30 novembro, 2006

No dia que foi, há 71 anos, o último da sua vida

É talvez o último dia da minha vida

É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o Sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.

Alberto Caeiro

Ditto #19

"While one person hesitates because he feels inferior, the other is busy making mistakes and becoming superior."

-- Henry C. Link

28 novembro, 2006

Parece que estou a ouvir #8


El dia que me quieras

Acaricia mi ensueño

el suave murmullo de tu suspirar.
Como rie la vida
si tus ojos negros me quieren mirar.
Y si es mio el amparo
de tu risa leve
que es como un cantar,
ella aquieta mi herida,
todo todo se olvida.

El día que me quieras
la rosa que engalana,
se vestirá de fiesta
con su mejor color.
Y al viento las campanas
dirán que ya eres mía,
y locas las fontanas
se contaran su amor.

La noche que me quieras
desde el azul del cielo,
las estrellas celosas
nos mirarán pasar.
Y un rayo misterioso
hara nido en tu pelo,
luciernaga curiosa que veras
que eres mi consuelo.

El día que me quieras
no habra más que armonía.
Será clara la aurora
y alegre el manantial.
Traerá quieta la brisa
rumor de melodía.
Y nos daran las fuentes
su canto de cristal.

El día que me quieras
endulzara sus cuerdas
el pajaro cantor.
Florecerá la vida
no existira el dolor


Alfredo Lepera

De corar de vergonha

A revista "Focus" sai amanhã, mas já se sabe o que lá está. Vejamos então:

Alguém, que não foi até à data dado como incapaz ou inimputável, confessa ter feito em 1980 um engenho explosivo;
Diz que esse engenho se destinava a “pregar um susto” ao candidato presidencial da altura – General Soares Carneiro;
Diz que o dito engenho foi alterado e, afinal, na noite de 4 de Dezembro de 1980 explode o cessna onde o susto era suposto ter lugar.

Mas está tudo doido?!

Confesso que me faltam as palavras para tamanha estupefacção.

A revista sai amanhã, de facto. O “entrevistado” foi hoje ouvido no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, ao que parece, no âmbito de um processo distinto de todos os factos que descreve na entrevista.

Isto é, ou não é, uma confissão de um crime? Não há pelo menos indícios??! Espero pelas diligências do Ministério Público.

27 novembro, 2006

Num país a fingir # 10

O ensino superior é notícia em horário nobre. Até aqui nada de especial.
Mas o espanto vem de imediato: três institutos superiores públicos não tem dinheiro para pagar o subsídio de natal aos seus funcionários. São disso exemplo: o Instituto Superior de Economia e Gestão, o Instituto Superior Técnico e o Instituto Superior de Agronomia.

No Times de hoje #16

O New York Times traz hoje um artigo sobre as fortunas que se fazem a trabalhar em Wall street, que dá que pensar.

Não se trata apenas de gente que sempre se dedicou ao estudo dos mercados financeiros, como os gestores... o artigo fala especificamente de um médico que durante 10 anos se dedicou à profissão e à investigação e que há 10 anos começou a trabalhar como consultor de investimentos na área da medicina. De um salário anual que rondava os $150,000 em 1996 passou para uma verba que deverá ultrapassar os $20 milhões em 2006. Não admira que haja tanta gente a saltar da academia para a consultoria.

___________

"A decade into the practice of medicine, still striving to become “a well regarded physician-scientist,” Robert H. Glassman concluded that he was not making enough money. So he answered an ad in the New England Journal of Medicine from a business consulting firm hiring doctors.

And today, after moving on to Wall Street as an adviser on medical investments, he is a multimillionaire.

(...)
Just how far he had come from a doctor’s traditional upper-middle-class expectations struck home at the 20th reunion of his college class. By then he was working for Merrill Lynch and soon would become a managing director of health care investment banking.

'There were doctors at the reunion — very, very smart people,' Dr. Glassman recalled in a recent interview. 'They went to the top programs, they remained true to their ethics and really had very pure goals. And then they went to the 20th-year reunion and saw that somebody else who was 10 times less smart was making much more money.'

