O Diário de Notícias de hoje traz um artigo sobre os hospitais de São José, Santo António dos Capuchos e Santa Marta na colina de Santana em Lisboa. Nunca tinha entrado em nenhum dos dois primeiros (e do último tenho apenas uma vaga memória de há muitos anos lá ter visitado um tio-avô que tinha feito uma operação ao coração) até ao verão passado, quando em seis semanas as minhas tardes se consumiram primeiro nos Capuchos, depois no São José.
Para além da agonia sem fim de testemunhar a progressão de uma doença com baixa probabilidade de melhoras, ficaram as memórias de edifícios notáveis. Antigos conventos, mais ou menos degradados servem de hospitais com a melhor das vontades do pessoal, mas com manifesta falta de recursos físicos, já que não foram concebidos para a função que hoje desempenham.
A câmara de Lisboa tem planos para a colina de Santana que passam por fechar os ditos hospitais (juntamente com os hospitais de Dona Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa e também dos antigos hospitais do Desterro e Miguel Bombarda, estes já desactivados) e reconvertê-los em espaços habitacionais ou hoteleiros, conjugados com espaços comerciais e de lazer. Tudo pendente da construção do perenemente adiado mega Hospital de Lisboa Oriental, actualmente com abertura prevista para 2021... aguardemos.
Ainda dos hospitais dos Capuchos e São José, ficam memórias de belíssimos e infindáveis azulejos do século XVIII e da capela do São José (que teria servido de sacristia da antiga igreja do Colégio dos Jesuítas destruída no terramoto de 1755) que sempre me pasmou pela sua dimensão monumental. Afinal tudo tem uma explicação:
(...) O edifício chegou a ter aquela que era à altura a mais imponente igreja da cidade de Lisboa e uma das maiores do país. Mas se a igreja caiu por terra (as abóbadas desabaram com o terramoto e o que ficou acabou por desaparecer), ficou o que era a sacristia e é agora a majestosa capela do hospital, obra do arquiteto João Antunes, datada de finais do século XVII e hoje classificada como monumento nacional.
Com um teto altíssimo, integralmente coberta por mármores coloridos (sobretudo a rosa e negro), a sala da capela é ladeada por dois enormes arcazes (arcas) em ébano e pau-santo, com 20 metros de comprimento. As paredes laterais são rasgadas por quatro janelões de um lado, e outros tantos do outro, mas neste caso em espelho criando a ilusão de luz natural (uma inovação ao tempo, que viria depois a multiplicar-se noutros espaços). A grandiosidade da sacristia tem uma explicação. D. Filipa de Sá, terceira condessa de Linhares, a mecenas do edifício, então considerada a viúva mais rica do país, exigia a realização - para sempre - de várias missas diárias, uma delas cantada, um serviço que devia ser assegurado por 11 capelães, residentes em habitação própria no local e tribuna para o canto. (...)
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