A propósito do post recente sobre a origem da expressão cortina de ferro, dei com outro post não tão recente que fiz há sensivelmente quatro anos, pouco depois da morte de Hugo Chavez. Foi na altura anunciado que seria embalsamado, na tradição soviética, para ficar em exposição permanente no museu militar de Caracas. Não veio a acontecer assim porque a essa decisão não foi tomada a tempo. Hoje Chavez repousa no dito museu num túmulo de granito com guarda de honra permanente rendida a cada hora que passa. Apesar de não estar num sarcófago cristal como Lenin, acaba por ter a mesma pompa.
Adiante. Ao pesquisar sobre Hugo Chavez, verifiquei que tinha sido agraciado com graus honorários de várias universidades da América do Sul. Fora daquela região encontravam-se universidades em países (suspeitos do costume) como Rússia, China, Síria, Líbia, juntamente com a Coreia do Sul o que me surpreendeu por pensar que tinha havido engano na latitude, mas não... aliás o doutoramento honorário em ciência política pela universidade de Kyung Hee foi-lhe concedido em 1999 antes de qualquer outro.
Dos graus académicos passei às ordens de mérito onde também há uma excepção geográfica: Bielorússia, Cuba, Irão e Nicarágua, todos reconheceram o comandante venezuelano em vida, juntamente com... Portugal. Em Novembro de 2001, um ano depois do reconhecimento de Cuba (com a mais alta ordem de mérito daquele país, o primeiro a reconhecer Chavez) Portugal não quis ficar atrás e condecorou Chavez com o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique. Mais uma notável nódoa para a colecção da presidência de Jorge Sampaio... que nunca volte!
E como as ideias (os pensamentos e as conversas) são como as cerejas, dei comigo a ler sobre a Ordem do Infante D. Henrique, a mais alta das ordens nacionais só inferiores às ordens militares na hierarquia das ordens honoríficas portuguesas.
Criada em 1960 no ano em que se comemorava o quinto centenário da morte do Infante, a ordem visa reconhecer e distinguir a prestação de serviços relevantes a Portugal no país ou no estrangeiro. Tem a dita ordem seis graus de valor aqui por ordem decrescente: grande-colar, grã-cruz, grande-oficial, comendador, oficial e cavaleiro/dama. Dividem-se os graus entre titulares e honorários. Ora entre os honorários do grande-colar, para além de Chavez (2001), encontram-se muitos outros nomes conhecidos pelo melhor e pelo pior, mas em quase todos tenho dúvidas do seu serviço a Portugal. Alguns exemplos: Filipe Duque de Edimburgo (1973) marido de Isabel II de Inglaterra, Elena Ceauşescu (1978) mulher de Nicolai Ceauşescu presidente da Roménia, Hosni Mubarak (1983) presidente do Egipto, François Miterrand (1983) presidente da França, Mobutu Sese Seko (1984) presidente do Zaire, José Eduardo dos Santos (1988) presidente de Angola, Lech Wałęsa (1995) presidente da Polónia, Nelson Mandela (1996) presidente de África do Sul, Akihito (1998) imperador do Japão, Henrique do Luxemburgo (2005) grão-duque e chefe de estado, Xanana Gusmão (2006) presidente de Timor-Leste.
E no fim de tanta pesquisa dei comigo a pensar no valor do grande-colar...
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