(...)

Something similar is happening in academia, where newly minted Ph.D.’s migrate from teaching or research to more lucrative fields. Similarly, many business school graduates shun careers as experts in, say, manufacturing or consumer products for much higher pay on Wall Street.

(...)

Indeed, doctors have become so interested in the business side of medicine that more than 40 medical schools have added, over the last 20 years, an optional fifth year of schooling for those who want to earn an M.B.A. degree as well as an M.D. Some go directly to Wall Street or into health care management without ever practicing medicine."

26 novembro, 2006

No dia em que ficámos sem ele


Faz-me o favor...

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor - muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny

A arte de ser feliz


Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crianças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refelectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

25 novembro, 2006

Parece que estou a ouvir #7

Só à noitinha

Tive-lhe amor, gemi de dor, de dor violenta
Chorei sofri, e até por si, fui ciumenta
Mas todo o mal, tem um final, passa depressa
E hoje você, não sei porquê, já não me interessa

Bendita a hora, que o esqueci, por ser ingrato
E deitei fora, as cinzas do seu retrato
Desde esse dia, sou feliz sinceramente
Tenho alegria, p'ra cantar e andar contente
Só à noitinha, quando me chega a saudade
Choro sózinha, p'ra chorar mais à vontade


Outra paixão no coração, sei que já sente;
Uma qualquer, que foi mulher, de toda gente,
Assim o quis, seja feliz como merece,
Porque o rancor, como o amor, também se esquece!


Frederico Valério
_______________

É difícil arranjar letra mais portuguesa: a melancolia, a dor, o rancor, a raiva, o ciúme, o despeito, a tristeza, a indiferença e o consolo... está tudo lá. Fantástico!!

23 novembro, 2006

22 novembro, 2006

Ditto #18

"Great minds have purposes; others have wishes."

-- Washington Irving

21 novembro, 2006

Palavras lidas # 18


A Janela

Uma das janelas de Calvino, a com melhor vista para a rua, era tapada por duas cortinas que, no meio, quando se juntavam, podiam ser abotoadas. Uma das cortinas, a do lado direito, tinha botões e a outra, as respectivas casas.
Calvino, para espreitar por essa janela, tinha primeiro de desabotoar os sete botões, um a um. Depois sim, afastava com as mãos as cortinas e podia olhar, observar o mundo. No fim, depois de ver, puxava as cortinas para a frente da janela, e fechava cada um dos botões. Era uma janela de abotoar.
Quando de manhã abria a janela, desabotoando, com lentidão, os botões, sentia nos gestos a intensidade erótica de quem despe, com delicadeza, mas também com ansiedade, a camisa da amada.
Olhava depois da janela de uma outra forma. Como se o mundo não fosse uma coisa disponível a qualquer momento, mas sim algo que exigia dele, e dos seus dedos, um conjunto de gestos minuciosos.
Daquela janela o mundo não era igual.

Gonçalo M. Tavares, in O Senhor Calvino, Caminho, 2005

Espantos #6

Quem um dia cantou "por você vou roubar os anéis de Saturno" certamente nunca viu esta espantosa fotografia da Noite Dourada de Saturno, com os seus brilhantes anéis :-)

20 novembro, 2006

Numa sala perto de mim # 17


Volver é uma história onde se mistura o amor e a mentira, a persistência e a resignação tudo isto numa família de mulheres, onde as mulheres são caracterizadas em três gerações. Apesar da seriedade do argumento, tem cenas hilariantes e, para não variar, Almodovar não desilude apesar de o primeiro impacto não ser o melhor!

Food to life

So are you to my thoughts as food to life,
Or as sweet-season'd showers are to the ground;
And for the peace of you I hold such strife
As 'twixt a miser and his wealth is found;
Now proud as an enjoyer and anon
Doubting the filching age will steal his treasure,
Now counting best to be with you alone,
Then better'd that the world may see my pleasure;
Sometime all full with feasting on your sight
And by and by clean starved for a look;
Possessing or pursuing no delight,
Save what is had or must from you be took.
Thus do I pine and surfeit day by day,
Or gluttoning on all, or all away.

