30 novembro, 2014

Foi neste dia #246 (1934)

Há 80 anos era lançada a Mensagem de Fernando Pessoa

Palavras lidas #248

Acerca dos gatos

Em Abril chegam os gatos: à frente
o mais antigo, eu tinha
dez anos ou nem isso,
um pequeno tigre que nunca se habituou
às areias do caixote, mas foi quem
primeiro me tomou o coração de assalto.
Veio depois, já em Coimbra, uma gata
que não parava em casa: fornicava
e paria no pinhal, não lhe tive
afeição que durasse, nem ela a merecia,
de tão puta. Só muitos anos
depois entrou em casa, para ser
senhor dele, o pequeno persa
azul. A beleza vira-nos a alma
do avesso e vai-se embora.
Por isso, quem me lambe a ferida
aberta que me deixou a sua morte
é agora uma gatita rafeira e negra
com três ou quatro borradelas de cal
na barriga. É ao sol dos seus olhos
que talvez aqueça as mãos, e partilhe
a leitura do Público ao domingo.

Eugénio de Andrade, In O Sal da Língua

27 novembro, 2014

Parece que estou a ouvir #189

22 anos depois os Resistência vão justar-se outra vez em concerto a 17 de Dezembro no Teatro Tivoli. Numa entrevista um dos elementos disse que o fabuloso era todos os membros do grupo estarem ainda dedicados à música. Lembrei-me dos Heróis do Mar que nos anos 80 fizeram furor, numa altura em que a escolha do primeiro verso do hino nacional para nome da banda não era lá muito bem vista.

No dia em que o Cante Alentejano é declarado Património Imaterial da Humanidade, fica aqui o Fado dos Heróis do Mar (e depois dos Resistência), que não é fado.
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Fado
Heróis do Mar & Resistência

À volta do adro duas ou três casas
Dois bancos vermelhos, ao meio uma cruz
Ali num café ao lado da igreja
Dois homens parados e uma linda luz

Com a voz que me resta eu não vou poder cantar
Às coisas do mundo, não sei descrever, estou longe
São portas fechadas, segredos por revelar
São coisas do mundo, só se podem ver ao longe

Sim estou convencido que isto é mesmo assim
Que nunca se conta bem o que se vê
E levo comigo já sem aprender
O que os olhos vêem e eu já não sei

Com a voz que me resta eu não vou poder cantar
Às coisas do mundo, não sei descrever, estou longe
São portas fechadas, segredos por revelar
São coisas do mundo, só se podem ver ao longe

Ao longe...

26 novembro, 2014

25 novembro, 2014

Caprichos #336

Desta vez, com todos os Fs e Rs, ou talvez Ss e Rs...

Espantos #413

I had seen red and white poinsettias, not pink. I like!

24 novembro, 2014

Parece que estou a ouvir #188

Meu corpo treme e ginga qual pandeiro... sempre ouvi ao Caetano Veloso. No entanto, foi Carmen Miranda quem lançou a música de Amado Régis em 1937, num registo bem mais evidente dos dois estilos musicais.
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O Samba e o Tango
Amado Régis

Chegou a hora, chegou chegou
Meu corpo treme e ginga qual pandeiro
A hora é boa e o samba começou
E fez convite ao tango p'ra parceiro

Chegou a hora, chegou chegou
Meu corpo treme e ginga qual pandeiro
A hora é boa e o samba começou
E fez convite ao tango p'ra parceiro

Hombre yo non sé porque te quiero
Yo te tengo amor sincero
Diz a muchacha do Prata
Pero no Brazil é diferente
Yo te quiero simplesmente
Teu amor me desacata
Habla castellano no fandango
Argentino canta tango
Ora lento, ora ligeiro
E eu canto e danço sempre que possa
Um sambinha cheio de bossa
Sou do Rio de Janeiro
(bis)

22 novembro, 2014

Retirado do contexto #190

O filme Os Intocáveis (1987) mostra o trabalho meticuloso de uma força especial de polícias com a missão de caçar Al Capone na corrupta Chicago dos anos 30. No meio de tantos indícios dos mais variados crimes, Capone acabou de ser preso por evasão fiscal.

