked appointment, their answer was "we're terribly sorry but no one can see you today." I do think they were actually terribly sorry about it, as the deplorable sound of my voice made it clear to them that I should not be teaching 4 classes today. Others at work told me the walk-in clinic I am assigned to by the NHS (which, unlike the University health center, is not in my area of residence) would make me wait forever... so thank you very much, but no thanks. Might as well consult with abroad for the appropriate medication given the symptoms and buy it over the counter. And the advice came, generous as always!

On a lighter note, there were quite a few amusing situations throughout the day. In the one class I conducted on my own, I started by apologizing for the low tone of voice telling the students they had two choices: they could either seat closer and hear me better, or they could decide to stay farther away to avoid contagion, if there is any danger of it. In the other three classes students were surprised to see me enter the classroom in company of another tutor, but their faces soon turned to an expression of worry and understanding as I briefly explained why I could not teach today. In the few and brief conversations I held today around the department, it was fun to see everyone whispering back at me (regardless of gender or age), as if they too had a momentary throat problem. The only person who did not whisper back to me has a normal tone of voice which is already very soft (possibly one of the lowest tones of voice I have ever heard) so it was funny to see that he was the one who had the upper tone today... when I spoke to him from some 5 meters distance he would say "I have no idea what you just said," (welcome to my world!!) so I walked two steps closer and repeated the whisper. Finally, telling all of this to my sister at the end of the day, she said "the world would be a better place if all your conversations happened at whispering level" :-)
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*There are so many brits following the historical tradition of living in Portugal in search of a better climate, and I am the one doing the reverse!
À excepção de um susto há seis anos atrás (resolvido rapidamente e sem sequelas), eu diria que sou uma pessoa saudável. Não tenho doenças crónicas ou recorrentes, e tenho alguma resistência à dor. É natural que tudo isto se esteja a alterar dado que é a segunda vez que perco a voz este inverno. É possível que a estirpe de virus/constipação este ano seja mais resistente, mas eu acho que a idade ou a mudança de clima* desde Setembro, também podem ser explicações plausíveis para o que está a acontecer... o facto é que o meu estado de saúde hoje interferiu directamente com o meu trabalho e não me permitiu fazê-lo. Tive de chatear três pessoas para poder levar a cabo as aulas normais de qualquer outra segunda feira. Se é preciso importunar tanta gente é bom que esteja verdadeiramente incapacitada, por isso não deixa de ser irritante que nada me doa: não tenho dores, nem febre, sou capaz de entrar e sair da aula sem problemas, escrever notas para avaliar a apresentação dos alunos tal como nas outras semanas, mas no momento que é preciso liderar a discussão da aula não me consigo fazer ouvir e se esforço a voz é pior.

Uma vez mais é em alturas como esta, que a amabilidade das pessoas à nossa volta se manifesta, ou porque se precisa de um favor (dar uma aula é um grande favor, mas não menos importante é emprestar um guarda chuva dado que o meu, no sábado, ficou esquecido num restaurante que só reabre quarta-feira), ou simplesmente porque as pessoas se apercebem do meu pobre estado e oferecem o que podem para me fazer sentir melhor (duas amigas teem uma farmácia ambulante no gabinete que puseram à minha disposição, outra vive perto de uma grande farmácia e ofereceu-se para trazer o que eu quisesse). O contraste com o Serviço Nacional de Saúde é notório: tentei ser vista por um médico no centro de saúde da universidade mencionando que não tinha consulta marcada mas que dava hoje 4 aulas e tinha a voz naquele estado e a resposta foi "sinto mesmo muito, mas ninguém a pode ver hoje." Eu até acredito que muito sintam, quem quer que oiça o deplorável estado da minha voz e saiba que tenho de dar aulas assim não pode sentir-se de outra forma. Outros colegas disseram que se eu for à clinica da minha área de residência (que, ao contrário do centro de saúde da universidade, não é perto de onde vivo) esperarei eternamente por uma consulta... obrigado, mas não obrigado. Optei por obter uma consulta à distância acerca da medicação apropriada para os meus sintomas e depois comprar a medicação adequada que e de venda livre. A resposta não se fez esperar e foi generosa, como sempre!

Ao longo do dia, houve várias situações divertidas. Na única classe que dirigi sozinha, comecei por pedir desculpa por não poder falar mais alto dizendo aos alunos que tinham duas hipóteses: sentar-se mais perto para me ouvir melhor, ou mais longe para evitar o contágio, se perigo houver de tal. Nas outras aulas, foi interessante ver a expressão de surpresa dos alunos quando me viram entrar em aula acompanhada por outro tutor; mas essa expressão transformou-se rapidamente em compreensão e preocupação assim que eu abri a boca para dizer que não podia dar aula hoje. Nas poucas e breves conversas que tive com colegas do departamento foi divertido ver que toda a gente (independentemente de sexo ou idade) me respondia num sussurro como se também eles/elas tivessem um problema momentâneo na garganta. A única pessoa que não o fez foi um colega, cujo tom de voz normal já é muito baixo (possivelmente eu nunca conheci ninguém que fale tão baixo), por isso foi divertido ver que hoje era ele que falava alto por comparação... quando eu lhe fiz uma pergunta a uns cinco metros de distância ele disse apenas "não faço nem ideia do que acabaste de dizer," (é para que saibas o que eu passo todos os dias, pensei eu!!) o que me fez aproximar dois passos e repetir o sussurro. Finalmente, ao contar tudo isto à minha irmã no final do dia, o que lhe aprouve dizer foi "o mundo seria bem melhor se todas as tuas conversas fossem sussurradas" :-)
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*Há tantos ingleses que seguem a histórica tradição de viver em Portugal à procura de melhor clima, logo tinha eu de fazer o percurso contrário!

1 comentário:

Unknown disse...

Olá Cláudia e votos das melhoras da tua voz!

"Cantarei até que a voz me doa"... já assim dizia um fadito ;)

Ainda que tenhas a voz dessa forma, acredito que os alunos não dispensam as tuas aulas, nem que seja com a tal ajuda de um tutor.

Bjs e boa recuperação vocal!
SP

PS - Quanto ao SNS, nem comento, apesar de ouvir também por aqui muitas respostas similares...