William Shakespeare, Sonnet LXXV

19 novembro, 2006

Parece que estou a ouvir # 6


Smile though your heart is aching
Smile even though its breaking
When there are clouds in the sky, you'll get by
If you smile through your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
Youll see the sun come shining through for you

Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear may be ever so near
Thats the time you must keep on trying
Smile, whats the use of crying?
Youll find that life is still worthwhile
If you just smile

Thats the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
Youll find that life is still worthwhile
If you just smile

(Por Nat King Cole)

Espantos #5

Imagens (em formato alta definição) em directo da estação espacial internacional. Aconteceu na passada quarta feira, no placard do NASDAQ em plena Times Square.

18 novembro, 2006

Cada um tem o que merece


"Sobre a questão do tipo de líderes que temos, é muitas vezes difícil dizer se são as circunstâncias que criam os líderes ou se são os líderes que ficam à espera de explorarem uma determinada situação para demonstarem a sua grandeza. Cada país parece ter os líderes que merece. Quando olhamos para trás, falamos de gigantes e de grandes líderes, mas eram também tempos de considerável confusão. Espero que os nossos tempos também venham a produzir alguns desses grandes líderes."

Kofi Annan, hoje, em entrevista ao Expresso

Espantos #4

Que cara de espanto tem a menina de Didika, um fóssil de 3 anos que viveu na infância da humanidade (há cerca de 3,3 milhões de anos). O modelo da foto foi construído com base num crâneo e outros ossos, encontrados na Etiópia.

17 novembro, 2006

Só a rajada de vento

Só a rajada de vento
dá o som lírico
às pás do moinho.

Somente as coisas tocadas
pelo amor das outras
têm voz

(Fiama H. P. Brandão)

No Times de hoje #15

O New York Times de hoje traz não um, mas dois artigos assinalando a morte de Milton Friedman (nobel da economia 1976) ontem aos 94 anos. Ficam as frases que marcam não só Friedman como a Escola de Chicago que ajudou a fundar.
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"'Most economics departments are like country clubs,' said James J. Heckman, a Chicago faculty member and Nobel laureate. “But at Chicago you are only as good as your last paper.'"

"Someone walked into our lunchroom yesterday at the
University of Chicago and announced that Milton Friedman had died. Mr. Friedman spent his intellectual life here, so I started asking people here about him and what they remembered. It became clear that despite retiring almost 30 years ago (and despite being only 5-foot-3), he still casts a long shadow."

"Mr. Friedman loved to argue. They say he was the greatest debater in all of economics. As improbable as it sounds, given Mr. Friedman’s small frame and thick glasses, few who saw him would deny that he had an astounding amount of charisma. It probably explains why he was so successful on television. While being an academic powerhouse, he really could explain things clearly."

"Chicago remains a place with an intensity without precedent in the world of economics, where we seem to eat, drink and breathe economics*, and Mr. Friedman’s personality has much to do with that. He always wanted to engage in a debate on something (or, according to his detractors, to make a pronouncement about something)."

"Mr. Friedman’s legacy might mean laissez-faire politics to the outside world, but to economists — and especially Chicago economists — it is more about trying to understand how the world works and engaging in a debate about it."

"When we heard the news at the University of Chicago that he had died, we actually stopped arguing and were quiet for a moment. It was a most extraordinary event for Chicago economists. Each of us seemed to contemplate Mr. Friedman’s legacy for ourselves. After that bit of calm, the argument resumed. It was, perhaps, just what the old man would have wanted."
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* Once I heard from a visiting professor in Chicago (PhD from Chicago as well) that he would miss Chicago when his visiting professor term would come to an end... "elsewhere, people talk about the weather at luch!"