21 novembro, 2014

Palavras lidas #247

Das memórias mais antigas, as dos avós são talvez as mais queridas. Não estão sempre lá, mas vêm à lembrança em ocasiões tantas vezes insignificantes e fazem-nos sorrir. Hoje, tocaram-me as como minhas as lembranças de outros avós. O texto, tão bem escrito (!) merece ser reproduzido na íntegra. Aqui o link do blog de onde veio este belo post e tantos outros!
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É engraçado o tipo de coisas que nos faz lembrar das pessoas, sobretudo as que já partiram.

Quando era mais nova e passeava na baixa com a minha avó (num tempo em que isso era quase um acontecimento e não um hábito regular), chegada a altura de fazer uma pausa para um almoço ou um lanche, acabávamos sempre por parar num daqueles cafés típicos do Porto, que a mim me diziam muito pouco, mas que a minha avó conhecia desde sempre - muito antes do pitoresco estar na moda e do tradicional ser chamado gourmet.

Foi com ela que comi o meu primeiro pastel de chaves. Nunca fui de comer muito, por isso na hora de escolher, ela tentava sempre que eu pedisse muito mais do que me parecia razoável, no seu esforço desmesurado de alimentar-me e ver-me feliz.

Hoje, quando chegou a hora de almoço e me vi na baixa sozinha, entrei num desses cafés e pedi um pastel de chaves - um pastel de chaves e uma sopa, quase uma heresia para aquela criança que provou o seu pastel de chaves pela primeira vez.

Passavam por mim alguns dos mesmos empregados, fitavam-me as mesmas montras cheias e coloridas dificultando a escolha, olhava em volta os clientes habituais que se conhecem pelo nome, as garrafas de vinho tapadas com rolha à espera do prato-do-dia-seguinte, as mesmas mesas encavalitadas entre a parede de azulejos e o balcão voltado para a cozinha - as famosas mesas de plástico com padrões baratos de imitação de pedra e individuais de papel - os cestos de pão e os pratinhos com bolinhos de bacalhau, que de pequeninos têm tão pouco.

Agora há menus com fotos requintadas nas paredes e até serviço take-away de bebidas quentes com nomes estrangeiros como é moderno usar-se, mas o espírito continua o mesmo.
Pessoas entram e saem, com pressa, mas ninguém nos apressa.

Enquanto comia, não conseguia deixar de lembrar-me da minha avó, em conversas imaginárias sobre a escola, amigos ou coisas de que eu gostava. Tantas perguntas e recomendações que na altura me pareciam chatas (chatas não, que é palavra feia: aborrecidas) e às quais respondia com o encolher de ombros típico da idade, sem perceber que aquilo que parecia banal e enfadonho para mim, era para ela novidade e um simples pretexto para ouvir-me falar.

Agora, não me lembro propriamente de nenhuma dessas conversas - lembro-me apenas de estarmos à mesa, com ela a cobrir-me de mimos através do açúcar das ducheses que eu adorava - e era por isso, embora não o soubesse, mas apenas suspeitasse, na altura, que me sabiam ainda melhor.

19 novembro, 2014

Espantos #411

A month before Winter and all states are waking up in freezing temperatures already... snow season starts early this year! Glad I'll be there just for the last part.

Foi neste dia #245 (1863)

The Gettysburg address happened on this day 151 years ago at the height of the American Civil War. In ten sentences and less than two minutes, Abraham Lincoln reminded the principles of the foundation of the United States, defending them as the rationale for fighting the civil war. The Union soldiers who perished for this cause in Gettysburg PA just four and a half months earlier did not die in vain.

Four score and seven years ago our fathers brought forth on this continent a new nation, conceived in liberty, and dedicated to the proposition that all men are created equal.

