"(...)
O ofício de carregador é aliás o mais comum entre os chamados escravos-de-ganho. São estes que carregam as cadeirinhas, as mercadorias, a pedra para as construções. Enfim, do norte ao sul, ou, como aqui se diz, do Oiapoque ao Chui, os negros carregam o Brasil. Nas cidades nada se move sem eles, nada se faz ou constrói, e nos campos coisa alguma se cultiva sem a sua força. Vi, inclusive, um jovem cavalheiro atravessar a rua para comprar um repolho no mercado em frente, e voltar depois, muito esticado, muito digno, seguido de um enorme negro com o seu cesto de verga à cabeça, e dentro dele... o repolho!
Muitos escravos-de-ganho conseguem ao fim de vinte ou vinte e cinco anos comprar a respectiva carta de alforria. Uma vez livres carregam mercadorias outro tanto tempo, noite e dia, até poderem finalmente adquirir um escravo que trabalhe por eles.
(...)"
Nação Crioula, José Eduardo Agualusa, Dom Quixote, 5.ª Edição, pág. 88 e 89
30 junho, 2007
Palavras lidas # 23
Foi neste dia # 70 (1908)
Conscientes da nossa infima dimensão?
28 junho, 2007
No Times de hoje # 37
O artigo do professor Hal Varian (ahh livros de principios de Micro e Micro intermedia...) no New York Times de hoje, fala de um estudo de investigadores da Universidade da California em Irvine, que pretende determinar o valor criado por um iPod de 30GB com o preço de $299, não só para as várias companhias que participam na cadeia de produção, como também para os países que o produzem (por exemplo, a Toshiba japonesa produz o disco rigido do iPod nas Filipinas). Os resultados não são triviais.
27 junho, 2007
Retirado do contexto # 9
Diz que para si todo o tempo conta. Tem medo da ideia da morte?
Não, não é isso. É tão bom viver. Quanto menos sentirmos o corpo, melhor. Estou a falar consigo, dói-me ao corpo, dói-me as mãos, procuro na cadeira o jeito para poder gozar a vida, porque a vida é uma coisa preciosa. Esta sensação de tempo não tem nada a ver com receio.
(Júlio Resende hoje, em entrevista ao DN)
26 junho, 2007
25 junho, 2007
A não perder, numa ída ao CCB
Na foto: António Cerveira Pinto, Pintura Repetitiva (Dez Quadros para o Ano 2000)
24 junho, 2007
No Times de hoje # 36
Vale a pena ler!
An estimated 200 million people live outside the country of their birth, and they help support a swath of the developing world as big if not bigger. Migrants sent home about $300 billion last year — nearly three times the world’s foreign aid budgets combined. Those sums are building houses, educating children and seeding small businesses, and they have made migration central to discussions about how to help the global poor. A leading academic text calls this the “Age of Migration.”
____________
* Border Crossings
23 junho, 2007
Palavras lidas # 22
É Dezembro em Paris. Era já Dezembro quando parti de Luanda deixando para trás o esplendor do teu olhar. Há-de ainda ser Dezembro depois que terminar o mês, e a seguir virá Dezembro e o Inverno, e novamente Dezembro e sempre assim, até que de novo eu retorne à Estação do Sol, que é em toda a parte todo o instante que o teu olhar ilumina. (...)
22 junho, 2007
21 junho, 2007
Numa sala* perto de mim # 30
Mother superior He has told me you should leave but he said you wouldn't.
Fez-me pensar... o que é um dever? Muitas coisas certamente, mas muitas outras que consideramos deveres certamente não o são.
* Mais concretamente no avião... não vi em HD como tive oportunidade há umas semanas, mas ainda assim gostei muito ;-)
19 junho, 2007
61 minutos
18 junho, 2007
17 junho, 2007
Parece que estou a ouvir # 24
Bamboleô
Bamboleô, bamboleá
A vida eu levo cantando
Pra não chorar
Todos se queixam da sorte
Quase sempre reclamando
Mas eu que conheço a escrita
Deixo tudo e vou girando
Todo mundo vive triste
Fala, fala, o dia inteiro
O mal de toda essa gente
É a falta de dinheiro
Bamboleô, bamboleá
A vida eu levo cantando
Pra não chorar
Neste mundo de ilusão
Só não goza quem não quer
Pois a vida só consiste
No dinheiro e na mulher
Tudo passa nessa vida
Nada fica pra semente
Não se matando a tristeza
A tristeza mata a gente
Bamboleô, bamboleá
A vida eu levo cantando
Pra não chorar
(por Ney Matogrosso)
15 junho, 2007
14 junho, 2007
13 junho, 2007
Ditto #35
10 junho, 2007
Em dia de Portugal
Com duas mãos --o Acto e o Destino--
Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o fecho trémulo e divino
E a outra afasta o véu.
Fosse a hora que haver ou a que havia
A mão que ao Ocidente o véu rasgou,
Foi a alma a Ciência e corpo a Ousadia
Da mão que desvendou.
Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal
A mão que ergueu o facho que luziu,
Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Da mão que o conduziu.
Fernando Pessoa, A Mensagem
08 junho, 2007
Pedaços do Porto #1
07 junho, 2007
04 junho, 2007
Num país a fingir #13
03 junho, 2007
Parece que estou a ouvir # 23
Avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
on oublie le visage et l'on oublie la voix
le cœur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
l'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
l'autre qu'on devinait au détour d'un regard
entre les mots, entre les lignes et sous le fard
d'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
avec le temps tout s'évanouit
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'as un' de ces gueules
à la gal'rie j'farfouille dans les rayons d'la mort
le samedi soir quand la tendresse s'en va tout' seule
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
l'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien
l'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
devant quoi l'on s'traînait comme traînent les chiens
avec le temps, va, tout va bien
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
on oublie les passions et l'on oublie les voix
qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid
avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
et l'on se sent floué par les années perdues- alors vraiment
avec le temps on n'aime plus
Léo Ferré