15 novembro, 2006

Ausência


The kiss, detail, Klimt

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

Tem a palavra o Sr. Presidente

"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"

A pergunta passou, rés vés ... não em Campo de Orique, mas no Ratton.

14 novembro, 2006

Espantos #3

Quando a sede aperta... foto daqui.

13 novembro, 2006

Quase Elegia


Ainda terás nome?
Esse que te dei, chama
ou asa, ainda te pertence?

Se tens ainda nome
por que não respondes?, por que não
te aproximas para respirar

comigo o mesmo sol, o mesmo riso?
Também a transparência,
claro rumor de tílias, morre

quando se morre?,
ou só morre a espessura dos dias,
o peso do ar?

Com as mãos, com os olhos, seja
com o que for, dentes ou sílabas,
escavarei o chão até romper

a água - para sempre acesa.


Eugénio de Andrade
(in Os lugares do lume)

Parece que estou a ouvir #5

Like a Rolling Stone
by Bob Dylan

Once upon a time you dressed so fine
You threw the bums a dime in your prime, didn't you?
People'd call, say, "Beware doll, you're bound to fall"
You thought they were all kiddin' you
You used to laugh about
Everybody that was hangin' out
Now you don't talk so loud
Now you don't seem so proud
About having to be scrounging for your next meal.

How does it feel
How does it feel
To be without a home
Like a complete unknown

Like a rolling stone?

You've gone to the finest school all right, Miss Lonely
But you know you only used to get juiced in it
And nobody has ever taught you how to live on the street
And now you find out you're gonna have to get used to it
You said you'd never compromise
With the mystery tramp, but now you realize
He's not selling any alibis
As you stare into the vacuum of his eyes
And ask him do you want to make a deal?

How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?

You never turned around to see the frowns on the
jugglers and the clowns
When they all come down and did tricks for you
You never understood that it ain't no good
You shouldn't let other people get your kicks for you
You used to ride on the chrome horse with your diplomat
Who carried on his shoulder a Siamese cat
Ain't it hard when you discover that
He really wasn't where it's at
After he took from you everything he could steal.

How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?

Princess on the steeple and all the pretty people
They're drinkin', thinkin' that they got it made
Exchanging all kinds of precious gifts and things
But you'd better lift your diamond ring,
you'd better pawn it babe
You used to be so amused

At Napoleon in rags and the language that he used
Go to him now, he calls you, you can't refuse
When you got nothing, you got nothing to lose
You're invisible now, you got no secrets to conceal.

How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?

_________________

E não parece... ouvi mesmo! Esta noite, Bob Dylan em concerto na Agganis Arena.

11 novembro, 2006

O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

10 novembro, 2006

No Times de hoje #14

Acerca da exposição de arte de Velázquez na National Gallery Londrina... fica a sublime descrição.
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"She reclines on her side, naked, back turned, glancing into a mirror. Pearly flesh sinks luxuriantly into a gray satin bedsheet; it had been a deep mauve, before the color faded, which accounts for the pinkish reflections still cast on her inner thigh, ankle and buttock.

Her expression is ambiguous, the features half cast in shadow, catching our eye but blurred by a dim light, by the old mirror and by all the soft, veiled edges in the picture. It’s the stripper principle: show less, leave more to the imagination. There isn’t a sexier image in art. Perfect beauty, Velázquez implies, eludes strict definition."
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Note: mauve (French form of Malva, "mallow") is a pale grayed pink-lilac color, one of many in the range of purples.

09 novembro, 2006

Ficava tão bem lá em casa # 18


Improvisation No. 23, Kandinsky

No Times de hoje #13

A história dos devolvidos klimts, terminou (até ver) ontem à noite com a venda dos quatro famosos quadros, entre outros, a leilão na Christie's. A noite rendeu $491 milhões, um máximo absoluto para a casa -- o anterior nível mais elevado de receita tinha sido atingido em Maio de 1990 com $269 milhões.