Now we are engaged in a great civil war, testing whether that nation, or any nation so conceived and so dedicated, can long endure. We are met on a great battlefield of that war. We have come to dedicate a portion of that field, as a final resting place for those who here gave their lives that that nation might live. It is altogether fitting and proper that we should do this.

But, in a larger sense, we can not dedicate, we can not consecrate, we can not hallow this ground. The brave men, living and dead, who struggled here, have consecrated it, far above our poor power to add or detract. The world will little note, nor long remember what we say here, but it can never forget what they did here. It is for us the living, rather, to be dedicated here to the unfinished work which they who fought here have thus far so nobly advanced. It is rather for us to be here dedicated to the great task remaining before us—that from these honored dead we take increased devotion to that cause for which they gave the last full measure of devotion—that we here highly resolve that these dead shall not have died in vain—that this nation, under God, shall have a new birth of freedom—and that government of the people, by the people, for the people, shall not perish from the earth.

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O Discurso de Gettysburg aconteceu há 151 anos, em plena guerra civil americana. Em dez frases e menos de dois minutos, Lincoln lembrou os princípios da criação do Estado Americano que usou para justificar a guerra civil. Os soldados Americanos que morreram por esta causa em Gettysburg no estado da Pennsylvania apenas quatro meses e meio antes, não morreram em vão. 

Há 87 anos, os nossos pais deram origem neste continente a uma nova Nação, concebida na Liberdade e consagrada ao princípio de que todos os homens nascem iguais.

Encontramo-nos actualmente empenhados numa grande guerra civil, pondo à prova se essa Nação, ou qualquer outra Nação assim concebida e consagrada, poderá perdurar. Eis-nos num grande campo de batalha dessa guerra. Eis-nos reunidos para dedicar uma parte desse campo ao derradeiro repouso daqueles que, aqui, deram a sua vida para que essa Nação possa sobreviver. É perfeitamente apropriado e justo que o façamos.

Mas, numa visão mais ampla, não podemos dedicar, não podemos consagrar, não podemos santificar este local. Os valentes homens, vivos e mortos, que aqui combateram já o consagraram, muito para além do que nós jamais poderíamos acrescentar ou diminuir com os nossos fracos poderes. O mundo muito pouco atentará, e muito pouco recordará o que aqui dissermos, mas não poderá jamais esquecer o que eles aqui fizeram. Cumpre-nos, antes, a nós os vivos, dedicarmo-nos hoje à obra inacabada até este ponto tão nobremente adiantada pelos que aqui combateram. Antes, cumpre-nos a nós os presentes, dedicarmo-nos à importante tarefa que temos pela frente – que estes mortos veneráveis nos inspirem maior devoção à causa pela qual deram o último e máximo sacrifício – que todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão  que esta Nação, com a graça de Deus, renasça na liberdade  e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desapareça da face da terra.

18 novembro, 2014

Ditto #291

Nature never breaks her own laws.

--Leonardo da Vinci

17 novembro, 2014

No Times de hoje #159

Another wrongful conviction. Another 28 years robbed from an innocent's life. Another legal imbroglio. Another strong willed individual who was able to live through it and say:

I couldn't allow being in prison for something I did not do, to cripple me

Would I be able to keep that clarity of mind?

16 novembro, 2014

Coisas que não mudam #286

Deliciosas comidas dos últimos dias

Coisas que não mudam #285

Chocolataria Equador...
o Chiado tem cada vez mais lojas interessantes!

15 novembro, 2014

Caprichos #335

Queijo da serra...
... com marmelada!

13 novembro, 2014

Parece que estou a ouvir #187

O concerto de Rodrigo Leão ontem no Centro Cultural de Belém, trouxe boas memórias.
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Guitarra
Madredeus

Quando uma guitarra trina
nas mãos de um bom tocador
a propria guitarra ensina
a cantar seja quem for

Eu quero que o meu caixão
tenha uma forma bizarra
a forma de um coração
a forma de uma guitarra

Guitarra, guitarra querida
eu venho chorar contigo
sinto mais suave a vida
quando tu choras comigo

11 novembro, 2014

Espantos #410

Color, or Black & White?

