Esse sorriso será para outro, ou a propósito de outro,
Loura débil...
Esse olhar para mim casual como um calendário...
Esse agradecer-me quando não a deixei cair do eléctrico
Um agradecimento...
Perfeitamente...
Gosto de lhe ouvir em sonho o seguimento que nao houve
De conversas que nunca chegou a haver,
Há gente que nunca é adulta sem!
Creio mesmo que pouca gente chega a ser adulta - pouca -
E a que chega a ser adulta de facto morre sem dar por nada.
Loura débil, figura inglesa absolutamente portuguesa,
Cada vez que te encontro lembro-me dos versos que esqueci...
É claro que não me importo nada contigo
Nem me lembro de te ter esquecido senão quando te vejo,
Mas o encontrar-te dá som ao dia e ao desleixo
Uma poesia de superfície,
Uma coisa a mais no a menos da improficuidade da vida...
Loura débil, feliz porque não és inteiramente real,
Porque nada que vale a pena ser lembrado é inteiramente real,
E nada que vale a pena ser real vale a pena.
Álvaro de Campos, Poesia
Sem comentários:
Enviar um comentário