31 agosto, 2022

Coisas que mudaram #19

As reacções à morte de Gorbachev sucedem-se e não é de espantar que venham de polos opostos. Se para uns foi o líder que implementou perestroika e glasnost (curiosamente ideias originais de Brezhnev) que ditaram o princípio do fim da União Soviética, da Guerra Fria e de um mundo constantemente em receio de um conflito nuclear, para outros, Gorbachev não foi mais que um traidor ao regime que devia ter liderado, reformado e protegido.

A meu ver, as reacções do ocidente que o apontam como visionário homem de coragem que não teve medo de terminar com um sistema político repressor e ineficiente, são tão descabidas como aquelas que o apontam como um inimigo da paz Europeia e mundial. 

A intenção de Gorbachev era reformar e não derrubar a União Soviética*. Consciente disso sempre esteve a China que viu nas políticas de Gorbachev uma advertência clara ao que não se deve fazer num regime totalitário. Por isso o regime Chinês lá continua firme, embora bem diferente daquele que Mao idealizou. Ainda assim totalitário e sem eleições livres nem em Hong Kong nem em Macau e por Taiwan aguarda-se que deixem de as ter.

Mas voltando a Gorbachev. Dado que o seu legado histórico inegável é o da implosão soviética, obviamente que há muitos países que lhe estão agradecidos e com razão. Toda a Europa de leste (cortina de ferro e ex-republicas soviéticas agora independentes) pode hoje ser senhora de si e escolher quem quer que a lidere (embora a Ucrânia actualmente pague bem caro por isso). Não é coisa pouca!

Quanto ao Partido Comunista Português e semelhantes vozes dissonantes, acho salutar que assim falem em público. É que fazer parte de geringonças e organizar festas de música pop esconde radicalismos e engana o eleitorado. Assim se vê a força do PC já dizia o slogan que deveria ser actualizado para Assim se vê quem eles são e quanto valem. Aguardemos as próximas eleições para ver a ripada que levam.

30 agosto, 2022

29 agosto, 2022

Num país a fingir #64

Quando morre um ditador (ainda que) aposentado, que em vida bem se segurou para não cair em desgraça e que, com moderado sucesso, conseguiu "limpar" a imagem perante aqueles que governou, há funeral de estado com visível pompa para que a grandiosidade do líder seja mais uma vez decalcada nas memórias de todos e claro, para fazer as capas dos jornais. 

Para isto contribuem figuras de estado ou de países vizinhos, ou de países mais distantes mas de semelhante regime opressor, que assim prestam homenagem a quem cursou um caminho que muito lhes disse ou quiçá os inspirou. O último exemplo veio ontem de Luanda:

- de África do Sul, veio o presidente da república Cyril Ramaphosa

- da Arábia Saudita, o ministro da administração do territósio Sidi Brahim Salem

- de Cabo Verde, o presidente da república José Maria Pereira das Neves

- do Congo, o presidente da república Denis Sassou Nguesso

- de Cuba, o vice-primeiro ministro Ricardo Cabrisas Ruíz

- da Guiné Bissau, o presidente da república Umaro Sissoco Embaló

- da Guiné Equatorial, o vice-primeiro ministro Clemente Engonga Nguema Onguene

- de Moçambique, o presidente da república Filipe Nyusi

- da Namíbia, o ex-presidente da república Sam Nujoma e o ministro da defesa Frans Kapofi

- da República Democrática do Congo veio o presidente Felix Tshisekedi

- do Ruanda, o ministro dos negócios estrangeiros e cooperação Vincente Biruta

- de São Tomé e Príncipe, o actual e o ex-presidente da república, Carlos Vila Nova e Manuel Pinto da Costa

- da Tanzânia, o ex-presidente da república Jakaya Mrisho Kikwete

- do Zimbabué, o presidente da república Emmerson Mnangagwa

Ora Portugal nem é país vizinho nem é mais uma ditadura, mas lá se fez representar com duas figuras de estado sendo o único país Europeu a fazê-lo. A saber: o presidente da república Marcelo Rebelo de Sousa e o ministro dos negócios estrangeiros João Gomes Cravinho. A justificação de Marcelo foi que todos os cinco presidentes da segunda república Portuguesa, desde 1975, tinham lidado directamente com Eduardo dos Santos. Pois. Com ditadores geralmente é assim!

Não só Portugal fica MUITO mal na fotografia, como Marcelo se presta também ao contexto de aproveitamento político pós eleitoral em Angola. Calado e quieto, é que não consegue estar.