Foi neste dia #244 (1154)

Há 860 anos nascia em Coimbra o quarto filho de D. Afonso Henriques e de D. Mafalda de Sabóia. Baptizado de Martinho por nascer neste dia, o seu nome viria a ser alterado para um mais hispânico Sancho Afonso, devido à morte do seu irmão mais velho (o infante Henrique) que o transformou em príncipe herdeiro aos três anos de idade. Sancho foi aliás o único filho legítimo do primeiro rei a sobreviver até à idade adulta. A recentemente declarada independência de Portugal levou Afonso Henriques a procurar alianças na Península Ibérica pelo que Sancho casou em 1174 com a infanta Dulce de Aragão, o primeiro país a reconhecer Portugal. Sancho I ficou para a história como o rei Povoador por ter concedido diversas cartas de foral em localidades nas Beiras e Trás-os-Montes, como Gouveia e Covilhã (1186), Viseu e Bragança (1187), ou Belmonte (1199), povoadas com imigrantes da Flandres e Borgonha.

09 novembro, 2014

Foi neste dia #243 (1989)

I remember finding it hard to understand the concept of West and East Berlin, when I heard it for the first time. I naturally thought that the border between the two Germanys went through Berlin, but the map showed the city completely inside the GDR. I realized then that West Berlin was completely surrounded by the wall. Those inside were free, while those outside wanted to go there. It was then that I understood that something was very wrong with the communist system...

25 years after the fall of the wall, there are lit balloons along 15km of the wall's path to remind the absurdity that marked so many lives.
Lembro-me que me custou a entender o conceito de Berlim Ocidental e Oriental da primeira vez que me foi explicado. Naturalmente pensei que a fronteira entre as duas Alemanhas passava por Berlim, mas o mapa mostrava que a cidade se encontrava totalmente dentro da RDA. Dei-me então conta que era Berlim Ocidental que se encontrava cercada pelo muro. Quem estava dentro era livre e quem estava fora queria para lá ir. Foi nessa altura que me apercebi que devia haver algo de muito errado com o sistema comunista...


25 anos depois da queda do muro há balões luminosos em 15 km do percurso para lembrar o absurdo que afectou tantas vidas.

06 novembro, 2014

Ficava tão bem lá em casa #43

Le Printemps, Édouard Manet, 1881

Manet's Le Printemps, was auctioned last night for $65.1m, beating Christie's generous estimate of $35m. Soon it can be seen at the J. Paul Getty Museum in Los Angeles.
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"This was one of the last of Manet’s salon paintings still in private hands."

05 novembro, 2014

Pormenores #119

Na conservatória de Cascais, certamente já houve muitas pessoas irritadas com estas máquinas de senhas de atendimento, o que provocou a irritação do funcionário que colocou este aviso na dita máquina.

Espantos #410

Fico sempre espantada com grandes árvores

04 novembro, 2014

Coisas que não mudam #284

First impressions of the first episode of Downton Abbey's season 5:

- it seems nothing will ever happen in the first half... the setting up of the action takes a while and makes you think whether you'll keep on watching avidly the rest of the season
- things start changing in the early second half but the pace is still slow
- the last fifteen minutes are packed with action of Downton at its best. Worth the wait!!

Here are some of the fantastic punchlines of the Dowager countess:

My dear, there's nothing simpler than avoiding people you don't like. Avoiding one's friends, that's the real test.

Principles are like prayers. Noble of course, but awkward at a party.

Glad to be in Europe this fall...

03 novembro, 2014

02 novembro, 2014

01 novembro, 2014

Caprichos #333

Carmen @Gulbenkian live HD from the Met in New York
FANTASTIC!!