Vem tudo
hoje no New York Times.
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"When “Portrait of Adele Bloch-Bauer II,” a 1912 portrait of Mrs. Bloch-Bauer in fashionable street clothes and a wide-brimmed hat, came up for sale, four telephone bidders tenaciously went for the painting, which was expected to sell for $40 million to $60 million. Mr. Burge carefully proceeded in $500,000 increments. When the price rose to $74 million and the competition was down to two bidders, Guy Bennett, head of Christie’s Impressionist and modern art department in New York, dramatically raised his hand and began bidding aggressively for an anonymous client on the telephone. Mr. Bennett’s buyer won, paying $87.9 million, a record for the artist. The salesroom burst into applause.

(...)

The three other Klimts, all landscapes, also brought strong prices. Five bidders went for “Birch Forest” (1903), one of the artist’s few woodland scenes, depicting an autumn scene of fallen leaves. Another telephone bidder finally paid $40.3 million, well above its high estimate of $30 million. “Houses at Unterach on the Attersee” (1916), a view of a resort town in the Austrian countryside that was estimated at $18 million to $25 million, sold for $31 million to an unidentified couple sitting in the front of the salesroom. Another telephone duel was waged for “Apple Tree I” (1912), a richly colored canvas that sold for $33 million, far above its estimate of $15 million to $25 million.

(Final prices include Christie’s commission: 20 percent of the first $100,000 and 12 percent of the rest. Estimates do not reflect the commissions.)"

08 novembro, 2006

Soneto do cativo


Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção;

o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou não dirão;

se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encantamento e de desprezo;

não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!

David Mourão-Ferreira

No Times de hoje #12

O NYT de hoje traz um artigo sobre os leilões de Outono e os altos preços que atingem. Em particular fala do leilão de ontem na Sotheby's com a venda de cézanes, matisses e outros, que renderam à casa $238.6 milhões.

Vêm-me à cabeça os klimts, o pollock e ainda uma frase do filme The Inside Man (O Infiltrado) "When there's blood on the streets, buy a property" (quoting Rothschild).

The price (the difference between the money Sotheby's made last night and what it would have made if there was a war in NYC) of not having blood on the streets is quite high, but it's surely worth it... how beautiful it is to see the price of art skyrocket!!

07 novembro, 2006

Ficava tão bem lá em casa #17


Serpentes de Água II, Gustav Klimt

06 novembro, 2006

Contigo


¿Mi tierra?
Mi tierra eres tú.

¿Mi gente?
Mi gente eres tú.

El destierro y la muerte
para mi están adonde
no estés tú.

¿Y mi vida?
Dime, mi vida,
¿qué es, si no eres tú?

Luis Cernuda

Ditto #17

"The optimist sees opportunity in every danger, the pessimist sees danger in every opportunity."

-- Winston Churchill

05 novembro, 2006

É castigo?

Cores de Outono # 5

O Inverno pode ter cores mais vivas devido ao contraste da neve nos lindos dias de sol. A Primavera tem cores mais alegres... mas o Outono tem mais tons, especialmente quando se sai à rua entre as 4 e as 5 da tarde altura em que o sol começa a caír e a dourar as folhas que ainda se mostram nas árvores. A temperatura? Nada menos que um dia frio de Inverno em Portugal: temperaturas que não sobem acima dos 7-8 graus centigrados e que baixam para os zero fazendo camadas finas de gelo nas poças de água... daqui para diante já não volta atrás!

04 novembro, 2006

Sono


Disse-me o nome nos olhos fechados, leu
a palavra nos lábios que a não
disseram, abriu a mão que procurava
no labirinto dos lençóis.

Ficou o nome no mármore da tarde,
ficou a palavra na concha dos ouvidos,
ficou a mão que a sua mão encontrou
num ramo solto da memória.

E ao dizer o seu nome abro
os olhos que a acordaram do sono,
roubo-lhe dos lábios a palavra

que não disse, aponto-lhe com a mão
a saída do labirinto, corto com a manhã
o ramo em que a noite floriu.