28 agosto, 2022

Coisas que não mudam #605

Promessas de camélias
e cumpridos os tomates

27 agosto, 2022

Coisas bonitas #114

O Porto envolto em nevoeiro

24 agosto, 2022

23 agosto, 2022

Coisas bonitas #113

Flores que abrem de dia e fecham de noite

22 agosto, 2022

21 agosto, 2022

Palavras lidas #523

Cardiology
by Rafael Campo

When we first met, my heart pounded. They said
the shock of it was probably what broke
his heart. In search of peace, we traveled once
to Finland, tasted reindeer heart. It seemed
so heartless, how you wanted it to end.
I noticed on the nurse who took his pulse
a heart tattooed above her collarbone.
The kids played hearts all night to pass the time.
You said that at its heart rejection was
impossible to understand. “We send
our heartfelt sympathy,” was written in
the card your mother sent, in flowing script.
I tried interpreting his EKG,
which looked like knife wounds to the heart. I knew
enough to guess he wouldn’t last much longer.
As if we’d learned our lines by heart, you said,
“I can’t explain.” “Please don’t,” was my reply.
They say the heart is just a muscle. Or
the heart is where the human soul resides.
I saw myself in you; you looked so much
like him. You didn’t have the heart to say
you didn’t want me anymore. I still
can see that plastic statue: Jesus Christ,
his sacred heart aflame, held out in his
own hands. He finally let go. How grief
this great is borne, not felt. Borne in the heart.

20 agosto, 2022

Ditto #522

Remembering that you are going to die is the best way I know to avoid the trap of thinking you have something to lose. You are already naked. There is no reason not to follow your heart.

--Steve Jobs

19 agosto, 2022

Caprichos #687

Gosto muito de gatos, mas a meiguice dos cães não tem igual.

18 agosto, 2022

17 agosto, 2022

Coisas que não mudam #603

Viagens de comboio: linha da Beira Baixa

16 agosto, 2022

15 agosto, 2022

Conselhos úteis #20

Em dias de muito calor, está-se bem é à sombra

12 agosto, 2022

Espantos #644

Apreciando o movimento do sétimo andar
exemplo de coragem e ousadia!

Sem título #266

Lost, lost...

11 agosto, 2022

Palavras lidas #522

Why I'm Here
by Jacqueline Berger

Because my mother was on a date
with a man in the band, and my father,
thinking she was alone, asked her to dance.
And because, years earlier, my father
dug a foxhole but his buddy
sick with the flu, asked him for it, so he dug
another for himself. In the night
the first hole was shelled.
I'm here because my mother was twenty-seven
and in the '50s that was old to still be single.
And because my father wouldn't work on weapons,
though he was an atomic engineer.
My mother, having gone to Berkeley, liked that.
My father liked that she didn't eat like a bird
when he took her to the best restaurant in L.A.
The rest of the reasons are long gone.
One decides to get dressed, go out, though she'd rather
stay home, but no, melancholy must be battled through,
so the skirt, the cinched belt, the shoes, and a life is changed.
I'm here because Jews were hated
so my grandparents left their villages,
came to America, married one who could cook,
one whose brother had a business,
married longing and disappointment
and secured in this way the future.

It's good to treasure the gift, but good
to see that it wasn't really meant for you.
The feeling that it couldn't have been otherwise
is just a feeling. My family
around the patio table in July.
I've taken over the barbequing
that used to be my father's job, ask him
how many coals, though I know how many.
We've been gathering here for years,
so I believe we will go on forever.
It's right to praise the random,
the tiny god of probability that brought us here,
to praise not meaning, but feeling, the still-warm
sky at dusk, the light that lingers and the night
that when it comes is gentle.

10 agosto, 2022

Ditto #521

The only thing we have to fear is fear itself.

--Franklin Delano Roosevelt, in his inauguration speech in 1933

09 agosto, 2022

08 agosto, 2022

Coisas bonitas #111

Fantástico por-do-sol na serra mais alta do continente

Pedaços da (catedral da) Guarda

A capital da Beira alta é cidade de centro histórico com ruas estreitas
que desembocam na monumental sé catedral
que se sobrepõe a todo o espaço circundante.
O raro altar mor de estilo medieval não é policromado,
obrigando a focar a atenção nos pormenores das esculturas,
as altíssimas e austeras colunas culminam na inevitável cruz de Cristo.
Por fora, bonitos portais adornam as entradas
norte e oeste, ambos já com influência manuelina.
De notar que a catedral (como quase toda a cidade) se encontra em plano inclinado, pelo que o chão do edifício não é todo à mesma altura. Há degraus dispersos ao longo do chão ficando o altar mor mais baixo que os bancos da assembleia mais distantes do altar. Bastante invulgar!

07 agosto, 2022