Nuno Júdice, Aqui

Foi neste dia # 53 (1995)

Faz hoje 11 anos que Yitzhak Rabin foi assassinado por um radical judeu em Tel Aviv no final de um comício festa para a promoção dos acordos de Oslo (que iniciariam o processo de criação de um governo interino e autónomo Palestino).

A sua morte inesperada foi um choque para Israel e para o mundo. A imprensa viria a realçadar as suas últimas palavras (cantadas) da letra da canção Shir Lashalom (tradução literal "Canção para a Paz"). Como a não sabia de cor, lia de um papel que guardou no bolso pouco antes de sair do palco para o parque de estacionamento onde foi abatido. A foto do papel manchado de sangue é ainda hoje a imagem que ficou do brutal assasinio.

03 novembro, 2006

Ainda a propósito dos klimts

Especula-se que o pollock “No. 5, 1948” foi vendido recentemente por $140 milhões de dólares. A confirmar-se o preço é um record absoluto, batendo a venda do klimt “Adele Bloch-Bauer I” por $135 milhões em Agosto. Entretanto a criatividade pollockiana pode criar asas aqui :-)

02 novembro, 2006

Coisas que não mudam # 5

Embora não concorde, via de regra, com os actos referendários não me encontro num dilema a ser dirimido no primeiro trimestre do ano que vem ...

Mas comecemos pelo início: os Governos em países democráticos como o nosso nascem de eleições livres. Os cidadãos, tendo adquirido já há uns anos, não muitos é certo, o direito de voto universal devem exercê-lo em consciência e com pleno esclarecimento dos programas eleitorais que lhe são submetidos!! Sendo um programa sufragado por uma maioria da população (deixemos de lado a maioria que nos últimos anos tem ficado em casa ou vai à praia), a tomada de posse do Governo é o primeiro dia de governação!! Ah pois... então não foi para isso que se submeteram a sufrágio?!

Vamos lá ver: o referendo não é um acto de”democraticidade” reforçado. O referendo é deixar na mão dos eleitores a possibilidade de legislar!! Quando isso acontece a emoção muitas vezes sobrepõe-se à razão e quando a falta de debate sério e esclarecedor domina a comunicação social em horário nobre, temos o cenário perfeito: metade da população que diz votar "sim" por causa "do direito à barriga" e a outra metade que diz votar "não" para que se não matem inocentes!!

Não estou perante um dilema, mas acredito que quem está não tenha tarefa fácil pela frente...lembro-me bem, foi assim há oito anos.

01 novembro, 2006

No Times de hoje #11

Em dia de todos os santos, vem hoje um artigo sobre a Madre Théodore Guérin, americana, que foi declarada santa pelo papa no mês passado. Viveu e trabalhou numa zona rural do estado de Indiana em meados do século XIX onde fundou a ordem das Irmãs de Providence of St. Mary-of-the-Woods, que deram origem a várias escolas e uma universidade na região. Mas nem tudo foram rosas: “At the time, the idea of an independent woman deciding where and when to open schools offended Célestine de la Hailandière, the Catholic bishop of Vincennes, Ind. In 1844, when Mother Guérin was away from her convent raising money, the bishop ordered her congregation to elect a new superior, in a bid to eject her from the very order of nuns that she had founded.”
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Mães no mercado de trabalho que aproveitam as viagens de negócios como mini-férias da vida de todos os dias. Não é o resultado que me surpreende, mas a perspectiva :-) fica a breve citação: "'I can go home and deal with two screaming 6-year-old twins and a grumpy preteen,' she said. 'Or I can go to the Four Seasons in Mexico City and drink Cognac in the bathtub.'"

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Por último a notícia de um óbito – Pieter Willem Botha, ex-Primeiro Ministro de África do Sul e acérrimo defensor do Apartheid. Ora aí está um exemplo de alguém que nunca pagou por aquilo que conscientemente fez. Em 1998 foi julgado à revelia (porque se recusou a comparecer em tribunal) mas a sentença veio a ser revogada. Provavelmente argumentaram que estava velho, caduco... talvez senil.